2 Setembro 2015

 

Os três jornalistas da rede VICE News que foram detidos enquanto desempenhavam a sua atividade na Turquia têm de ser imediatamente libertos, a não ser que as autoridades do país consigam apresentar provas credíveis de que aqueles profissionais cometeram atos criminosos, insta a Amnistia Internacional.

Jake Hanrahan (na foto, ao centro) e Philip Pendlebury (à direita), ambos britânicos, e ainda Mohammed Ismael Rasool (à esquerda), tradutor e jornalista de cidadania iraquiana e a viver na Turquia, foram detidos por agentes da unidade policial antiterrorismo na noite de quinta-feira passada, 27 de agosto, em Diyarbakir, cidade no Sudeste da Turquia e de população predominantemente curda.

Responsáveis da VICE News contaram à Amnistia Internacional que estas detenções ocorreram quando os jornalistas estavam a filmar confrontos entre a polícia e jovens do pró-curdo Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

“Este é mais um exemplo de como as autoridades turcas estão a suprimir a atividade jornalística quando estão em causa histórias que as embaraçam. Têm de libertar os jornalistas prontamente”, sustenta o investigador da Amnistia Internacional perito em Turquia, Andrew Gardner. “Na noite de segunda-feira foi renovada a ordem de os três jornalistas continuarem detidos até ao julgamento sob a acusação de terem ‘cometido crime em nome de uma organização ilegal’. Estas detenções são um caso flagrante de punição da legítima atividade jornalística com recurso a leis antiterrorismo”, prossegue.

O investigador da organização de direitos humanos avalia ainda que “é totalmente apropriado que os jornalistas estivessem a reportar aquela importante história”. “A decisão de os deter foi errada, e as alegações de darem apoio ao Estado Islâmico são infundadas, ultrajantes e bizarras”, remata Andrew Gardner.

Fontes policiais em Diyabakir confirmaram à Amnistia Internacional que os jornalistas foram detidos sob suspeita de prestarem assistência ao grupo armado jihadista autodenominado Estado Islâmico (conhecido na Turquia como Daesh). A Amnistia Internacional ouviu também o advogado dos jornalistas da VICE News, o qual relatou que os quartos de hotel em que eles estavam hospedados foram alvo de buscas e todo o equipamento de filmagem e câmaras apreendido pela polícia.

A Turquia tem um registo sombrio de abuso das leis antiterrorismo com o propósito de reprimir a dissidência, tomando os jornalistas por alvo frequente. Frederike Geerdink, repórter internacional residente em Diyarbakir, foi visada este ano num processo infundado sob acusações de “fazer propaganda para uma organização terrorista”. Acabou por ser absolvida num tribunal local em abril passado, mas o caso está ainda pendente em recurso.

Os jornalistas na Turquia enfrentam cada vez maiores obstáculos quando estão a filmar ou a fazer de alguma outra forma a cobertura de notícias naquela região, conforme se tem vindo a intensificar a violência entre o PKK e as forças de segurança desde 20 de julho, pondo efetivamente fim a um cessar-fogo que durava há três anos e arrasando o frágil processo de paz.

 

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