27 Março 2007

A Amnistia Internacional revelou, a dimensão da terrível violência sexual contra mulheres e raparigas no contexto do conflito existente na Costa do Marfim, afirmando que a brutalidade destes ataques é altamente subestimada. 

“Centenas- se não milhares – de mulheres e raparigas foram e continuam a ser vítimas de violações sistemáticas e de outros crimes sexuais cometidos pelas forças militarizadas” disse Véronique Aubert, vice- directora do Programa para África da Amnistia Internacional.

Neste relatório, a organização afirma que muitas mulheres e raparigas são vítimas de grupos de violadores ou são forçadas a entrar no mundo da escravatura sexual.

A violação é, frequentemente, acompanha por espancamento e tortura – muitas vezes estes actos são cometidos em público e na presença de familiares. Algumas mulheres foram violadas junto dos cadáveres de familiares. “Mulheres e raparigas – por vezes com apenas 10 anos-  são escolhidas através de critérios étnicos ou políticos. Símbolos de honra das suas comunidades, elas são violadas com o intuito de humilhar os seus familiares e toda a comunidade. Até agora, não temos qualquer informação que algum dos autores destes crimes tenha sido levado a julgamento” disse Véronique Aubert. 

“A violação e outras formas de violência sexual têm sido utilizadas de forma tão extensiva e impune que podemos concluir  que as forças de segurança governamentais e os grupos armados de oposição têm instrumentalizado estes crimes para instigar o terror na população civil.” Alguns dos piores abusos contra mulheres e raparigas são cometidos por mercenários, na maioria  oriundos da Libéria e que têm ligação aos grupos armados de oposição da Costa do Marfim. Muitas das mulheres entrevistadas pela Amnistia Internacional afirmaram que os autores dos ataques, raptos e violações falavam inglês.

As sobreviventes são muitas vezes estigmatizadas e abandonadas pelos parceiros ou familiares – condenadas à extrema pobreza, frequentemente com crianças a seu cargo. Apesar de não existirem estatísticas oficiais disponíveis, acredita-se que a violação e a violência sexual cometidas no contexto do conflito pioraram, substancialmente, a crise do HIV/SIDA neste país.

As vítimas de violência sexual normalmente não têm acesso à saúde, principalmente aquelas que vivem em áreas controladas pelas Forças Novas. Outras não têm possibilidade de se deslocarem por razões monetárias e por receio do risco que de possam correr uma vez que é nas estradas bloqueadas que ocorrem muitas das violações. 

Neste relatório, a Amnistia Internacional sublinha inúmeras recomendações cujo objectivo é a eliminação da violência sexual contra mulheres e raparigas da Costa do Marfim através da investigação destes crimes e de um processo judicial eficaz que inclua compensações e reabilitação.  “A violação e outras formas de violência sexual cometidas durante o conflito armado – seja internacional ou não – são crimes contra a humanidade e crimes de guerra que devem, segundo o Direito Internacional, ser julgados como tal. Eliminar a violência sexual deve ser uma prioridade para uma resolução pacífica da crise na Costa do Marfim” disse Véronique Aubert. 

Conheça o Relatório: Côte d’Ivoire: Targeting women – the forgotten victims of conflic

Artigos Relacionados