27 Maio 2019

Um diálogo aberto, com diversos pontos de vista, mas apenas uma conclusão: só nós podemos mudar o nosso futuro. Esta foi a principal mensagem da segunda sessão do dia inaugural das Conferências do Estoril, que contou com a participação do diretor da Amnistia Internacional Portugal, Pedro Neto, no painel intitulado “Apoiar os novos changemakers”.

“Precisamos de cativar e chamar as pessoas. Nós, sociedade civil, também devemos marcar a agenda. Caminhar até ao parlamento com um cartaz é uma forma de fazer política”

Pedro Neto, diretor da Amnistia Internacional Portugal

“A juventude está a mobilizar-se. O que é preciso é trazê-la para o exercício formal da democracia. Precisamos de boas e bons líderes. Precisamos de cativar e chamar as pessoas. Nós, sociedade civil, também devemos marcar a agenda e caminhar até ao parlamento com um cartaz é uma forma de fazer política”, atirou Pedro Neto, esta segunda-feira, numa referência às formas de participação dos jovens.

Os níveis elevados da abstenção nas eleições europeias e os movimentos estudantis pelo clima marcaram o debate, desde cedo aberto aos cerca de 800 participantes – a maioria estudantes – que estavam no campus da Nova School of Business and Economics, em Carcavelos. Uma das questões mais realçadas foi a forma de os jovens fazerem ouvir a sua voz.

“As vossas angústias são as nossas. Ninguém é suficientemente ouvido”, constatou Pedro Neto, antes de acrescentar que a chave para alterar o rumo dos acontecimentos está no trabalho de equipa. “Quero envolvimento, criar redes. Na Amnistia Internacional, temos várias frentes. Uma é advocacy, mas nem sempre somos ouvidos. No entanto, quando levamos uma petição assinada por 70 mil pessoas, não somos só nós – a minha equipa. Somos 70 mil pessoas”, sublinhou.

“Temos de nos sentar à mesa, perceber o que queremos fazer, pedir medidas aos governos, apresentar soluções e confrontá-los. Não podemos sentir que estamos sozinhos”

Pedro Neto, diretor da Amnistia Internacional Portugal

“Nunca se esqueçam da resiliência. Não desistam, mesmo quando têm essa vontade. Uma voz pode não ser escutada, mas outras juntas falam ainda mais alto. Temos de nos sentar à mesa, perceber o que queremos fazer, pedir medidas aos governos, apresentar soluções e confrontá-los. Não podemos sentir que estamos sozinhos”, lembrou o diretor executivo da Amnistia Internacional.

O gestor do Programa de Cooperação da Juventude do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, Graziano Tullio, partilhou o palco e a visão com Pedro Neto. “O que nós fazemos é reagir aos temas que os outros colocam na agenda. Temos de criar a narrativa e não responder à que nos é oferecida”, afirmou.

Graziano Tullio referiu-se ainda ao “grande sucesso” dos partidos integrados na família política dos Verdes, nas eleições europeias, que atesta a importância de movimentos como as greves estudantis pelo clima. Para os jovens de Portugal, deixou um conselho: “Hoje, o presidente da República vai estar cá. Por que não organizarem um encontro com ele, num jantar? Juntem-se todos, esta tarde, e tentem fazer esse apelo”.

Educação é poder

Pedro Neto arrancou aplausos da plateia quando defendeu que é preciso “ter a coragem para devolver a pedagogia aos professores”, bem como o tempo para “pensarem e desenharem soluções com os alunos”. “Esse exercício simples deveria ser o nosso dia-a-dia”, indicou.

O diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal ainda aproveitou a sessão para recordar os tempos em que esteve em Angola, há 15 anos, a trabalhar num campo de antigos refugiados que regressaram ao país vindos da Zâmbia. Por lá, conheceu uma criança com pouco mais do que quatro anos. Falava inglês e um dialeto da sua comunidade. Mas, em cerca de um mês, começou a comunicar em português. “Não sei se foi à escola, se teve de trabalhar ainda em criança. Não sei. Mas sei que, aqui, somos uns privilegiados”, afirmou.

Educação é sinónimo de oportunidades. Não só de conhecimento, mas também de competências sociais e humanas. “Há muito espaço para as soft skills. Não devemos focar apenas a educação formal. E há muita atividade para metapolítica em todo o país. Queremos apoiá-la em toda a parte e criar ligações entre os jovens, através de diversas organizações, como a Amnistia Internacional”, exemplificou Graziano Tullio.

O papel das organizações

Nas Conferências do Estoril, lançámos o repto de dar as mãos para construir uma corrente de amor maior do que os 1609 km de muro prometidos pelo presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, durante a campanha eleitoral. Sob o lema #LoveNotWalls e #AmorNãoMuros, quem se une a esta causa representa 1 km. Por isso, precisamos de mais de 1609 pessoas a dar as mãos, na instalação que temos em Carcavelos ou através da página lovenotwalls.amnistia.pt.

“Deem as mãos, unam pessoas e ideias. Se fizermos isto, o mundo muda”

Pedro Neto, diretor da Amnistia Internacional Portugal

“Levem gente convosco para dar as mãos e fazer uma ponte. Peço isso. Deem as mãos, unam pessoas e ideias. Se fizermos isto, o mundo muda. Os líderes usam o discurso de demonizar alguém quando estas pessoas que não têm voz. Por isso querem construir muros. A Amnistia Internacional não quer isso”, notou Pedro Neto.

Este é um exemplo de como podemos atuar. Mas há outros, até de entidades como o Conselho da Europa que, por estes dias, tenta perceber o que os jovens querem mudar. “Temos espaço, mecanismos e dinheiro. Mas precisamos de saber como utilizá-los”, explicou Graziano Tullio.

“Parte do trabalho do Centro Norte-Sul é criar seminários onde, na mesma sala, juntamos jovens, representantes locais, parlamentares e membros do Conselho da Europa. Nesses momentos, tentamos criar momentos de partilha. Temos perguntas concretas, mas as respostas não são”, admitiu.

A bola parece estar em vários lados. O melhor mesmo é fazer com que passe por todos e, com trabalho de equipa, chegue ao destino final.

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