13 Dezembro 2024

 

 

  • 21 organizações publicaram uma declaração conjunta condenando a decisão como um “momento de grande perigo” para os direitos humanos
  • “Em todas as fases deste processo de candidatura, a FIFA demonstrou que o seu compromisso com os direitos humanos é uma farsa” — Steve Cockburn

 

Na sequência da confirmação da Arábia Saudita como anfitriã do Campeonato do Mundo de Futebol de 2034 no Congresso Extraordinário da FIFA, 21 organizações publicaram uma declaração conjunta condenando a decisão como um “momento de grande perigo” para os direitos humanos.

Os signatários incluem organizações de direitos humanos da diáspora saudita, grupos de trabalhadores migrantes do Nepal e do Quénia, sindicatos internacionais, representantes de adeptos e organizações mundiais de direitos humanos.

O diretor de Direitos Laborais e Desporto da Amnistia Internacional, Steve Cockburn, afirmou que “a decisão imprudente da FIFA de atribuir o Campeonato do Mundo de 2034 à Arábia Saudita sem garantir a proteção adequada dos direitos humanos colocará muitas vidas em risco”. E acrescentou: “Com base em evidências claras até à data, a FIFA sabe que, sem reformas fundamentais na Arábia Saudita, os trabalhadores serão explorados e até morrerão e, no entanto, optou por avançar de qualquer forma. A organização arrisca-se a assumir uma pesada responsabilidade por muitas das violações dos direitos humanos que se seguirão”.

Para Steve Cockburn, “em todas as fases deste processo de candidatura, a FIFA demonstrou que o seu compromisso com os direitos humanos é uma farsa. Entretanto, o seu contínuo fracasso em compensar os trabalhadores migrantes que foram explorados no Catar não dá qualquer confiança de que as lições tenham sido aprendidas. A FIFA tem de mudar urgentemente de rumo e garantir que o Campeonato do Mundo seja acompanhado de reformas abrangentes na Arábia Saudita, ou arrisca-se a uma década de exploração, discriminação e repressão associadas ao seu principal torneio”.

“A FIFA tem de mudar urgentemente de rumo e garantir que o Campeonato do Mundo seja acompanhado de reformas abrangentes na Arábia Saudita, ou arrisca-se a uma década de exploração, discriminação e repressão associadas ao seu principal torneio”

Steve Cockburn

Sobre o Mundial que Portugal vai organizar com Espanha e Marrocos, o responsável da Amnistia Internacional também deixou alertas. “O processo de candidatura imperfeito da FIFA também foi evidente na atribuição do Campeonato do Mundo de 2030, com riscos significativos para os direitos humanos que não foram abordados. Do policiamento excessivo e despejos forçados aos direitos dos trabalhadores e à discriminação legalizada, ainda há muito a fazer para garantir que o torneio de 2030 possa ser desfrutado por todos no pleno respeito pelos seus direitos”.

Por sua vez, Lina Alhathloul, responsável de observação e defesa da ALQST for Human Rights, uma organização de direitos humanos da diáspora saudita, disse que “é desanimador, se não surpreendente, que a FIFA tenha atribuído à Arábia Saudita de Mohammed bin Salman os direitos de acolhimento do Campeonato do Mundo com base numa proposta muito imperfeita, que evitou o envolvimento de partes interessadas externas ou do próprio público saudita”. Agora, acrescentou, com o facto consumado, “é necessária uma ação urgente e sustentada para mitigar os graves riscos de violações dos direitos laborais e civis associados ao torneio, nomeadamente através da garantia de reformas importantes e credíveis”.

O receio dos trabalhadores migrantes foi expressado por Bhim Shrestha, cofundador da Shramik Sanjal, uma rede de trabalhadores migrantes sediada no Nepal. “Nós, os trabalhadores migrantes, somos vítimas de uma grave exploração e a nossa vulnerabilidade é frequentemente ignorada. As nossas vidas são importantes — tememos pelas vidas de milhares dos nossos irmãos e irmãs migrantes que estão em risco. A FIFA não deve fechar os olhos; as vidas dos migrantes exigem responsabilidade e justiça”.

“Nós, os trabalhadores migrantes, somos vítimas de uma grave exploração e a nossa vulnerabilidade é frequentemente ignorada”

Bhim Shrestha

 

Contexto

No dia 11 de novembro de 2024, a Amnistia Internacional e a Sport & Rights Alliance (SRA) apelaram à FIFA para que suspendesse a votação para a atribuição do Campeonato do Mundo de 2034, na sequência de uma análise detalhada dos riscos para os direitos humanos no país e das principais lacunas na estratégia de direitos humanos proposta pela Federação de Futebol da Arábia Saudita.

As organizações também pediram à FIFA que garantisse o desenvolvimento de uma estratégia de direitos humanos muito mais significativa para o torneio de 2030 em Marrocos, Portugal e Espanha. A análise baseou-se numa avaliação de risco detalhada de ambos os torneios produzida pela Amnistia Internacional e pela SRA, que foi publicada em junho.

A 29 de novembro, a Amnistia Internacional criticou a avaliação da FIFA à candidatura da Arábia Saudita como “uma espantosa lavagem de roupa branca”, bem como o facto de não ter compensado os trabalhadores migrantes envolvidos no Campeonato do Mundo de 2022 no Catar, ignorando as recomendações de um relatório independente encomendado pela FIFA.

 

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