10 Dezembro 2009

As mulheres frequentemente enfrentam situações de pobreza e abusos dos Direitos Humanos, mas enquanto activistas usam o seu papel para incitar a mudanças sociais positivas. Para comemorar o Dia Internacional dos Direitos Humanos a Amnistia Internacional falou com três mulheres que colocaram a sua vida em risco para defender os Direitos Humanos.

As mulheres são mais afectadas pela pobreza, pela violência e pelas violações dos Direitos Humanos do que os homens, devido à discriminação que enfrentam em todo o mundo. Mais de 70% da população mais pobre do mundo são mulheres. Apesar de apenas ganharem 10% dos rendimentos do mundo realizam dois terços do trabalho. Três quartos dos iliterados do mundo são mulheres. As mulheres produzem mais de 80% da comida nos países em desenvolvimento mas apenas possuem 1% da terra.  

Apesar dos números, as mulheres são frequentemente agentes mais activos na mudança social positiva das suas comunidades, trabalhando incansavelmente para melhorar as suas vidas e as das suas famílias. São ainda responsáveis pela maioria a base dos movimentos de defensores dos Direitos Humanos um pouco por todo o mundo.

 

Gertrude Hambira, Secretária Geral do Sindicato de Trabalhadores da Agricultura e Plantação do Zimbabué (GAPWUZ)
 
“Fui ameaçada e avisada várias vezes para abandonar o meu trabalho… os meus filhos dizem-me, ‘Mãe o teu trabalho é muito perigoso.’”

 “Quando acontecem as invasões das quintas, os trabalhadores contactam-nos e nós vamos para observar. É preciso coragem para ver aquelas pessoas a cantar, a dançar, a empunhar aquelas catanas, as tochas… Mas para que se possa dizer que estão adesalojarviolentamente os agricultores temos de tomar parte disto.

 “As mulheres desempenham um papel importante na defesa dos Direitos Humanos e dos direitos dos trabalhadores na sua comarca usando uma abordagem não violenta. Nós (GAPWUZ) realizámos muitas campanhas, educação e sensibilização para que as mulheres tenham voz sobre temas que afectam o seu quotidiano.

 “Se estiverem empregadas nós incentivamo-las a assumir papéis de liderança, como a representação no sindicato o que lhes permitirá dar voz às questões que afectam o seu dia-a-dia.”

 “Às vezes os homens desistem facilmente!… Eles dizem, ‘Mãe, precisamos de nos vingar’, eu digo-lhes para se acalmarem. Preferem retaliar em vez de abordar as questões de uma perspectiva diferente. Fui educada e formada numa abordagem não violenta e isto tem tido bons resultados na minha organização. Demos um passo em frente, se tivéssemos retaliado muito sangue teria sido derramado.”

 “Eu preocupo-me com a segurança da minha família e com a minha segurança também. Sou mãe de cinco crianças. Dizem-me “Mãe, porque não deixamos o Zimbabué?” eu respondo, “Não, nem todos podemos abandonar senão quem continuará a luta?”

 

 

 altZebo Sharifova, líder da Liga dos Advogados das Mulheres, Tajiquistão

 “As mulheres que não conhecem os seus direitos recorrem a centros como a Liga dos Advogados das Mulheres, pedindo que defendam os seus direitos em tribunal.”

 “Antes as mulheres não sabiam a quem recorrer para informar-se sobre os seus direitos. Hoje… sabem quais são os seus direitos.”

 “Muitas mulheres que não conseguem solucionar a situação (violência doméstica) cometem suicídio. No nosso centro temos psicólogas com quem estas mulheres podem falar.”

“De acordo com as estatísticas estão registados 20 centros de apoio às mulheres no Tajiquistão. No entanto, estes centros de apoio apenas funcionam quando organizações estrangeiras lhes dão fundos. Se os fundos acabarem o trabalho também acaba. O Estado não tem fundos para financiar abrigos para as mulheres e a nossa organização tem que aceitar essas mulheres. Eventualmente estas mulheres podem ser forçadas a regressar às suas famílias onde são vítimas de violência doméstica.”

 “Iniciámos e desenvolvemos um projecto-lei sobre protecção às vítimas de violência doméstica. Pressionámos toda a República recolhendo assinaturas para apoiar a nossa proposta.”

 “Se tivermos ajudado apenas uma mulher, que um dia chegue e diga, “Obrigado! Vocês ajudaram-me. Agora vivo na minha casa e recebo pensão de alimentos.” Então teremos vencido.”

 “Vemos os seus olhos a brilhar e todo o trabalho vale a pena por esse momento.”

 

 

altAminetu Haidar, defensora dos Direitos Humanos no Sahara Ocidental, está em greve de fome desde 15 de Novembro em protesto contra a sua expulsão da cidade de Laayoune, no Sahara Ocidental, pelas autoridades de Marrocos. Encontra-se neste momento retida no aeroporto de Lazarote, nas ilhas Canárias em Espanha

“Quando tinha 20 anos fui sequestrada e vítima de desaparecimento forçado. Passei quatro anos vendada e sem enfrentar qualquer julgamento… Fui sujeita a torturas físicas e psicológicas. Depois disto, fui libertada, mas continuei sujeita a vigilância constante.”

“Em Junho de 2005 fui torturada na rua o que me causou ferimentos graves… 14 pontos e três costelas partidas… fui novamente detida com base num relatório da polícia falsificado. Fui julgada e condenada a sete meses de prisão, cumpri a sentença na prisão de Lakhal, em Laayoune.”

“Como mulheres e mães no Sahara Ocidental temos consciência que desempenhamos um papel difícil e importante; temos que educar os nossos filhos para que se identifiquem e defendam a identidade, a cultura e as tradições Saharaui. Não é uma tarefa fácil e não é uma questão recente. A ocupação tenta absorver a cultura Saharaui.”

“É muito difícil para a mulher Saharaui, como mentora incutir estes valores e ao mesmo tempo ser activista longe de casa… É agitado para uma mulher que trabalha na área dos Direitos Humanos… as crianças têm sempre medo de perder a mãe.”

“Esta geração e as crianças no Sahara Ocidental testemunharam com os seus próprios olhos a opressão da polícia… Imagine inúmeras crianças que em vez de desenharem brinquedos, desenham agentes da polícia com armas e cassetetes a agredirem pessoas e pessoas atrás de grades. Tenho medo que se tornem violentos e incitem à violência… porque praticar violência um dia originará violência.”

“É o nosso papel como defensores dos Direitos Humanos apelar à paz… mas os nossos meios são limitados, não estamos autorizadas a organizar workshops, formações, ateliês… Cada vez é mais difícil…”   

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