10 Outubro 2020

O blogger mauritano Mohamed Cheikh Ould Mkhaïtir foi preso, no dia 2 de janeiro de 2014, por publicar um texto sobre escravatura e discriminação. Acusado de apostasia e de insultar o profeta Maomé, acabou condenado à morte, no final de 2014. Mais tarde, a 9 de novembro de 2017, uma decisão do tribunal de recurso comutou a sentença para dois anos de prisão, que já tinha cumprido, mais uma multa. No entanto, as autoridades mantiveram-no sob detenção e não foi libertado até julho de 2019.

Atualmente, Mohamed Cheikh Ould Mkhaïtir está na Europa. No Dia Mundial Contra a Pena de Morte, publicamos um texto da sua autoria em que descreve as condições do cativeiro e agradece à Amnistia Internacional que conduziu a campanha pela sua libertação.

 

É invulgar, especialmente em África e no mundo árabe, as pessoas serem presas e encarceradas pelas suas opiniões. Mas foi o que me aconteceu no dia 2 de janeiro de 2014, no meu próprio país, a Mauritânia. Tinha simplesmente publicado um texto num blogue sobre a escravatura e a discriminação sofridas pela casta dos ferreiros, à qual pertenço.

Fui então detido e mantido em isolamento, sendo as pulgas e as baratas as minhas únicas companheiras de cela. Nos primeiros dias da minha detenção, ia dormir ao som de vozes no interior da prisão, dizendo que me queriam morto. De manhã, era acordado por gritos vindos do exterior da prisão, apelando a que eu fosse morto.

“Ninguém à minha volta queria que eu vivesse. Ainda assim, tentei convencer-me de que vivia num Estado governado pelo primado da lei e que o principal papel dos advogados era defenderem o direito de todos os detidos a um julgamento justo”

Mohamed Cheikh Ould Mkhaïtir

Dia após dia, desvaneceu-se qualquer esperança de uma outra vida. Ninguém à minha volta queria que eu vivesse. Ainda assim, tentei convencer-me de que vivia num Estado governado pelo primado da lei e que o principal papel dos advogados era defenderem o direito de todos os detidos a um julgamento justo, que conduzisse à libertação.

Contudo, fiquei chocado ao descobrir que muitos envolvidos no sistema judicial eram favoráveis à minha morte. Resignei-me ao facto de não haver esperança.

Depois, a 25 de julho de 2015, quando estava encolhido na minha cela, em isolamento, ouvi o som da porta do corredor a abrir e o tilintar de chaves tão grandes e pesadas como as botas do guarda que as girava. A porta abriu-se. Perguntei-me: “Por que viriam os guardas a esta hora?”. Não fazia parte da sua rotina habitual. O que se passaria?

“A esperança visitou-me e quebrou o meu isolamento. Essa esperança, chamada Amnistia Internacional, veio sob a forma de Kiné-Fatim Diop e de Gaëtan Mootoo”

Mohamed Cheikh Ould Mkhaïtir

O guarda veio até mim, com o seu rosto mal-humorado e carrancudo, a sua voz carregada de ódio, e disse: “Tens visitas”.

Esse momento abriu as portas da esperança. Fez-me sentir que não estava sozinho e que existiam outras pessoas além de mim que consagravam as suas vidas à defesa dos oprimidos, independentemente da sua cor, etnia, género ou religião.

Acreditavam no direito à liberdade de cada ser humano, bem como na liberdade de opinião e de expressão. São algumas das poucas pessoas que dão esperança a outras, que pugnam para difundir a cultura da vida e trabalham incansavelmente para irem aos lugares mais remotos defender o primado da lei e o respeito pelos direitos humanos.

“Fizeram uma campanha persistente e bateram a todas as portas de esperança possíveis. Eu fui uma das pessoas para quem essas portas da liberdade se abriram”

Mohamed Cheikh Ould Mkhaïtir

A 25 de julho de 2015, a esperança visitou-me e quebrou o meu isolamento. Essa esperança, chamada Amnistia Internacional, veio sob a forma de Kiné-Fatim Diop e de Gaëtan Mootoo. Embora, naquele dia, eu estivesse a encontrar-me com eles pela primeira vez, tive a sensação de que nos conhecíamos desde sempre. Foi como se eu estivesse sentado e a gracejar com amigos ou membros da minha família.

A Amnistia Internacional foi uma das organizações que desempenhou um papel crucial na minha libertação. Kiné-Fatim, Gaëtan e os seus colegas fizeram uma campanha persistente e bateram a todas as portas de esperança possíveis. Eu fui uma das pessoas para quem essas portas da liberdade se abriram. Por isso, obrigado Amnistia Internacional!

 

Consulte aqui o último relatório sobre a aplicação da pena de morte no mundo

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