15 Julho 2013

Atila Roque, Diretor Executivo da Amnistia Internacional no Brasil, relata os abusos policiais que presenciou na passada quinta-feira, 11 de julho, junto ao Palácio de Guanabara, no Rio de Janeiro.

“Presenciei ontem a reação violenta e excessiva da polícia, ao dispersar manifestantes que protestavam em frente ao Palácio da Guanabara, sede do governo do estado do Rio de Janeiro. O protesto reuniu uma maioria absoluta de jovens, que exerciam o direito à liberdade de expressão, o direito a discordar e à revolta com as políticas do estado. Sem entrar no mérito das reivindicações, o direito ao protesto deve ser sempre garantido.

Por volta das 22h30, após tomar conhecimento dos abusos cometidos pela polícia, fui para a praça São Salvador, nas Laranjeiras, onde fica a sede da Amnistia Internacional no Brasil. Ao dirigir-me a um polícia, numa mota, pedindo que não atacasse as pessoas que estavam nas imediações da praça – depois de terem sido dispersadas da frente do palácio do governo –, ele lançou gás pimenta na minha direção, sem me chegar a atingir diretamente.

O que aconteceu comigo não foi nada comparado com o que vi acontecer com jovens, mulheres e idosos, atacados brutalmente com gás lacrimogéneo, gás pimenta e balas de borracha. Simplesmente por estarem reunidos na rua, sem oferecer qualquer tipo de ameaça ou cometer qualquer tipo de vandalismo.

Infelizmente, a polícia pareceu atuar, mais uma vez, movida apenas pelo desejo de reprimir os manifestantes, com o uso absolutamente abusivo e desproporcional da força, usando as armas menos letais, como gás pimenta e balas de borracha, em situações que não ofereciam qualquer risco para a ordem pública. O que vimos foi a polícia perseguir manifestantes pelas ruas dos bairros das Laranjeiras e do Flamengo, encurralando grupos de pessoas que se afastavam dos protestos, atacando hospitais e bares com balas de borracha e gás lacrimogéneo. Algo inacreditável e de difícil compreensão.

É preciso que as autoridades do estado, a começar pelo Governador e o Secretário de Segurança, interrompam este ciclo de violência e de repressão desproporcional. O comando precisa enviar uma clara mensagem de contenção da violência para a tropa, senão o risco de presenciarmos episódios ainda mais graves, à medida que os protestos se repetem, tende a crescer.

Não presenciei atos de vandalismo, embora tenha tomado conhecimento da ocorrência de situações de vandalização do património público e privado. Isso é lamentável, mas não justifica a resposta desproporcional e generalizada da polícia. O vandalismo de alguns não pode ter como resposta o vandalismo policial. Basta procurar na internet os vídeos com as imagens do que aconteceu nas proximidades do Palácio de Guanabara para constatar isso mesmo”.

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