15 Outubro 2021

 

  • Diretor executivo da Amnistia Reino Unido (RU) escreve a Richard Masters, propondo uma reunião para analisar novo Teste de Proprietários e Dirigentes e a sua compatibilidade com os direitos humanos
  • Iniciativa surge enquanto o governo conduz uma revisão da gestão empresarial no futebol inglês
  • ‘A forma como a Premier League aprovou este acordo levanta um conjunto de questões profundamente perturbadoras sobre “lavagem desportiva”’ – Sacha Deshmukh

 

A Amnistia Internacional escreveu ao diretor executivo da principal competição de futebol inglesa oferecendo-se para debater propostas de mudanças, em termos de direitos humanos, ao Teste de Proprietários e Dirigentes do futebol, após a controversa aquisição, na semana passada, do Newcastle United Football Club por um consórcio financiado pela Arábia Saudita.

O diretor executivo da Amnistia RU, Sacha Deshmukh, escreveu ao diretor executivo da Premier League, Richard Masters, sugerindo uma reunião com o advogado empresarial David Chivers QC que, no ano passado, participou na redação, em nome da Amnistia Internacional, de um novo Teste de Proprietários e Dirigentes em conformidade com os direitos humanos.

Este teste atualizado foi enviado à Premier League em julho passado, quando ainda parecia improvável o avanço do acordo Arábia Saudita-Newcastle. No entanto, a rápida conclusão do acordo, na semana passada, trouxe um novo ímpeto aos apelos, para que fossem atualizadas urgentemente as suas regras de aquisição.

A análise da Amnistia Internacional mostra que o atual Teste de Proprietários e Dirigentes tem inúmeras lacunas graves, não existindo qualquer proibição de propriedade para quem é cúmplice em atos de tortura, escravatura, tráfico de seres humanos ou mesmo em crimes de guerra. O documento Chivers – “Proposta de alteração às Regras do Teste de Proprietários e Dirigentes da Premier League para atender aos direitos humanos internacionais e à discriminação” – aponta que a expressão “direitos humanos” nem sequer integra o atual texto do teste.

A análise da Amnistia Internacional mostra que o atual Teste de Proprietários e Dirigentes tem inúmeras lacunas graves, não existindo qualquer proibição de propriedade para quem é cúmplice em atos de tortura, escravatura, tráfico de seres humanos ou mesmo em crimes de guerra.

O acordo da semana passada parece ter sido fundamentado em garantias de que o governo saudita não estaria envolvido na administração do Newcastle United, apesar do Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita – comprador maioritário do clube – ser diretamente dirigido e controlado pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman.

Sob a liderança de Mohammed bin Salman, a Arábia Saudita vivenciou uma enorme repressão de direitos humanos, com a detenção de críticos do governo e de defensores de direitos humanos – incluindo destacadas ativistas pelos direitos das mulheres – que foram torturados e levados a julgamento. Em outubro de 2018, o jornalista Jamal Khashoggi foi assassinado no consulado saudita em Istambul, um crime que a ONU disse ter sido “supervisionado, planeado e aprovado por altos funcionários” do Estado saudita.

Sob a liderança de Mohammed bin Salman, a Arábia Saudita vivenciou uma enorme repressão de direitos humanos, com a detenção de críticos do governo e de defensores de direitos humanos – incluindo destacadas ativistas pelos direitos das mulheres – que foram torturados e levados a julgamento.

Na semana passada, o trabalhador humanitário saudita Abdulrahman al-Sadhan foi condenado a uma sentença de 20 anos de prisão, por escrever tweets satíricos, criticando as autoridades, o que levou a uma reprimenda do Departamento de Estados dos EUA. Al-Sadhan recebeu a sua longa sentença em abril, depois de um julgamento injusto perante o notório Tribunal Penal Especializado do país. (Para mais informação sobre a situação de direitos humanos na Arábia Saudita, consultar aqui).

Sacha Deshmukh, diretor executivo da Amnistia Internacional RU, referiu:

“A forma como a Premier League aprovou este acordo levanta um conjunto de questões profundamente perturbadoras sobre “lavagem desportiva”, sobre os direitos humanos e o desporto, e sobre a integridade do futebol inglês. Como pode ser correto que o atual Teste de Proprietários e Dirigentes da Premier League não tenha nada sobre os direitos humanos?”

“Os eventos da semana passada conferiram ainda maior urgência à revisão governamental, em curso, da gestão do futebol inglês. O futebol é um desporto global num palco global – necessita urgentemente de atualizar as suas regras de propriedade para impedir que aqueles implicados em graves violações de direitos humanos possam fazer parte do futebol inglês, carregado de paixão e prestígio”.

“A forma como a Premier League aprovou este acordo levanta um conjunto de questões profundamente perturbadoras sobre “lavagem desportiva”, sobre os direitos humanos e o desporto, e sobre a integridade do futebol inglês”

Sacha Deshmukh

“Esperamos que Richard Masters veja que tornar as regras de propriedade no futebol compatíveis com os direitos humanos, só pode ser para o bem do jogo a longo prazo”, concluiu acha Deshmukh.

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