29 Abril 2020

No ano em que chegou à 18.ª edição, a Maratona de Cartas conseguiu gerar mais de seis milhões e meio de ações em todo o mundo. A Amnistia Internacional Portugal apostou na inovação e promoveu a iniciativa em formato digital.

Em 2019, a participação no maior evento de ativismo da organização atingiu um novo recorde global. No total, foram realizadas 6.609.837 ações, que envolveram 70 entidades da Amnistia Internacional, entre secções e escritórios regionais.

O caso da jovem iraniana Yasaman Ariany foi um dos destaques da última Maratona de Cartas. À semelhança de Edward Snowden em 2017, ultrapassou a fasquia de um milhão de ações.

Mobilização em Portugal

A Amnistia Internacional Portugal organizou, pela primeira vez, uma campanha totalmente digital. O objetivo passava por tornar as atividades mais sustentáveis, evitando imprimir dezenas de milhares de cartas.

Com o esforço coletivo de voluntários, ativistas, membros, apoiantes, escolas, universidades ou empresas foi possível promover 113.944 ações em torno de cinco casos. Entretanto, alguns já conheceram desenvolvimentos.

 

Magai Matiop Ngong

Com apenas 15 anos, Magai foi condenado à pena de morte, na sequência de um trágico acidente que vitimou um primo, no Sudão do Sul. Durante o julgamento, o jovem não teve acesso a um advogado.

A campanha global que foi desenvolvida em defesa de Magai procurou sensibilizar o presidente do país a comutar a sentença e colocar um ponto final na aplicação da pena de morte, sobretudo contra crianças.

A nível global, este foi o terceiro caso com mais participação, tendo superado as 700 mil ações. Um coro gospel de Portugal cantou os parabéns a Magai no dia do seu aniversário. Recorde aqui esse momento.

 

José Adrián

José é um jovem mexicano de ascendência maia, diagnosticado com incapacidades auditivas e cognitivas, que viveu um verdadeiro pesadelo quando tinha 14 anos. Depois de sair da escola, testemunhou um confronto entre um grupo de pessoas e a polícia, que terminou com o carro-patrulha vandalizado. Apesar de estar apenas de passagem, acabou por ser o único detido.

Na esquadra, José foi violentamente agredido pela polícia. Para que pudesse ser libertado, a família teve de pagar uma multa pelos danos causados no veículo.

Os desenvolvimentos positivos começaram logo em 2019, com a doação de um aparelho auditivo. A família também tem boas perspetivas de chegar a um acordo com a Comissão de Apoio a Vítimas do Estado, que inclui, por exemplo, uma bolsa escolar e apoio psicológico. Entretanto, José recebeu uma carta das autoridades que indica que não tem qualquer registo criminal. A investigação para responsabilizar quem o deteve e agrediu está, finalmente, em curso.

 

Marinel Sumook Ubaldo

Em 2013, Marinel tinha 16 anos e foi uma das sobreviventes do devastador Tufão Hayan/Yolanda, que passou pelas Filipinas. Mais de seis mil pessoas morreram e milhões ficaram sem casa.

Marinel tem estado envolvida na mobilização em torno da emergência climática, organizando greves estudantis na cidade de Tacloban e encontros com as autoridades locais.

Durante o COP25, a Comissão de Direitos Humanos das Filipinas anunciou que 47 empresas de combustíveis fósseis poderão ser responsabilizadas pelo seu impacto negativo no ambiente. O papel de Marinel para essa decisão foi fundamental, uma vez que testemunhou na investigação que conduziu a essas conclusões históricas.

 

Sarah Mardini e Seán Binder

Os dois voluntários, que acompanhavam operações de busca e salvamento de barcos ao largo da ilha de Lesbos, foram detidos pela polícia da Grécia. Durante mais de 100 dias, estiveram confinados a uma cela.

As acusações que enfrentam vão desde o auxílio à imigração ilegal até a atos de espionagem. Se forem considerados culpados, correm o risco de passar até 25 anos na prisão.

É inegável que a campanha global gerou uma onda de solidariedade e sensibilização em torno deste caso. A Amnistia Internacional continua a promover atividades em defesa de ambos, até que todas as acusações sejam retiradas.

 

Yasaman Aryani

Yasaman e a sua mãe, Monireh Arabshani, foram presas em abril de 2019. Crime? Terem participado numa ação de sensibilização no Dia Internacional da Mulher, no Irão.

Num vídeo que se tornou viral, distribuíram flores a outras mulheres, sem o hijab, numa carruagem de comboio, em Teerão. A Maratona de Cartas contribuiu não só para que este caso ganhasse visibilidade internacional, como também para mostrar o movimento iraniano de mulheres defensoras de direitos humanos, já que muitos dos seus elementos também se encontram presos injustamente.

A Amnistia Internacional registou 1.229.634 ações por Yasaman, que vão desde assinaturas em petições até cartas de solidariedade ou iniciativas públicas. Um dos objetivos da campanha foi cumprido: mãe e filha foram transferidas para a prisão de Evin. Apesar do objetivo principal ser a libertação de ambas, em fevereiro de 2020, uma decisão de um tribunal de recurso reduziu as sentenças de nove anos e sete meses para cinco anos e seis meses.

Artigos Relacionados