20 Junho 2025

Desde 2017, a Amnistia Internacional faz parte de um movimento global para abrir novos caminhos para a segurança através do patrocínio comunitário.

Os programas de patrocínio comunitário reúnem governos, sociedade civil e organizações como a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) para capacitar as pessoas e comunidades locais — conhecidas como “patrocinadores” — a acolher refugiados e apoiá-los na reconstrução das suas vidas. Estes “patrocinadores” oferecem apoio emocional e ajudam em tarefas práticas, como encontrar moradia, matricular as crianças na escola e aprender o idioma local. Graças a esse esforço coletivo, mais de um milhão de refugiados foram acolhidos por milhões de “patrocinadores” em todo o mundo desde 2017.

Neste Dia Mundial dos Refugiados, que se celebra a 20 de junho, publicamos conversas com pessoas na Irlanda, Argentina, Austrália e no Reino Unido, cujas histórias (a publicar também em português nos próximos dias)  revelam o impacto transformador que este apoio e acolhimento pode ter.

 

 

Fawzyah e Fawad na Irlanda: apoio a refugiados constrói comunidades fortes

 

Fawzyah foi forçada a deixar o Afeganistão em 2021 e — trabalhando com um grupo de patrocínio comunitário que a acolheu e à sua família na Irlanda — conseguiu reconstruir a sua vida e agora ajuda outras pessoas a estabelecerem-se nos seus novos lares.

 

Fawzyah Sarwary empurra a filha num baloiço num parque local. Fawzyah, o marido Fawad Borha e as duas filhas reinstalaram-se em Naas, na Irlanda, vindos do Afeganistão, com a ajuda de um grupo de apoio local (a 16 de janeiro de 2025). Foto © Amnesty International
Fawzyah Sarwary empurra a filha num baloiço num parque local (16 de janeiro de 2025). Fawzyah, o marido Fawad Borha e as duas filhas reinstalaram-se em Naas, na Irlanda, vindos do Afeganistão, com a ajuda de um grupo de apoio local. Foto © Amnesty International

 

O dia 15 de agosto de 2021 foi um dia sombrio no Afeganistão. Quando os Talibãs tomaram o controlo de Cabul, milhares fugiram das suas casas, dirigindo-se para o aeroporto na tentativa de escapar do país. As pessoas estavam assustadas. Entre a multidão que procurava segurança, naquele dia, estavam Fawzyah, seu marido Fawad e sua filha pequena. Uma vida sob o controlo dos Talibãs não era uma opção.

Após várias tentativas frustradas de sair do país, a família acabou por chegar à Irlanda e foi realojada numa zona muito remota do país destinada a receber pessoas chegadas de emergência do Afeganistão. Com acesso limitado a serviços e instalações, acabaram por ser apresentados a um grupo de Patrocínio Comunitário em Naas, uma cidade a oeste de Dublin, e tiveram a oportunidade de se mudar para lá. As líderes do grupo, Frieda e Ciara, recordam como estavam nervosas. “Só queríamos mesmo que eles gostassem de Naas, não sabíamos o que iriam pensar!” Não precisavam de se preocupar.

“Só queríamos mesmo que eles gostassem de Naas, não sabíamos o que iriam pensar!”

Ciara e Frieda

Fawad diz que assim que chegou a Naas se sentiu em casa. “Fez-me lembrar a minha cidade natal”, algo que ele não esperava. Assim que estavam todos a bordo, toda a equipa de apoio comunitário entrou em ação e em pouco tempo estava pronta para receber a família. Quando Fawzyah chegou no primeiro dia, descobriu que tinha tudo o que precisava. Durante um mês e meio, não precisaram de comprar nada, estava tudo lá à espera deles!

Muito rapidamente, integraram-se na comunidade local. Isto fez com que Fawzyah se sentisse que não estava sozinha, que já tinha amigos. O apoio da equipa comunitário significou que tiveram uma família desde o primeiro dia. Além das relações do dia-a-dia, todo o grupo, incluindo todas as suas famílias, se reunia no belo Hotel Killashee House. Aqui, realizaram encontros memoráveis, repletos de amor e risos. Fawzyah diz que tem uma grande foto de grupo tirada lá e que, quando olha para a foto, sente paz. Esta é a sua família de patrocínio comunitário.

