- Tréguas não vão reparar as vidas dos palestinianos destroçadas pelo genocídio de Israel em Gaza
- “A menos que as causas profundas deste conflito sejam abordadas, palestinianos e israelitas não podem sequer começar a ter esperança num futuro mais risonho” — Agnès Callamard
O anúncio do cessar-fogo entre Israel e o movimento Hamas é uma boa notícia, mas com várias incógnitas. Reagindo num primeiro momento à notícia de que Israel e o Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo que terá início a 19 de janeiro de 2025, Agnès Callamard, secretária-geral da Amnistia Internacional, afirmou que “a notícia de que foi alcançado um acordo de cessar-fogo trará algum alívio aos palestinianos vítimas do genocídio de Israel. Mas já devia ter sido feito há muito tempo”.
(O Governo de Israel veio esta sexta-feira adiar a aprovação do cessar-fogo, invocando alegadas exigências de última hora do Hamas. Segundo notícias divulgadas pelas agências internacionais, o gabinete de Netanyahu avisou que só se vai reunir para aprovar o cessar-fogo em Gaza quando os mediadores “notificarem Israel que o Hamas aceita todos os elementos do acordo”, lançando dúvidas sobre a implementação das tréguas celebradas em Gaza e Israel na quinta-feira.)
Agnès Callamard vincou que, “para os palestinianos, que suportaram mais de 15 meses de bombardeamentos devastadores e implacáveis, que foram repetidamente deslocados das suas casas e que lutam para sobreviver em tendas improvisadas, sem comida, água e bens de primeira necessidade, o pesadelo não acabará mesmo que as bombas cessem”.
“Esta notícia trará um pouco de alívio aos palestinianos vítimas do genocídio de Israel. Mas é um alívio que já tardava”
Agnès Callamard
“Para os palestinianos que perderam inúmeros entes queridos, em muitos casos, viram as suas famílias inteiras dizimadas ou viram as suas casas reduzidas a escombros, o fim dos combates não começa a reparar as suas vidas destroçadas ou a curar o seu trauma”, disse a secretária-geral da Amnistia Internacional.
“A libertação dos reféns israelitas e dos detidos palestinianos trará alívio às famílias em Israel e em todo o Território Palestiniano Ocupado, mas também não apagará as provações que sofreram em cativeiro”, notou.
Para Agnès Callamard, “Não há tempo a perder”. E acrescentou: “A contínua e deliberada negação e obstrução da ajuda humanitária a Gaza por parte de Israel fez com que os civis enfrentassem níveis de fome sem precedentes e que crianças morressem à fome. A comunidade internacional, que até agora tem falhado vergonhosamente em persuadir Israel a cumprir as suas obrigações legais, tem de garantir que Israel permita imediatamente que os abastecimentos vitais cheguem urgentemente a todas as partes da Faixa de Gaza ocupada, a fim de assegurar a sobrevivência da população palestiniana. Isto inclui garantir a entrada de material médico vital para tratar os feridos e os doentes e facilitar a reparação urgente das instalações médicas e de outras infraestruturas vitais. A menos que o bloqueio ilegal de Israel a Gaza seja prontamente levantado, este sofrimento só irá continuar. É também necessário que Israel conceda urgentemente o acesso a monitores independentes dos direitos humanos a Gaza, para que possam descobrir provas e revelar a extensão das violações”.
“A libertação dos reféns israelitas e dos detidos palestinianos trará alívio às famílias, mas não apagará as provações que sofreram”
Agnès Callamard
“Para os palestinianos que perderam tanto, não há grande motivo para celebrar quando não há garantias de que obterão justiça e reparação pelos crimes horríveis que sofreram”, disse ainda a responsável internacional da Amnistia.
“A menos que as causas profundas deste conflito sejam abordadas, palestinianos e israelitas não podem sequer começar a ter esperança num futuro mais risonho, assente nos direitos, na igualdade e na justiça. Israel tem de desmantelar o sistema brutal de apartheid que impõe para dominar e oprimir os palestinianos e pôr fim à sua ocupação ilegal do Território Palestiniano Ocupado de uma vez por todas. Os Estados terceiros têm um papel crucial a desempenhar para pôr termo à impunidade de Israel e restaurar alguma fé no Estado de direito”.