3 Setembro 2014

A decapitação do jornalista norte-americano Steven Sotloff por combatentes do Estado Islâmico é o mais recente de uma série de crimes de guerra cometidos pelo grupo armado jihadista por todo o Iraque e Síria, frisa a Amnistia Internacional.

O vídeo que foi postado online na terça-feira, 2 de setembro, pelo grupo que se auto intitula Estado Islâmico (conhecido também como Estado Islâmico do Iraque e do Levante), mostra Steven Sotloff (na foto, de colete azul) – raptado na Síria em agosto de 2013 – a ser morto da mesma forma que o seu conterrâneo e também jornalista James Foley no mês passado.

“A execução de Steven Sotloff é um crime de guerra, na esteira de outras chocantes atrocidades cometidas pelo Estado Islâmico nos meses recentes”, avalia o diretor do Programa Médio Oriente e Norte de África da Amnistia Internacional, Philip Luther. “E o mundo está certo em condenar as mortes brutais de Steven Sotloff e de James Foley”, prossegue o perito, sublinhando que estas “execuções injustificáveis são a ponta do icebergue dos abusos com que o Estado Islâmico varre a Síria e o Iraque”.

As imagens da morte de Sotloff, que as autoridades norte-americanas validaram já como “autênticas”, seguem-se à vaga de execuções sumárias de centenas de pessoas, se não mesmo milhares, naquela região este ano às mãos do grupo jihadista. As vítimas desta campanha de violência incluem membros de comunidades étnicas e religiosas minoritárias, soldados e polícias, e outros jornalistas.

Um grupo de cerca de 150 soldados do Exército sírio capturados por guerrilheiros foram mortos a 24 de agosto passado depois de o Estado Islâmico ganhar o controlo da base área de Tabqa, no Nordeste da Síria.

Dezenas de outros cidadãos sírios, incluindo crianças, foram executados pelo Estado Islâmico em locais públicos ainda este ano, acusados pelos radicais de uma série de “crimes” que vão contra os princípios do califado que querem instaurar na região.

Já no Iraque, várias centenas de soldados foram executados sumariamente em Tikrit logo após o Estado Islâmico capturar aquela cidade em junho passado.

O grupo jihadista tem também levado a cabo ao longo de agosto execuções sumárias de membros das minorias étnicas e religiosas no Iraque, incluindo centenas de pessoas nas vilas das comunidades yazidis (uma das mais antigas minorias étnico-religiosas curda do Iraque que professa uma religião pré-islâmica) na montanha do Sinjar – em alguns casos execuções maciças.

“As mortes dos dois jornalistas norte-americanos nas semanas recentes aumenta a urgência com que é preciso conseguir a libertação daqueles que continuam reféns do Estado Islâmico”, frisa Philip Luther.

O diretor do Programa Médio Oriente e Norte de África da Amnistia Internacional insta também a que sejam feitos “esforços para obter justiça para as centenas de outras vítimas dos crimes do Estado Islâmico e para proteger os grupos minoritários que permanecem em maior risco dos ataques”.

Um briefing da Amnistia Internacional, divulgado na terça-feira, 2 de setembro, demonstra, a partir da recolha de provas e testemunhos no Norte do Iraque, que o Estado Islâmico tem em marcha uma campanha sistemática de limpeza étnica naquela região. Este relatório, fruto de uma missão de meses, documenta uma série de crimes de guerra que tomaram por alvo em particular as minorias étnicas e religiosas e em que se incluem execuções sumárias maciças e raptos.

As minorias étnicas e religiosas visadas nesta campanha brutal no Norte do Iraque são, além dos yazidis, cristãos assírios, xiitas turcomanos, xiitas shabak, kakais e sabean mandaeans. Muitos árabes e muçulmanos sunitas que se opõem ou se crê que se opõem ao Estado Islâmico têm também sido alvo de aparentes ataques de vingança por parte do grupo armado.

 

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