31 Maio 2017

O atentado à bomba na capital afegã, Cabul, que ceifou as vidas de pelo menos 80 pessoas e deixou feridas mais de 350, às primeiras horas da manhã desta quarta-feira, 31 de maio, é um ato horrível que mostra, uma vez mais, a insegurança e violência em que o país está imerso.

“Este atentado em Cabul é um ato horrível de violência e evoca dolorosamente o preço que os afegãos continuam a pagar num conflito em que grupos armados os tomam deliberadamente como alvos e em que o Governo fracassa em proteger a população”, nota a investigadora da Amnistia Internacional Horia Mosadiq.

A perita em Afeganistão da organização de direitos humanos frisa que “tem de ser feita uma investigação imediata, imparcial e eficaz que traga justiça às vítimas”. “Os civis não podem jamais, em nenhumas circunstâncias, ser alvos. E a tragédia que ocorreu hoje mostra com clareza que o conflito no Afeganistão não está a atenuar, mas sim a ampliar-se perigosamente, de uma forma que deve mesmo alarmar a comunidade internacional”.

“O Tribunal Penal Internacional tem de cumprir a promessa feita de investigar os crimes de guerra cometidos no país e responsabilizar os perpetradores”, remata Horia Mosadiq.

Primeiros três meses do ano com mais de 700 civis mortos

Desde a retirada das forças militares internacionais do Afeganistão, no final de 2014, o estado da segurança no país deteriorou-se gravemente, com um aumento na perda de vidas de civis e um cada vez mais intenso deslocamento interno das populações, com um número recorde atualmente de deslocados no país. Os talibãs controlam atualmente mais território afegão do que em 2001.

Em abril passado, a Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA) divulgou um relatório sobre o número de vítimas civis com dados que documentavam a morte de 715 pessoas e 1 466 feridos durante os primeiros três meses de 2017 apenas. A capital do país, Cabul, registava o mais elevado número de vítimas civis, seguida das províncias de Helmand, Kandahar e de Nangarhar. Este relatório foi publicado duas semanas apenas após os Estados Unidos terem usado a maior bomba não nuclear do mundo contra uma rede de grutas usada pelo grupo armado autoproclamado Estado Islâmico (EI) na província afegã de Nangarhar.

O número de ataques contra civis neste primeiro trimestre de 2017 e a manifesta incapacidade do Governo afegão em garantir proteção adequada à população mostram com toda a clareza que o Afeganistão continua a ser um país inseguro para fazer ali regressar refugiados e requerentes de asilo. “Numa altura em que os balanços de perdas de vidas de civis permanecem altos, com as mulheres e as crianças a sofrerem o pior da violência, é uma imprudência que os governos continuem a argumentar que o Afeganistão é um país seguro para mandar de volta os refugiados”, considerava Horia Mosadiq face às conclusões do relatório da UNAMA.

Centenas de milhares de retornos forçados desde 2016

Neste cenário e também durante os primeiros três meses deste ano, dezenas de milhares de refugiados afegãos foram forçados a regressar ao Afeganistão desde o Paquistão, Irão e muitos países da União Europeia (UE). E estima-se que centenas de milhares de pessoas foram sujeitas a retornos forçados para o Afeganistão em 2016.

“Por um lado, o Afeganistão é visto como um local onde grupos armados como o EI constituem um tão grave perigo que os Estados Unidos se sentiram compelidos a lançar a maior bomba não nuclear do mundo. E por outro lado, é dito às pessoas que fugiram do conflito no país que é seguro regressarem. Isto é a maior hipocrisia”, critica a investigadora da Amnistia Internacional.

O Governo afegão firmou uma série de acordos no ano passado com países da UE, aceitando a readmissão de pessoas cujos requerimentos de asilo fossem rejeitados. E, ao mesmo tempo, tem-se revelado incapaz de tomar as medidas necessárias para reduzir a violência contra os civis, mesmo com o aproximar dos meses quentes em que os combates se intensificam e é, por isso, provável que o número de vítimas aumente ainda mais.

“É verdadeiramente chocante que um Governo afegão que não consegue sequer manter a segurança na capital do país, tenha aceitado receber de volta refugiados que não será capaz de proteger”, remata Horia Mosadiq.

  • 50 milhões

    50 milhões

    Pela primeira vez desde a II Guerra Mundial, mais de 50 milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas. A maior parte devido a conflitos armados. (ACNUR, 2014)
  • 12,2 milhões

    12,2 milhões

    No final de 2014, 12,2 milhões de sírios – mais de metade da população do país – dependiam de ajuda humanitária. (UNOCHA)

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