6 Março 2019

Atualização (25 de março de 2019):

O tribunal retirou todas as acusações contra Hajar Harb! Obrigado por ter acompanhado este caso.

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Uma jornalista de investigação que publicou um relatório revelando corrupção no interior do Ministério da Saúde em Gaza enfrenta até seis meses de prisão, disse a Amnistia Internacional na véspera da sua audiência de recurso, que se realiza esta quinta-feira, dia 7 de março.

Hajar Harb, uma jornalista palestiniana de Gaza, publicou, a 26 de Junho de 2016, uma reportagem de investigação na TV al-Araby destacando que o Ministério, que é detido pela administração de facto do Hamas, estava a lucrar ao organizar transferências médicas ilegais para fora da Faixa de Gaza para pessoas que não necessitavam de tratamento. Ela foi acusada de uma série de crimes, incluindo difamação e a publicação de notícias falsas.

“A acusação de Hajar Harb é um assalto escandaloso à liberdade de imprensa. As autoridades em Gaza estão descaradamente a tentar puni-la por expor corrupção no interior da administração Hamas. As autoridades devem retirar imediatamente todas as queixas contra ela”. disse Saleh Higazi, diretor adjunto da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e Norte de África.

“É profundamente alarmante que Hajar Harb enfrente seis meses na cadeia simplesmente por fazer o seu trabalho. Se a sua condenação com base em acusações inventadas for levada adiante, terá um efeito arrepiante sobre a liberdade de expressão em Gaza.”

É profundamente alarmante que Hajar Harb enfrente seis meses na cadeia simplesmente por fazer o seu trabalho.

Saleh Higazi, Diretor adjunto para o Médio Oriente e Norte de África

Ela disse ainda à Amnistia Internacional que foi verbalmente assediada e recebeu ameaças de um conjunto de médicos em Gaza, embora nenhum dos seus nomes, rostos ou trabalho figurem na reportagem.

“Fui amaldiçoada com palavras más, ameaçaram-me com danos físicos, e até me acusaram de ser uma colaboradora de Israel, espalhando rumores através de alguns médicos em Gaza”, disse ela à Amnistia Internacional.

Dois médicos apresentaram uma queixa contra ela. Em Outubro de 2016, ela foi acusada de publicar notícias falsas, de difamação, de causar discórdia e de ser uma impostora.

Hajar Harb foi julgada na sua ausência, enquanto se encontrava na Jordânia a receber tratamento para o cancro da mama. A 4 de Junho de 2017 foi condenada e sentenciada a seis meses na prisão e ao pagamento de uma multa de 1,000 ILS (cerca de 240 Euros). Ela interpôs recurso da decisão do tribunal.

“Por vezes questiono-me e digo, o que é que eu fiz? Estou a pagar o preço de fazer uma peça de investigação sobre corrupção em Gaza. Como é que isto é justo?’, disse Hajar Harb à Amnistia Internacional, explicando que teve problemas com outros empregadores desde que a reportagem foi publicada.

No contexto da continuação da luta política interna entre a Fatah e o Hamas, as autoridades na Cisjordânia e em Gaza usaram ameaças e intimidação contra ativistas e jornalistas para suprimir a expressão pacífica, incluindo de jornalistas ou de críticos.

“Os jornalistas palestinianos devem ser capazes de desempenhar o seu trabalho livres de ameaças, assédio ou intimidação.”

Saleh Higazi, Diretor adjunto para o Médio Oriente e Norte de África

“Os jornalistas palestinianos devem ser capazes de desempenhar o seu trabalho livres de ameaças, assédio ou intimidação” disse Saleh Higazi.“Ao invés de tentarem suprimir o trabalho dos meios de comunicação, as autoridades na Cisjordânia e em Gaza deviam estar a trabalhar para proteger o direito à liberdade de expressão e a responsabilizar as pessoas que ameaçam, intimidam e assediam jornalistas.”

Segundo o Centro Palestiniano para o Desenvolvimento da Liberdade dos Media, uma ONG baseada em Ramallah, em 2018 as autoridades palestinianas na Cisjordânia foram responsáveis por 77 ataques à liberdade de imprensa durante o ano. Estes incluíram detenções arbitrárias, maus-tratos durante interrogatórios, confiscação de equipamento, ataques físicos ou o banir de jornalistas, impedindo-os de reportar. As autoridades do Hamas em Gaza foram responsáveis por 37 ataques do mesmo tipo.

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