29 Maio 2014

A deplorável condenação maciça de 55 pessoas em julgamentos feitos num estádio na província chinesa de Xinjiang, na região autónoma uigur do país, não é solução para os receios públicos sobre segurança, sustenta a Amnistia Internacional.

Um total de 55 pessoas, que se crê serem na maioria da comunidade muçulmana uigur, foram condenadas em acusações de terrorismo, separatismo e homicídio. Três deles receberam sentenças de pena de morte.

“Aqueles que são responsáveis pelos ataques violentos recentes na China mostraram um total desprezo pela vida humana e têm de ser julgados. Mas a realização de julgamentos apressados não trata nenhuma justiça às vítimas. Condenar pessoas à pressa em julgamentos injustos irá apenas exacerbar as tensões na região”, defende o investigador da Amnistia Internacional perito em China, William Nee.

Os julgamentos e prontas leituras de sentença ocorreram esta quarta-feira, 28 de maio, num estádio daquela província no nordeste da China, perante mais de sete mil pessoas nas bancadas, segundo foi descrito pelos media estatais do país.

Crê-se que todos os arguidos condenados estão em risco de serem torturados nas prisões. O líder do Partido Comunista Chinês em Xinjiang, Zhang Chunxian, declarou muito recentemente que todos os suspeitos de práticas criminosas nestes julgamentos deveriam ser “severamente punidos”.

“Com farsas como estas, as autoridades chinesas parecem estar mais preocupadas em cortejar os favores da opinião pública do que em aplicar a justiça. É muitíssimo improvável que os arguidos tenham tido julgamentos justos”, avalia ainda William Nee.

Estes “julgamentos-parada” surgiram na esteira de uma vaga de ataques e de um crescendo da tensão na Região Autónoma Uigur de Xinjiang. Só a 22 de maio morreram 31 pessoas e 90 outras ficaram feridas quando bombas foram atiradas de dois carros que circulava numa movimentada rua da capital da província, Urumqi.

O Governo chinês prometeu uma campanha de “reação dura” aos ataques. Na semana passada foi lançada uma operação antiterrorismo, com a mobilização de vastas colunas de forças antiterrorismo e equipamento militar para aquela cidade.

“As autoridades chinesas têm o deve de garantir a segurança pública, mas a resposta dada até agora apenas irá ter como resultados provável o escalar da tensão na região”, remata o perito da Amnistia Internacional.

As comunidades da etnia uigur na China enfrentam uma discriminação generalizada, desde o emprego à educação e à habitação, assim como marginalização política e restrições à liberdade religiosa.

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