Diários de Angola
ESTRADAS SEM FIM

25/10/2019

Chegaram os dias ansiados de ir para as aldeias, conhecer de perto a realidade que os nossos colegas do escritório regional do sul de África documentaram e investigaram.

Ao olharmos brevemente para imagens de satélite da região, vemos muitas crateras, minas a céu aberto. Vemos as fazendas, enormes, bem delineadas com vedações a toda a volta e vedações dentro delas que delimitam as terras.
Enquanto uma zona da fazenda dá pasto, as outras estão de pousio para que o pasto cresça nelas.

Quando percorremos a estrada principal que sai do Lubango em direção ao sudeste, para Cunene, não são raras as placas e setas que indicam cortadas por caminhos de terra batida para minas. Dizem-nos que há uma empresa que é portuguesa e extraindo aqui, exporta para o Dubai.

Parece ser este o estigma, não só de Angola, mas de muitos outros países do mundo, em certa medida, talvez também se inclua aqui Portugal: países com recursos naturais que são explorados por privados, devidamente (ou não) licenciados, e os benefícios da exploração desses recursos naturais – nem sequer uma pequena parte – não chegam nunca à população desses países ou regiões.

Ao chegar às aldeias constato com evidência clara que do lucro do granito – entre outros recursos presentes na região que são retirados das suas terras -, nenhuma parte, nenhuma contrapartida social, chega a estas pessoas.
A maldição da riqueza parece ser esta sempre.

Ao longo do caminho, não são raras, também, as pontes, de rios que já não existem, por onde a água passou, mas já não passa.
A terra pede chuva. Até os catos que vamos vendo ao longo das picadas já secaram.

Pedro