As autoridades chinesas têm de pôr termo à perseguição da jornalista cidadã Zhang Zhan, declarou a Amnistia Internacional, depois de a ativista ter sido novamente detida menos de quatro meses após ter sido libertada da prisão.
Zhang Zhan encontra-se detida no Centro de Detenção do Novo Distrito de Pudong, em Xangai, ao que parece por ter continuado a defender os direitos humanos após a sua libertação da prisão, a 13 de maio de 2024.
“A infelizmente previsível nova detenção de Zhang Zhan é o culminar da campanha de perseguição e assédio que o governo chinês tem levado a cabo contra ela, mesmo depois de Zhang Zhan ter sido “libertada” da prisão. Desde que foi libertada, Zhang tem sido sujeita a medidas de vigilância que se intensificaram no último mês”, declarou Sarah Brooks, diretora da Amnistia Internacional para a China.
“Esta última detenção sublinha a intolerância intratável das autoridades chinesas em relação à dissidência e à própria Zhang Zhan, que, apesar de ter sido injustamente presa, continuou a erguer a sua voz em solidariedade com outros ativistas de direitos humanos desde que foi libertada. Ela voltou a ser detida porque se recusou a ser silenciada”.
“Esta última detenção sublinha a intolerância intratável das autoridades chinesas em relação à dissidência e à própria Zhang Zhan”
Sarah Brooks
Após a sua libertação em maio, Zhang Zhan mostrou-se preocupada com o facto de as suas publicações online estarem a ser monitorizadas pelas autoridades.
De acordo com as informações recebidas pela Amnistia Internacional, ela foi regular e repetidamente levada para interrogatório policial ao longo do último mês, tendo alguns interrogatórios durado mais de 10 horas.
No final de agosto, foi noticiado que ela viajou de Xangai para a província de Gansu, no noroeste do país, para mostrar solidariedade com outros defensores dos direitos humanos. Pouco tempo depois, durante uma visita à sua cidade natal em Shaanxi, ficou subitamente incontactável; a sociedade civil informou que ela tinha sido detida pela polícia de Xangai, a mais de 1000 km de distância.
“No dia 2 de setembro, Zhang Zhan celebrou o seu 41.º aniversário — o primeiro desde que foi libertada. No entanto, em vez de celebrar este reencontro com a sua família, passou o seu quinto aniversário consecutivo privada de liberdade”, afirmou Sarah Brooks.
“Apelamos às autoridades chinesas que libertem imediata e incondicionalmente Zhang Zhan e garantam que lhe seja concedida total liberdade e proteção contra qualquer forma de vigilância ou assédio”.
“Apelamos às autoridades chinesas que libertem imediata e incondicionalmente Zhang Zhan e garantam que lhe seja concedida total liberdade e proteção contra qualquer forma de vigilância ou assédio”
Sarah Brooks
Contexto
Zhang Zhan é uma jornalista cidadã chinesa que foi presa por ter feito uma reportagem sobre os primeiros dias da pandemia de Covid-19 em Wuhan.
A ex-advogada, viajou para Wuhan em fevereiro de 2020 para fornecer informações no terreno sobre o que estava a acontecer na região. Publicou nas redes sociais informações sobre a forma como funcionários do governo tinham detido repórteres independentes e assediado famílias de doentes com Covid-19.
Desapareceu em Wuhan em maio de 2020. Mais tarde, veio a saber-se que tinha sido levada pelas autoridades chinesas e detida em Xangai, onde foi condenada por “provocar discussões e problemas” após um julgamento fictício.
Zhang Zhan foi libertada a 13 de maio de 2024, depois de cumprir uma pena de prisão de quatro anos. No entanto, desde a sua libertação, tem sido sujeita a uma vigilância rigorosa e a um assédio contínuo por parte das autoridades chinesas.
A Secção Portuguesa da Amnistia Internacional tem vindo a acompanhar o caso de Zhang Zhan desde a edição 2021/2022 da Maratona de Cartas. De 2021 a 2024, 44 667 pessoas em Portugal assinaram a petição que exigia a sua libertação imediata e incondicional. Nas próximas semanas, iremos promover novas ações para pressionar as autoridades chinesas a libertar Zhang Zhan e a terminar qualquer forma de vigilância ou assédio que impeçam a ativista de usufruir em pleno da sua liberdade.