14 Maio 2009

Nos primeiros meses de 1989 os estudantes universitários de Pequim começaram a mostrar a sua insatisfação perante a corrupção dos responsáveis chineses, exigindo reformas políticas e económicas. As suas revindicações suscitaram um apoio público crescente e a pouco e pouco começaram a ter lugar manifestações por toda a China.
As autoridades não conseguiram deter este movimento e as tensões foram aumentando, principalmente em Pequim, até que em 20 de Maio foi imposta a lei marcial.

Na noite de 3 de Junho tropas fortemente armadas e centenas de tanques de guerra puseram-se em movimento em Pequim, para “limpar” os manifestantes pró-democracia. Muitos civis desarmados, incluindo crianças e idosos, foram mortos por disparos das tropas. Alguns eram meros curiosos que se encontravam nas ruas de acesso à Praça de Tiananmen, onde se concentravam os manifestantes. No dia 4 de Junho as tropas acabaram por controlar Pequim.

 Num relatório oficial divulgado no fim de Junho de 1989, as autoridades chinesas reconheciam que mais de 3.000 civis tinham sido feridos e que mais de 200, incluindo 36 estudantes, tinham morrido. Embora os números exactos sejam desconhecidos, há inúmeros indícios de que os dados oficiais são demasiadamente baixos.

 Imediatamente após a repressão militar começou uma caça a todos aqueles que podessem ter estado envolvidos nas manifestações. Muitos civis foram detidos, torturados e enviados para prisões após julgamentos injustos, sob a acusação de delitos “contra-revolucionários”. As famílias foram perseguidas passando a esconder que familiares seus tinham sido mortos ou estavam presos na sequência das manifestações pró-democracia. Embora já sejam toleradas as expressões de luto por parte das Mães de Tiananmen, dezenas de pessoas continuam detidas desde essa ocasião, muitos estão exilados.

Cada ano várias pessoas são detidas ou enviadas para Campos de Reeducação pelo Trabalho (detenção administrativa, sem julgamento) por tentarem assinalar publicamente o acontecimento. Um jornalista, Shi Tao, cumpre uma pena de 10 anos de prisão por ter enviado para os EUA, através da Yahoo, um resumo dum comunicado do Departamento Central de Propaganda da China com directivas sobre o modo como os jornalistas deveriam abordar o 15º aniversário da repressão na praça de Tiananmen. A Yahoo facultou a conta de utilizador ao Governo Chinês, o que constituiu uma das peças fundamentais da sua condenação em tribunal. 
 
Assine o apelo A AI está a promover a assinatura de um apelo dirigido ao Presidente da Comissão Permanente do Congresso Nacional Popular para que desencadeie um inquérito aberto e independente sobre os acontecimentos verificados em Junho de 1989. Assine o apelo A AI está a promover a assinatura de um apelo dirigido ao Presidente da Comissão Permanente do Congresso Nacional Popular para que desencadeie um inquérito aberto e independente sobre os acontecimentos verificados em Junho de 1989. Assine e divulgue.

Tradução do apelo a enviar à autoridades

Presidente da Comissão Permanente do
Congresso Nacional Popular
Wu Bangguo Weiyuanzhang

Senhor Presidente,

Há 20 anos, o Governo Chinês desencadeou em 3 e 4 de Junho uma operação militar contra manifestantes pacíficos que se encontravam na Praça Tiananmen e em seu redor, de que resultaram centenas de mortos e feridos. Reconhecendo que o governo Chinês fez significativos progressos desde então, particularmente nas áreas económica e dos direitos sociais e culturais, graves violações de direitos humanos como as ocorridas em Junho de 1989 não podem ficar sem resposta e deveriam ser reconhecidas se a China pretende pôr em prática os compromissos respeitantes aos direitos humanos que fez no recentemente divulgado Plano Nacional de Acção sobre Direitos Humanos.

Escrevo esta mensagem para instar a Comissão Permanente do Congresso Nacional Popular para que desencadeie um inquérito aberto e independente sobre os acontecimentos verificados em Junho de 1989. Continuar a calar as vozes que internamente apelam para que seja feita Justiça não se enquadra nos interesses de uma sociedade harmoniosa e não está de acordo com os objectivos estabelecidos no Plano de Acção do Governo Chinês.

Os poderes do Congresso Nacional Popular incluem a capacidade de criar as condições necessárias para a contabilização o reconhecimento público de todos aqueles que morreram, aqueles que foram presos e aqueles que estão ainda na prisão. Todos os que permanecem presos, muitos sob a acusação de crimes “contra a revolução” que foi removida do Código Criminal Chinês em 1997, deveriam ser imediatamente libertados, como primeiro passo na direcção da responsabilização.

A continuada perseguição de activistas e defensores de direitos humanos que reclamam por responsabilização deve cessar igualmente. Relativamente a este movimento referimos Zhang Shijun, que nesse tempo como soldado, participou na repressão militar em 1989 e que abertamente exigiu das autoridades uma reavaliação dos protestos pró democracia. De igual modo, tem sido recusado às Mães de Tiananmen o direito de livre e publicamente afirmarem o seu luto e enaltecerem as vítimas, com excepção de uma vez, em Maio de 2007, em que, sob vigilância policial, foi permitido a algumas Mães de Tiananmen efectuar uma breve cerimónia em sua memória, na Avenida Chang’an em Pequim. As promessas feitas de respeitar os direitos humanos devem ser colocadas em prática de forma consistente.

Solicito que encare o 20º aniversário do massacre dos manifestantes pró democracia como uma oportunidade para acolher estes apelos por justiça. O estabelecimento de um inquérito aberto e independente sobre os acontecimentos constituirá igualmente um importante passo na concretização do Plano Nacional de Acção sobre os Direitos Humanos. Saúdo o lançamento do Plano de Acção mas a sua confirmação depende da sua cabal realização. Através da concretização de políticas consistentes sobre o avanço dos direitos humanos, o governo Chinês reafirma o seu compromisso com os objectivos do Plano e desempenha um papel de importância crescente na promoção e protecção dos direitos humanos em todo o mundo.

Com os meus cumprimentos,

 

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