22 Julho 2016

 

Escolas Amigas dos Direitos Humanos

As Escolas Amigas dos Direitos Humanos (EADH) estão a crescer e a dar exemplos cada vez mais sólidos do conhecimento e participação ativa das instituições de ensino na formação em direitos humanos. A Amnistia Internacional, que desenvolve este projeto, juntou de novo, no final de mais um ano letivo, professores das seis escolas participantes para fazer balanço e lançar os novos desafios. A coordenadora das EADH, Luísa Marques, reporta aqui como foi o encontro.

“A escola está a crescer, está a andar, está a aprender”, foi assim que Isabel Tavares, uma das participantes no III Encontro de Professores Coordenadores do projeto Escolas Amigas dos Direitos Humanos (EADH) descreveu a participação da sua escola no ano letivo que agora terminou. E esta frase podia também refletir o sentido geral de mais um ano de balanço do projeto, levado a cabo no dia 15 de julho pela Amnistia Internacional em conjunto com as seis escolas que aceitaram o desafio de se transformarem em instituições de ensino que educam para os direitos humanos.

O Encontro de Professores é uma iniciativa anual onde se procura fazer o balanço das atividades do ano, partilhar os sucessos e boas práticas mas também as dificuldades e obstáculos que as escolas enfrentam na concretização do projeto EADH. No final do terceiro ano, temos razões para sermos otimistas em relação às mudanças que pode gerar.

Os alunos como motor do projeto

“Este ano muitas das atividades já foram propostas pelos próprios alunos (…) [estas atividades] começam a fazer parte da ‘pele’ da escola”, frisa Rui Correia, da Escola Básica e Secundária Gama Barros, no Cacém, que identifica a principal mudança com o alargamento da participação nas iniciativas de direitos humanos. “A participação tem sido mais abrangente que no [ano] anterior”. Quando pedimos que destaque algumas das atividades mais significativas para a escola não tem dúvidas em identificar como das mais importantes as ações de solidariedade com Paris (a propósito dos atentados de 13 de novembro de 2015, que coincidiram com o dia de chegada do encontro internacional do projeto Stop Bullying), pela mobilização extraordinária de alunos e professores. Também a visita de estudo a Peniche foi um momento marcante pois permitiu o intercâmbio com outras escolas.

Esse intercâmbio e os momentos de partilha foram, aliás, destacados como fatores essenciais para o envolvimento da comunidade educativa e, em particular, dos alunos, no projeto. O Encontro Nacional de jovens que decorreu em outubro de 2015 em Vila Franca de Xira foi um dos momentos mais apreciados por praticamente todas as escolas. “Em termos de motivação dos alunos e para que eles próprios se tornem motores, o encontro nacional (…) foi muito importante (…), criam-se laços de empatia que depois são muito importantes para que as coisas funcionem” avalia Sara Diogo, da Escola EB 2,3/S Pedro Ferreiro, de Ferreira do Zêzere.

A mesma motivação se destaca na Escola Secundária Prof. Reynaldo dos Santos, de Vila Franca de Xira. A propósito da realização da Maratona de Cartas, Marília Santos refere que “na escola tem sempre grande impacto”. “Os alunos já estão de tal maneira motivados que percorrem as turmas todas explicando os casos da Maratona e mobilizando os colegas a participarem”, descreve a professora. Esta “motivação” permitiu recolher 9 342 assinaturas, que se juntaram às das outras escolas resultando em 22 997 apelos recolhidos só nas EADH.

Maior participação na vida da escola

“Este projeto permitiu que os alunos se sentissem parte da escola”, sublinha Maria do Céu Pires, professora na Escola Secundária Rainha Santa Isabel, em Estremoz. Numa avaliação internacional do projeto feita recentemente esta é também uma das conclusões principais: o projeto influencia positivamente a participação nos processos de decisão. E em Portugal começa a ser visível este impacto, quer através da participação dos alunos nos grupos de trabalho de concretização do projeto, quer no seu interesse crescente pelas atividades e na liderança de muitas delas.

Visibilidade externa

“Quando a Câmara [Municipal] quer alguma coisa sobre direitos humanos, fala com a nossa diretora”. Cláudia Proença, da Escola Secundária Dr. Serafim Leite, em São João da Madeira, refere assim o impacto junto da comunidade circundante. No seguimento de diversas atividades sobre direitos humanos realizadas na escola, com particular enfoque na questão dos refugiados, a escola foi a escolha natural para ser protagonista de um vídeo realizado pela autarquia para a Cimeira Ibero-americana sobre Educação.

Refugiados e bullying

A nível temático foram sem dúvida os assuntos a que as escolas dedicaram particular atenção. A dramática situação dos refugiados foi alvo de inúmeras atividades nas seis escolas que integram o projeto EADH: as simulações das “Cimeiras de chefes de Estado: Refugiados: Que soluções?”, realizadas em todas as escolas, permitiram o desenvolvimento de múltiplas competências, mas acima de tudo promoveram a capacidade dos alunos se colocarem no lugar do outro; os testemunhos reais de refugiados sírios foram também presença em algumas escolas (Ferreira do Zêzere e São João da Madeira) permitindo aos alunos “mudarem radicalmente a sua posição face aos refugiados”; exposições, trabalhos de alunos e ações de fotos para as redes sociais foram outras formas encontradas para sensibilizar a comunidade educativa para a preocupante realidade (Cacém, Levante da Maia, Estremoz e Vila Franca de Xira).

O bullying e a discriminação foram também temas presentes durante todo o ano letivo, fruto do projeto Stop Bullying, que se encontra no segundo e último ano de execução. Aqui o trabalho foi intenso, com as escolas a construírem uma carta de comportamentos que espelhe os princípios dos direitos humanos, a desenvolverem um sistema de monitorização de situações de bullying e a analisarem práticas e regulamentos para que este fenómeno seja combatido de forma cada vez mais eficaz. Trabalho que ficará concluído no início do próximo ano letivo.

No entanto, muito do seu impacto já é visível atualmente nas seis escolas que integram o projeto EADH: as paredes das escolas têm agoracartazes com fotos dos alunos e professores alertando para a necessidade de prevenir e combater o bullying – iniciativa que fechou uma intensa semana de atividades de sensibilização contra essa forma de agressão e humilhação discriminatória, e que envolveu mais de 800 pessoas.

O maior conhecimento sobre o bullying é, aliás, uma das mudanças apontadas por todas as escolas: “Havia situações de bullying silenciadas que vieram ao nosso conhecimento”, refere Delfina Correia, da Escola Básica e Secundária de Levante da Maia.

 

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