Diários de Angola
PAGAR RENDA POR UMA TERRA QUE É DE TODAS AS PESSOAS

29/10/2019

Os conflitos têm sido permanentes e a injustiça parece escalar a cada ano que passa.

Contou-nos um dos pastores das comunidades, que tem o gado bastante longe com os seus filhos, que já não os vê há muitos meses porque já não consegue pagar a renda que o fazendeiro exige para que o gado possa comer em terras delimitadas pela fazenda.

Disse-nos que há dois anos, por cada cabeça de gado que pastasse em terra vedada, tinha de pagar 1 000 kwanzas por mês (o equivalente a 1,94€). Há um ano, o pagamento subiu para 1 500 kwanzas por mês (2,91€). Este ano o novo valor era de 2 000 kwanzas (3,88€) por mês. Se não tivessem como pagar, o fazendeiro ficaria com algumas cabeças de gado para ele.

E é por isso que este senhor tem os filhos longe, por não conseguir pagar ao fazendeiro aquilo que ele, com tanto e arbitrariamente, exige a quem tem tão pouco.

Para ficar com uma ideia mais correta destes valores para estas pessoas, uma mulher destas comunidades que carregue água à cabeça e em longa distância para a casa de alguém, ganha 50 kwanzas (0,097€). Uma mulher destas comunidades que limpar e cuidar da casa de alguém durante um dia, ganha 100 kwanzas (0,19€).

Outra história perturbadora que ouvimos foi a de um gerente de uma das fazendas que, para que os pastores não entrassem com o gado na fazenda, pôs fogo ao capim para que o gado não o comesse. O fogo ficou descontrolado e ardeu uma área enorme. Vimos ainda os troncos das árvores queimadas e até as estacas fortes que sustentam as vedações de arame farpado estavam ainda de pé, queimadas, já com os arames caídos.

Que sentido tem a destruição de um bem para que ninguém o possa usar?…

Pedro