17 Maio 2017

A libertação de Chelsea Manning de uma prisão militar nos Estados Unidos, que é desde há muito tempo devida, põe fim esta quarta-feira, 17 de maio, à punição pela qual a ex-analista de dados passou por ter exposto informação classificada como secreta, incluindo indícios de possíveis crimes de guerra cometidos por militares norte-americanos, considera a Amnistia Internacional.

“Este é um dia pelo qual se mobilizaram milhares de ativistas da Amnistia Internacional em todo o país e por todo o mundo, ao longo da longa e cruel provação pela qual Chelsea Manning passou”, avança a diretora executiva da Amnistia Internacional Estados Unidos, Margaret Huang. “O tratamento a que Chelsea foi sujeita é especialmente aflitivo tendo em conta que ninguém foi responsabilizado pelos alegados crimes que ela revelou terem acontecido. E, por isso, ao mesmo tempo que celebramos a sua liberdade, continuaremos a pressionar para que seja feita uma investigação independente às potenciais violações de direitos humanos que ela expôs, e para que sejam criadas e postas em práticas proteções que garantam que whistleblowers [pessoas que denunciam publicamente informação ou atividades ilegais ou ilegítimas] como Chelsea nunca mais são submetidos a um tratamento tão chocante”, defende ainda esta perita da organização de direitos humanos.

A Amnistia Internacional fez campanha em defesa da libertação de Chelsea Manning desde 2013, quando a ex-analista do Exército norte-americano foi condenada a uma pena de 35 anos de prisão. A sentença que lhe foi pronunciada é muito mais extensa do que as que foram aplicadas a militares condenados por homicídio, violação e crimes de guerra.

Acresce que Chelsea Manning esteve 11 meses em prisão preventiva em condições que o relator especial das Nações Unidas sobre a Tortura avaliou como constituindo tratamento cruel, desumano e degradante. A ex-militar foi mantida em prisão solitária como castigo por ter tentado o suicídio e foi-lhe negado, durante o encarceramento, o tratamento adequado relacionado com a sua identidade de género.

250 mil ações na Maratona de Cartas

O caso de Chelsea Manning integrou a Maratona de Cartas da Amnistia Internacional em 2014. No mundo inteiro, quase 250 mil ações foram feitas exortando à sua libertação – mais de 28 000 só em Portugal.

Numa carta dirigida à Amnistia Internacional naquela altura, Chelsea Manning escreveu: “Apoio o trabalho que fazem para proteger as pessoas onde quer que a justiça, a liberdade, a verdade e a dignidade sejam negadas. E acho que a transparência na governação é um requisito prévio para assegurar e proteger a liberdade e a dignidade de todas as pessoas”.

Ao fim de tantos anos de incansável trabalho de campanha da Amnistia Internacional e outras organizações, a pena de Chelsea Manning foi comutada, em janeiro de 2017, pelo então Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, nos últimos dias antes de terminar o seu mandato na Casa Branca.

A Amnistia Internacional lançou esta terça-feira, 16 de maio, a nova campanha global BRAVE, que visa dar destaque e visibilidade aos corajosos ativistas e whistleblowers no mundo inteiro que, frequentemente, se colocam em enorme risco para confrontar violações de direitos humanos.

“O tratamento vingativo que as autoridades norte-americanas deram a Chelsea Manning depois de ela ter exposto potencial conduta condenável por parte de militares é um triste reflexo dos extremos a que quem está no poder se mostra disposto a ir para impedir outros de se fazerem ouvir”, sublinha Margaret Huang.

A diretora executiva da Amnistia Internacional EUA frisa ainda que “a libertação de Chelsea Manning mostra, uma vez mais, que o poder das pessoas pode triunfar sobre a injustiça”. “E esta é uma mensagem inspiradora para os muitos ativistas de coragem que defendem os direitos humanos pelo mundo inteiro e que estão no cerne da nossa nova campanha global, BRAVE”, remata.

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