5 Junho 2021

A Conferência Internacional Art and Human Rights, organizada conjuntamente pela Amnistia Internacional Portugal, Instituto de História da Arte (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa) e Chão de Oliva – Centro de Difusão Cultural, decorreu nos passados dias 20 e 21 de maio na Fundação Calouste Gulbenkian.

Enquanto iniciativa de cunho académico, pretendeu refletir o impacto da arte na criação de uma agenda voltada para a defesa e promoção de direitos humanos, tendo sido marcada pela partilha de investigação, apresentação de novos conceitos associados às artes e ao ativismo, e análise dos limites à liberdade de expressão dentro das práticas artísticas.

A conferência juntou investigadores, artistas, ativistas e outros agentes que trabalham nas interseções da arte e dos direitos humanos em todo o mundo. Foi um importante encontro para que, mais do que um suceder de comunicações, existisse espaço para debates e reflexões sobre uma temática de interesse comum. Foi, igualmente, um contributo útil para o trabalho de todos os presentes, ao criar espaço para convites, trocas de contactos e colaborações futuras.

Manfred Nowak, advogado de direitos humanos e secretário-geral do Global Campus of Human Rights em Veneza – que já desempenhou várias funções nas Nações Unidas -, revelou como as artes se podem pronunciar sobre direitos humanos e contribuir para a sua consciencialização e proteção. Referiu que lhes é possível criar um espaço diversificado, onde se pode refletir sobre a sociedade, confrontar e transformar a perceção sobre “o outro”, expressar receios de forma não violenta, e idealizar o futuro.

 

Manfred Nowak, advogado de direitos humanos e secretário-geral do Global Campus of Human Rights, durante a sua apresentação na conferência

 

A arte, através de estratégias de storytelling, consegue contribuir para o desenvolvimento de sociedades mais justas, ao despertar emoções e ser capaz de nos colocar no lugar dos protagonistas de cada narrativa. Nowak sublinhou mesmo o poder das emoções, afirmando que elas comandam as perceções e decisões, podendo ser mais fortes que os próprios factos, especialmente em períodos de desinformação.

Da mesma forma que consciencializam para os direitos humanos, as artes têm também uma capacidade paliativa, ajudando a curar feridas de abusos de direitos humanos. Por outro lado, dependendo daquilo que é nelas expresso, as artes podem ser utilizadas para propaganda e ter o efeito totalmente adverso.

Celia Zayas, assistente de projeto no Conselho da Europa e investigadora na culture Solutions, destacou o objetivo de universalidade das artes e dos direitos humanos, e as barreiras ainda existentes para que esse objetivo se cumpra.

“A arte, como expressão universal do que é a humanidade; os direitos humanos, como a realização universal do que a humanidade quer ser”

Celia Zayas

“A arte, como expressão universal do que é a humanidade; os direitos humanos, como a realização universal do que a humanidade quer ser”, afirma, como sendo o propósito de cada uma.

No entanto, Zayas assevera que esta universalidade é ilusória para ambos, acentuando que o debate, quer das artes, quer dos direitos humanos, não tem dado espaço, lugar ou direito de falar às culturas não-ocidentais.

Mais do que novas descobertas académicas referentes à relação entre artes e direitos humanos, esta conferência serviu para complementar conhecimentos e validar o que muitos investigadores já defendiam: que as artes, ao integrarem temáticas de direitos humanos como as alterações climáticas, crise de refugiados ou ascensão de regimes autoritários nas suas práticas, contribuem para o debate e pensamento crítico, afirmando-se um agente de mudança social.

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