13 Abril 2015

A tão esperada quinta temporada de “A Guerra dos Tronos” começa esta segunda-feira, 13 de abril, em Portugal. Anna Neistat, diretora de Investigação da Amnistia Internacional, apresenta cinco situações em que a realidade pode ser mais cruel do que a ficção.

Exibida em 170 países, a série choca espetadores e causa controvérsia pela violência explícita, especialmente contra as mulheres. Porém, muitos aspetos do que se passa hoje na vida real em vários países do mundo são piores do que os da terra mística de Westeros.

[Alerta de spoilers: são aqui reveladas informações sobre a segunda temporada]

1. Execuções

“A Guerra dos Tronos” começa com o Lorde do Norte, Ned Stark, a executar um desertor. E como nenhum personagem está a salvo na história, sete episódios depois ele próprio é decapitado pelo déspota Rei Joffrey.

Apesar das inúmeras execuções, Westeros não é nada comparado com as 2.466 pessoas condenadas à morte que a Amnistia Internacional documentou em todo o mundo em 2014, 28 por cento mais do que em 2013. Este aumento brusco deve-se sobretudo ao Egito e à Nigéria, apesar de o maior número de execuções ocorrer na China. Os métodos de execução usados em todo o mundo incluem injeção letal e enforcamento, e a decapitação ainda é aplicada na Arábia Saudita.

Ler mais no relatório da Amnistia Internacional sobre pena de morte em 2014.

Assine a petição pelo iraniano Saman Naseem, condenado à morte enquanto menor de idade.

2. Tortura

A maioria dos exemplos de tratamentos cruéis, desumanos e degradantes em “A Guerra dos Tronos” podia ter sido inspirada na vida real. Em 2014, a Amnistia Internacional documentou várias práticas de tortura que remetem para as cenas de tortura de Theon Greyjoy na segunda temporada: remoção de unhas (na Nigéria), simulação de execuções (México) ou colocar as vítimas nuas e prender e puxar os seus genitais com uma corda (Filipinas).

Em 2014, a Amnistia Internacional alertou para uma crise global da tortura. Houve relatos de casos de tortura e outros maus-tratos em 141 países do mundo nos últimos cinco anos. Estas vão de espancamentos e violações ao uso de cães para intimidar as vítimas.

As cenas de tortura da série podem ter tocado numa ferida. Um estudo realizado pela Amnistia Internacional revela que 44 por cento dos inquiridos temem ficar em risco de sofrer tortura caso sejam detidos nos seus países.

3. Casamentos forçados e outras formas de violência contra as mulheres

“A Guerra dos Tronos” é criticada pela forma como representa as mulheres e pela violência sexual. As mulheres são violadas, forçadas a serem escravas sexuais ou são sujeitas a outras formas de violência baseadas no sexo. Algumas das protagonistas principais são vendidas ou forçadas a casar. Logo no primeiro episódio, o irmão de Daenerys Targaryen força-a a casar-se para alcançar os seus próprios objetivos.

Os direitos das mulheres não estão muito melhor no mundo real. A violência contra as mulheres continua a ser comum nos conflitos violentos, mas não ocorre só nestas situações. Na Argélia e na Tunísia, a legislação permite que um homem acusado de violação não seja preso se casar com a mulher que violou – se ela tiver menos de 18 anos.

Desconhecemos a verdadeira quantidade de casamentos forçados, mas a plataforma GirlsNotBrides estima que 700 milhões de mulheres foram obrigadas a casar antes dos 18 anos. Um país onde continua a existir o casamento forçado é na Somália, apesar de se desconhecer ainda a real dimensão do problema. Em março, a Amnistia Internacional publicou depoimentos de arrepiar de raparigas e mulheres somalis com necessidades especiais forçadas a casarem-se com homens mais velhos e/ou abusivos. “Eu tinha 13 anos. A minha família decidiu dar-me a um homem, eu recusei-me e fugi. A minha família mandou homens fortes virem atrás de mim. Eles apanharam-me, amarraram-me os braços e as pernas e atiraram-me para o quarto com o homem. Ele bateu-me desde o primeiro dia”.

As mulheres e as raparigas em Westeros e em todo o mundo estão a dar luta. Na semana passada a Amnistia Internacional destacou mulheres afegãs defensoras dos direitos humanos, que continuam a trabalhar corajosamente apesar das ameaças, ataques e assassinatos.

Ler mais sobre a campanha da Amnistia Internacional “O Meu Corpo, os Meus Direitos”.

Assine o Manifesto que pede aos governos e outras entidades que não imponham restrições aos direitos sexuais e reprodutivos.

4. Vigilância

Nenhum personagem pode dizer o que quer se seja em Porto Real sem ser ouvido pelos espiões pagos pelos manipuladores políticos “Mindinho” ou Varys, cujos “passarinhos” contam as “histórias mais estranhas”.

Os espiões de hoje não têm “passarinhos”, mas têm, de facto, programas de vigilância em larga escala nos meios de comunicação virtuais e móveis, como o Dreamy Smurf, que a agência de serviços secretos britânica GCHQ usa para ativar telemóveis que estejam desligados com o propósito de os usar como dispositivos de escuta. Se os poderes dos governos para recolherem milhões de informações online por mês continuarem a não ser controlados, a Internet terá menos privacidade que Porto Real.

Ler mais sobre a campanha da Amnistia Internacional #UnfollowMe.

Assine a petição que pede o fim da vigilância e da partilha de dados de forma indiscriminada.

5. Armas químicas, crianças-soldados e outros crimes de guerra

O mundo medieval de “A Guerra dos Tronos” é uma zona de guerra brutal com ataques a civis, com“fogo-vivo” químico e exércitos de escravos compostos por crianças raptadas, já para não mencionar os dragões…

2014 foi um ano catastrófico para os civis em zonas de guerra, segundo o relatório anual da Amnistia Internacional. O relatório não registou o uso de dragões, mas destacou violações das leis de guerra em pelo menos 18 países.

Novas provas sobre o uso de armas químicas surgiram no mês passado. Testemunhas oculares na Síria contaram à Amnistia Internacional que foram expostas a ataques com gás de cloro, causando a morte pavorosa de uma família inteira, incluindo três crianças pequenas.

Não dpermita que a vida real suplante “A Guerra dos Tronos” no que diz respeito ao horror, à violência e à crueldade. Atue e defenda os direitos humanos em todo o mundo.

Este texto foi originalmente publicado no Huffington Post.

 

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