16 Fevereiro 2022

 

  • Bairros não brancos no Bronx, Brooklyn e Queens vivem com mais vigilância CCTV
  • Novo website interativo detalha a exposição à tecnologia invasiva

Os nova-iorquinos que vivem em áreas com maior risco de stop-and-frisk (ação de parar e revistar) pela polícia estão mais expostos à tecnologia invasiva de reconhecimento facial, de acordo com novas pesquisas da Amnistia Internacional e parceiros.

Esta nova investigação faz parte da campanha global Ban the Scan, e provou como a vasta operação de vigilância do Departamento de Polícia de Nova Iorque afeta particularmente as pessoas que já são alvo de stop-and-frisk em todos os cinco bairros de Nova Iorque.

No Bronx, Brooklyn e Queens, a investigação mostrou que quanto maior for a proporção de residentes não brancos, maior será a concentração de câmaras de CCTV compatíveis com o reconhecimento facial.

“A nossa análise mostra que a utilização da tecnologia de reconhecimento facial pela polícia de Nova Iorque ajuda a reforçar o policiamento discriminatório contra as comunidades minoritárias em Nova Iorque”, revela Matt Mahmoudi, investigador de Inteligência Artificial e Direitos Humanos da Amnistia Internacional.

“Há muito que sabemos que o stop-and-frisk em Nova Iorque é uma tática de policiamento racista”

Matt Mahmoudi

“Há muito que sabemos que o stop-and-frisk em Nova Iorque é uma tática de policiamento racista. Sabemos agora que as comunidades mais afetadas pelo stop-and-frisk estão também em maior risco de policiamento discriminatório, devido à vigilância invasiva”.

“O alcance surpreendente da tecnologia de reconhecimento facial na cidade deixa bairros inteiros expostos à vigilância em massa. Por essa razão, a polícia de Nova Iorque deve revelar exactamente como esta tecnologia invasiva é utilizada.

“O alcance surpreendente da tecnologia de reconhecimento facial na cidade deixa bairros inteiros expostos à vigilância em massa”

Matt Mahmoudi

“A proibição do reconhecimento facial para a vigilância em massa é um primeiro passo muito necessário para o desmantelamento do policiamento racista, e a Câmara Municipal de Nova Iorque deve fazer avançar imediatamente uma proibição abrangente”.

Mapa de Intersecções onde os voluntários encontraram câmaras CCTV: a vermelho, as câmaras públicas e a cinzento, as câmaras privadas. © Amnistia Internacional

 

Os resultados baseiam-se em dados obtidos por milhares de voluntários que fazem parte do projeto Decode Surveillance NYC, e que mapearam mais de 25.500 câmaras de CCTV em toda a cidade de Nova Iorque. A Amnistia Internacional trabalhou com cientistas de dados para comparar estes resultados com estatísticas de stop-and-frisk e dados demográficos.

As tecnologias de reconhecimento facial (FRT) para identificação são sistemas de vigilância de massa que violam o direito à privacidade e ameaçam os direitos à liberdade de reunião, igualdade e não-discriminação.

O Departamento de Polícia de Nova Iorque (NYPD) utilizou as FRT em pelo menos 22.000 casos entre 2016 e 2019. Os dados sobre incidentes de stop-and-frisk da Polícia de Nova Iorque desde 2002 revelam que as comunidades negra e latina têm sido o alvo esmagador destas táticas.

No ano passado, a Amnistia Internacional processou a Polícia de Nova Iorque depois de esta se recusar a divulgar registos públicos relativos à sua aquisição de FRT e outras ferramentas de vigilância. O caso está em curso.

 

Novo website interactivo que detalha a exposição da FRT

A Amnistia Internacional está ainda a lançar um novo website que permite aos utilizadores perceberem, num potencial percurso que queiram fazer em Nova Iorque, que locais estão expostos à vigilância FRT.

Durante o movimento Black Lives Matter em 2020, os nova-iorquinos presentes nos protestos foram sujeitos a níveis mais elevados de exposição à FRT. Por exemplo, um manifestante a caminhar da estação de metro mais próxima para o Washington Square Park estaria sob vigilância das câmaras Argus da NYPD em toda a sua rota.

“Quando olhámos para as rotas que as pessoas teriam percorrido a pé para chegar e sair dos protestos das estações de metro próximas, encontrámos uma cobertura de vigilância quase total por câmaras CCTV públicas, na sua maioria câmaras Argus da NYPD”, clarificou Matt Mahmoudi.

“A utilização detecnologia de vigilância em massa em locais de protesto está a ser aproveitada para identificar, seguir e assediar pessoas que estão apenas a exercer os seus direitos humanos”

Matt Mahmoudi

“O uso generalizado da tecnologia de reconhecimento facial é efetivamente uma stop-and-frisk digital. A utilização detecnologia de vigilância em massa em locais de protesto está a ser aproveitada para identificar, seguir e assediar pessoas que estão apenas a exercer os seus direitos humanos.

“Esta é uma tática completamente assustadora da Polícia de Nova Iorque, que não tem lugar numa sociedade livre, e que deve ser travada imediatamente”.

O website também permite aos utilizadores acompanhar a quantidade de FRT utilizada entre qualquer uma das principais atrações turísticas da cidade, traçando a distância e a rota possível tomada.

A Amnistia Internacional encoraja os nova-iorquinos a agir, enviando uma carta ao seu Membro do Conselho para a introdução de uma lei que proíba a FRT e ajude a proteger as suas comunidades. É possível assinar a petição da Amnistia Internacional em todo o mundo, que apela à regulamentação de quando e onde os sistemas públicos FRT são utilizados.

Os parceiros desta investigação com os quais a Amnistia Internacional trabalhou são: Julien Cornebise do Departamento de Informática da University College London; BetaNYC, uma organização cívica que utiliza dados e tecnologia para responsabilizar o governo; e o Dr. Damon Wischik, um cientista de dados independente.

A investigação marca a última fase da campanha Ban The Scan, que surgiu após investigações sobre vigilância em Nova Iorque e Hyderabad na Índia, no ano passado. A Amnistia Internacional apela a uma proibição total da utilização, desenvolvimento, produção, venda e exportação de FRT para fins de vigilância em massa, tanto por parte dos estados como do sector privado.

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