Pouco depois de chegarem a Naas, Fawad e Fawzyah deram as boas-vindas à sua segunda filha, nascida no Hospital Coombe, em Dublin. Fawzyah era bem conhecida dos moradores locais graças a Ciara, que a apresentou a alguns amigos que moravam ao lado do movimentado hospital. Numa área conhecida pela falta de estacionamento, Fawad agora tinha muitas entradas de garagem amigáveis para escolher para as consultas regulares da sua mulher. Os braços de apoio estendiam-se muito além das fronteiras de Naas.

 

Fawad Borha e Fawzyah Sarwary, juntamente com as suas duas filhas, reinstalaram-se em Naas, na Irlanda, vindos do Afeganistão, com a ajuda de um grupo de apoio local. Foto © Amnesty International
Fawad Borha e Fawzyah Sarwary, juntamente com as suas duas filhas, reinstalaram-se em Naas, na Irlanda, vindos do Afeganistão, com a ajuda de um grupo de apoio local. Foto © Amnesty International

 

A chegada da nova integrante não impediu Fawad e Fawzyah de criar mais laços e vínculos com a comunidade. Agora, eles não só oferecem apoio a outras pessoas (Fawzyah liga regularmente para um dos membros mais idosos do grupo, que mora sozinho), como assumiram papéis de liderança na organização de eventos comunitários, incluindo um festival intercultural de comida e uma recente campanha de arrecadação de fundos para Gaza, onde os pratos de Fawzyah foram o assunto da cidade. São eventos como este que Freida e Ciara concordam que são uma verdadeira luz que brilha para toda a cidade e que une pessoas que, apesar de viverem na mesma área há muitos anos, nunca se conheceram.

Fawzyah diz que pertencer à comunidade, fazer parte de uma família, é “a melhor sensação do mundo”. Ela diz que, quando fala com a sua família no Afeganistão, descreve o grupo como a sua “segunda família”.

Fawad tornou-se recentemente copresidente do grupo de patrocínio comunitário e, juntamente com Fawyzah, está a trabalhar para apoiar a próxima campanha de patrocínio comunitário. Eles queriam ajudar alguém da mesma forma que a comunidade os ajudou. Frieda não consegue deixar de sorrir com orgulho sempre que se lembra de Fawyzah — cujo estilo é muito admirado pelas suas amigas — levantando-se para falar num evento recente, quando todos os outros estavam demasiado tímidos para o fazer. Ela diz que Fawyzah mostrou a sua elegância e força sob uma nova luz — a da líder comunitária em que se tornou.

“O patrocínio comunitário é como uma peça que faltava para unir a humanidade”

Ciara e Frieda

Para Ciara e Frieda, a jornada do Patrocínio Comunitário foi algo que elas nunca imaginaram. “Muda a forma como vive a sua vida e, para as crianças, é uma experiência incrível”. Ambas concordam que o seu mundo se abriu, não apenas para Fawad e Fawzyah, mas para as muitas nacionalidades diferentes que vivem na sua comunidade. “Você recebe muito mais do que dá. O patrocínio comunitário é como uma peça que faltava para unir a humanidade”.

Todos concordam que o patrocínio comunitário não tem a ver com cada um enquanto indivíduos. Tem a ver com pessoas que se unem, respeitam-se e criam laços. As pessoas não olham para as diferenças, olham para as pessoas. Funciona porque não tem a ver com a sua origem ou as suas crenças culturais ou religiosas. Tem a ver com a humanidade.

Para Fawyzah, o patrocínio comunitário tem a ver com pertença. Ela diz que no Afeganistão sempre acreditaram que as pessoas no Ocidente não se ajudavam umas às outras. Agora ela vê que isso não é verdade e percebe a importância da família. Mas não se trata apenas dela. Agora ela pode ter sonhos para os seus filhos e construir uma vida bonita para eles. Tudo é possível.

 

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