9 Abril 2014

As estimadas 350 mil pessoas de comunidades ciganas que vivem na Grécia são alvo de discriminação e intolerância há muitas gerações. Segregação nas escolas, desalojamentos forçados, raides discriminatórios por parte da polícia e uma violência enraizada em motivos de ódio racial ensinou-lhes o que significa ser tratado com desigualdade.

Os ataques racistas contra grupos minoritários na Grécia, como o são as comunidades ciganas, têm aumentado nos anos mais recentes neste país.

Os membros da comunidade cigana na vila de Etoliko, na Grécia ocidental, enfrentam desde 2012 alguns desses mais violentos ataques, com as casas a serem vandalizadas e incendiadas com cocktails Molotov. Muitas famílias partiram já, sem nenhuma outra escolha a não ser a de fugir.

Para Paraskevi Kokoni, de 36 anos e com sete filhos, a última gota de água deu-se em outubro de 2012, já depois de uma série de ataques levados a cabo por multidões contra os ciganos residentes na região. Paraskevi andava às compras com o filho de 11 anos e o sobrinho Kostas, de 23 anos, que sofre de doença mental, quando um grupo de homens os perseguiu na rua e os atacou brutalmente.

“Dois deles viraram-se para mim e o resto começou a esmurrar e pontapear o Kostas. Eu gritei por ajuda, mas ninguém nos acudiu. Agarrei no meu filho e fugi, mas eles continuaram a espancar o meu sobrinho que caira ao chão”, contou Paraskevi Kokoni à Amnistia Internacional.

Esta mulher testemunha ainda que correu a pedir socorro até à esquadra de polícia mais próxima, onde disse ao polícia de serviço que o seu sobrinho estava em perigo. Paraskevi relata que o agente lhe respondeu que não podia fazer nada para ajudar, pois tinha medo de ir ao local sozinho. Quando finalmente se juntaram mais polícias, já os atacantes tinham partido. No local ficara apenas Kostas, inconsciente, no chão. Ele e Paraskevi tiveram de ser assistidos no hospital, ambos apresentando cortes e ferimentos graves em resultado da agressão.

Paraskevi Kokoni sentiu então não ter outra escolha senão pegar nos filhos e abandonar a vila. “A polícia não nos protegeu. Deixámos Etoliko e mudámo-nos para Patra. Abandonámos a nossa casa. Os meus filhos não querem voltar para lá, têm medo. É a minha casa, mas também não quero regressar. Eu também tenho muito medo. Porque voltaria lá, para me matarem os filhos?”, desabafa.

Em novembro de 2013, três dos homens envolvidos naquele ataque foram formalmente acusados no crime de ofensas graves à integridade física e devem começar a ser julgados em breve.

A história de Paraskevi Kokoni não é única em Etoliko. Em janeiro de 2013, a hostilidade contra as comunidades ciganas naquela vila teve novo incidente de grave violência quando uma multidão de cerca de 70 pessoas atacou uma zona habitacional com cocktails Molotov, pedras e paus: seis casas e quatro carros foram incendiados ou destruídos, sem que a polícia fizesse mais do que dizer aos atacantes para pararem, segundo testemunhos de membros da comunidade.

Organizações de direitos humanos como a Amnistia Internacional creem que este falhanço redondo por parte da polícia grega em pôr fim aos ataques contra grupos vulneráveis, como migrantes e comunidades ciganas – e de levar os responsáveis à justiça –, tem contribuído para o aumento do número e da violência destes ataques racistas.

Todo o relatório da investigação da Amnistia Internacional à situação das comunidades ciganas por toda a Europa, aqui: http://bit.ly/1hbigjL

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