No seguimento do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se assinalou a 17 de Outubro, foram terça-feira (dia 20) apresentadas as conclusões preliminares do mais recente estudo da Amnistia Internacional Portugal, realizado em parceria com a REAPN-Rede Europeia Anti-Pobreza e o SOCIUS-Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações do ISEG-Instituto Superior de Economia e Gestão, intitulado “Percepções da Pobreza em Portugal”.
O objectivo desta investigação é perceber o que os portugueses sentem e pensam sobre a pobreza no nosso país. Uma análise essencial “para [poder] encetar um plano de acção consistente, que tenha em conta a opinião dos portugueses”, referiu Sandra Araújo, Coordenadora Técnica Nacional da REAPN. O mesmo foi defendido por Ana Monteiro, da Direcção da Amnistia Internacional Portugal, que acrescentou que sem este estudo não fazia sentido a organização avançar para a sua campanha “Exija Dignidade”, lançada no passado mês de Maio. O objectivo da campanha é erradicar a pobreza do mundo e, para tal, é essencial começar por ouvir os cidadãos.
Conclusões preliminares

Para além deste pessimismo, a grande maioria dos inquiridos culpa o Governo pela pobreza existente em Portugal e indica ser fundamental apostar em políticas de erradicação deste flagelo. Neste âmbito, 79% considera que a sociedade só pode funcionar bem com a participação dos cidadãos, ou seja, se estes forem ouvidos. Conclusões que pode conhecer melhor aqui e que foram destacadas por Raquel Rego, Investigadora Auxiliar do SOCIUS/ISEG, naquela que foi a primeira apresentação pública do estudo que está ainda numa fase inicial de análise dos dados.
Sinais negativos
Sérgio Aires, consultor da Direcção Nacional da REAPN, encontrou nos dados apresentados motivos de preocupação, que aqui podem ser consultados. Primeiro, o pessimismo e a ignorância revelados face ao tema, pois 25% de inquiridos consideram que mais de metade da população portuguesa é pobre, quando os dados estatísticos de 2006 (referentes a 2005) falam em 18% de pessoas pobres. Ao mesmo tempo, continua a associar-se a pobreza à miséria ou à falta de condições básicas, como “água, luz e casa de banho”, quando vai muito para além disso. Por último, as pessoas esquecem-se que as causas da pobreza são, ao mesmo tempo, consequências dela mesma.
Percepções sobre a pobreza que são especialmente graves aos olhos de organizações como a REAPN e a Amnistia Internacional, que “acreditam que o combate à pobreza se faz com todos”, podendo o pessimismo e a ignorância “representar um baixar de braços”. Outro dado que aponta neste sentido é o olhar dos portugueses face aos pobres, pois 63% dos inquiridos considera que a pobreza leva ao individualismo e ao “desenrascanço” ao invés de gerar solidariedade (37%). Uma visão negativa destas pessoas que “pode levar à sua marginalização e, consequentemente, à desresponsabilização”, até porque 77% dos portugueses considera que o Governo é o responsável pela pobreza.
Sinais de optimismo

Pedro Krupenski recordou ainda que a REAPN tinha feito um estudo semelhante em 2004, que pode ser aqui consultado, e que “passados cinco anos de apostas, investimentos e novas políticas, as conclusões continuam a ser as mesmas ou ainda piores”. Para o Director Executivo, o desafio é grande e o cenário não é vantajoso, “mas move-nos acreditar que a pobreza é fruto de decisões e que, por isso, é possível tomar decisões contrárias às que estão na génese das situações de pobreza”. Uma esperança que vai ter como forte aliado o próximo ano, declarado Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social.
Face a esta oportunidade, foram ainda, no lançamento do estudo, reveladas as três linhas de actuação da Amnistia Internacional e dos parceiros nos próximos tempos. Primeiro, continuar a apostar na investigação, desenvolvendo o estudo cujas conclusões preliminares foram apresentadas e comparando-o com os dados de 2004 e com as estatísticas relativas à pobreza existentes em Portugal. Em segundo lugar, sensibilizar todos os envolvidos e promover a participação dos cidadãos, para que se atinjam rapidamente resultados. Por último, formar os mais diversos intervenientes em matéria de pobreza, para que a sua acção seja a mais proactiva possível.


