2 Agosto 2016

O aumento registado de 103% no número de mortes causadas pela polícia na cidade do Rio de Janeiro entre abril e junho de 2016, comparado com igual período de 2015, compromete qualquer promessa de legado positivo dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, disse a Amnistia Internacional, a três dias da cerimónia de abertura.

Segundo o Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, a polícia matou 49 pessoas na cidade do Rio em junho de 2016, 40 em maio e 35 em abril – totalizando 124 vítimas em 90 dias, ou mais de uma pessoa morta por dia.

Desde 2009, quando o Rio se tornou a cidade-sede dos Jogos Olímpicos, a polícia matou mais de 2.600 pessoas na cidade.

“Precisamente quando se pensava que os níveis de brutalidade policial não poderiam ficar mais chocantes, aumentaram de forma alarmante. É lamentável, mas é como se o Brasil já tivesse perdido as Olimpíadas mesmo antes delas começarem. O crescente aumento das mortes causadas pela polícia compromete qualquer oportunidade de um legado olímpico positivo em matéria de segurança pública”, disse Atila Roque, diretor executivo da Amnistia Internacional Brasil.

“A sombra da morte paira sobre o Rio de Janeiro, mas parece que as autoridades só se preocupam com a beleza do Parque Olímpico. O tempo de promessas e discursos vazios acabou. As autoridades brasileiras devem adotar urgentemente medidas concretas para evitar novas violações dos direitos humanos nas operações de segurança pública e garantir que os responsáveis pelas violações sejam investigados e levados à justiça”.

“A ausência de clareza nos protocolos de segurança pública, em especial no que se refere à abordagem policial e uso da força letal pelos agentes de segurança publica leva o Brasil a repetir os erros do Mundial de Futebol de 2014. Naquela ocasião, os homicídios cometidos pela polícia aumentaram 40% no estado do Rio de Janeiro. Desde então, as autoridades pouco fizeram para mudar as estatísticas. Essa responsabilidade deve ser dividida também com o Ministério Público, órgão responsável pela monitorização da atividade policial e por levantar processos judiciais nos casos de mortes cometidos pela polícia”.

Hoje, a Amnistia Internacional também divulgou o primeiro relatório mensal da ferramenta colaborativa Fogo Cruzado. A aplicação, lançada a 5 de julho, reúne registos de tiroteios e violência armada enviados por telemóvel por pessoas que vivem na cidade do Rio de Janeiro.

Só em julho, foram recebidos, através da aplicação, notificações referentes a 756 tiroteios com indicação de 51 vítimas mortais. As notificações são publicadas no mapa colaborativo disponível no site. Em cerca de um mês, já foram realizados mais de 35 mil downloads gratuitos da aplicação. Desde o lançamento da aplicação, o Complexo do Alemão e o município de Caxias (Baixada Fluminense) relatam quase diariamente a ocorrência de disparos de armas de fogo. O Complexo da Maré também reporta continuadas situações de violência armada. Estas comunidades estão situadas entre o aeroporto internacional e locais onde serão realizadas competições olímpicas.

“A aplicação Fogo Cruzado transfere para um mapa a rotina da violência armada sofrida por milhares de pessoas todos os dias nas comunidades do Rio de Janeiro. Está na altura de haver uma mudança efetiva por parte das autoridades no sentido de abandonarem a lógica da guerra nas operações, onde os policias estão cada vez mais armados,  e abraçarem uma política de segurança pública que proteja todos”, disse Renata Neder, assessora de Direitos Humanos da Amnistia Internacional.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Tudo isso mostra como os governos no Brasil, bem como os organizadores dos Jogos Olímpicos, não cumpriram a promessa de uma cidade segura para todos como parte do legado dos Jogos Olímpicos Rio2016?.

No início de junho, a Amnistia Internacional publicou o relatório “A violência não faz parte desse jogo”, detalhando como um megaevento desportivo como os Jogos Olímpicos aumenta os riscos de violações de direitos humanos. A organização lançou uma petição global exigindo dos organizadores dos Jogos Olímpicos e das autoridades brasileiras medidas preventivas para evitar que as forças de segurança cometessem novas violações de direitos humanos. Na semana passada, mais de 120 mil assinaturas de mais de 15 países foram entregues ao Comité Organizador Local Rio 2016 reivindicando uma política de segurança pública que respeite e proteja os direitos humanos.

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