25 Março 2020

Cinco anos depois do início da guerra no Iémen, a Amnistia Internacional alerta para os casos de dezenas de pessoas – incluindo jornalistas, académicos e membros da religião bahá’í – que desapareceram e foram detidas, principalmente devido ao seu ativismo em direitos humanos,  político ou outros tipos de crenças.

“As forças Houthi detiveram dezenas de pessoas, incluindo do grupo religioso bahá’í, sob acusações injustificadas e muitas foram condenadas à morte”

Lynn Maalouf, diretora de investigação para o Médio Oriente da Amnistia Internacional

“Os últimos cinco anos de conflito foram terreno fértil para violações graves contra detidos de ambos os lados, em alguns casos, equivalentes a crimes de guerra”, nota a diretora de investigação para o Médio Oriente da Amnistia Internacional, Lynn Maalouf.

“As forças Houthi detiveram dezenas de pessoas, incluindo do grupo religioso bahá’í, sob acusações injustificadas e muitas foram condenadas à morte. É absolutamente condenável que tantos membros da comunidade bahá’í continuem a correr o risco de serem executados”, completa a mesma responsável.

No ano passado, os Houthi e as suas forças aliadas intensificaram o uso de um tribunal antiterrorista para resolver disputas políticas, que, muitas vezes, produziu sentenças de morte sob falsas acusações de espionagem e de “ajuda a um país inimigo”. Atualmente, a Amnistia Internacional tem documentados 66 processos em andamento.

Já as forças dos Emirados Árabes Unidos, juntamente com os seus aliados no sul do Iémen, têm uma rede de locais secretos de detenção, onde foram torturadas dezenas de indivíduos, o que equivale a crimes de guerra.

Para marcar o quinto aniversário do conflito, a Amnistia Internacional vai lançar uma campanha focada nas detenções arbitrárias, em particular em casos que constituam violações da liberdade de expressão, associação e religião. A iniciativa terá a duração de um ano.

No mês passado, representantes das partes beligerantes concordaram com uma troca de prisioneiros – a maior que a ONU alguma vez patrocinou.

Civis em sofrimento

Desde 2015, todas as partes do conflito no Iémen cometeram violações repetidas e graves do direito internacional humanitário. Por um lado, as forças Houthi, que controlam vastas áreas do país, atacaram indiscriminadamente bairros residenciais e lançaram mísseis contra a Arábia Saudita. Por outro, a coligação militar saudita e dos Emirados Árabes Unidos, que apoia o governo iemenita reconhecido internacionalmente, continua a bombardear infraestruturas civis e a realizar ataques, matando e ferindo centenas de pessoas.

As duas partes também suprimiram a liberdade de expressão. Como consequência, multiplicam-se os casos de detenções arbitrárias, desaparecimentos forçados, tortura e outros maus-tratos sob custódia.

Até ao momento, mais de 233 mil pessoas foram mortas e feridas. A crise humanitária provocada pela guerra deixou quase 14 milhões em risco de fome.

Inevitavelmente, dada a natureza prolongada do conflito e o uso de táticas ilegais por todas as partes, a população civil está à beira de um ponto de rutura. Estima-se que 22 milhões de iemenitas necessitem de assistência humanitária para sobreviver.

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