20 Maio 2014

A grave carência no apoio internacional está a deixar muitos refugiados sírios no Líbano sem acesso a cuidados médicos segundo um novo relatório da Amnistia Internacional. A situação é tão desesperada que em alguns casos os refugiados têm que regressar à Síria para receberem o tratamento de que necessitam. 

 
O relatório, “Agonizing Choices: Syrian refugees in need of heath care in Lebanon” identifica graves falhas no nível de serviços médicos disponíveis para os refugiados. Em alguns casos os refugiados sírios, incluindo alguns que necessitam tratamento de emergência, foram rejeitados nos hospitais.
 
“O tratamento hospitalar e os cuidados médicos mais especializados para os refugiados sírios no Líbano são amplamente insuficientes, acrescida da enorme falta de financiamento internacional. Os refugiados sírios no Líbano estão a sofrer em resultado direto da vergonhosa inação da comunidade internacional em não financiar o programa de apoio das Nações Unidas no Líbano,” afirma Audrey Gaughran, Diretora para os Assunto Temáticos Globais na Amnistia Internacional.
 
As Nações Unidas pediram 1.7 mil milhões de dólares para o Líbano em 2014, uma parte do total de 4.2 mil milhões que as Nações Unidas pediram para os refugiados sírios, contudo apenas 17 por cento dos fundos foram assegurados.
 
O sistema de saúde no Líbano é largamente privatizado e muito caro, deixando muitos refugiados a depender dos cuidados médicos subsidiados pela Agencia das Nações Unidas para os Refugiados, o ACNUR. Contudo devido à falta de fundos o ACNUR foi forçado a introduzir um conjunto de critérios de escolha restritivos para avaliar as pessoas que necessitam de tratamento hospitalar. Mesmo quando os refugiados correspondem ao conjunto de critérios, a maioria paga do seu bolso 25 por cento dos custos.
 
Os refugiados sírios que padecem de doenças mais graves que requerem cuidados hospitalares ou tratamentos mais complicados são frequentemente mandados embora. Arif, um rapaz de 12 anos de idade, que sofreu queimaduras graves nas pernas, está entre aqueles a quem foi negado tratamento hospitalar, provocando o agravamento da sua situação. As suas queimaduras desenvolveram septicemia, as pernas incharam e infetaram. Ao abrigo das linhas-guia do ACNUR ele não é qualificado para ter cuidados médicos subsidiados, por isso aquela agência só conseguiu suportar os custos do tratamento durante cinco dias.
 
“O caso de Arif é um exemplo triste do impacto que a restrição ao acesso a cuidados médicos pode ter nas vidas dos refugiados sírios no Líbano,“ acrescenta Audrey Gaughran.
Eventualmente, alguma organização humanitária local poderá encontrar um médico voluntário que possa operar o Arif, mas de acordo com os relatórios vai precisar de 13 operações que não podem ser levadas a cabo no Líbano devido à falta de equipamento mais especializado.
 
“Tanto as Nações Unidas como os refugiados estão a enfrentar escolhas agonizantes,” diz Audrey Gaughran.
 
“O ACNUR e os seus parceiros estão a colocar prioridades nos cuidados primários de saúde e nos tratamentos de emergências que envolvem risco de vida. Este procedimento é vital, mas os profissionais de ajuda médica humanitária no terreno que falaram com a Amnistia Internacional foram perentórios sobre as presentes limitações no apoio aos cuidados hospitalares dos refugiados que só podem ser colmatadas se o financiamento à ajuda humanitária aumentar.”
 
Muitos refugiados sírios que têm cancro e outras doenças prolongadas também não conseguem suportar as despesas dos tratamentos de que necessitam no Líbano. Um número cada vez maior de famílias veem os seus rendimentos reduzidos devido às crescentes despesas médicas. Uma refugiada síria, Amal, tem que fazer uma viagem de regresso à Síria duas vezes por semana para realizar hemodialise que não pode pagar no Líbano. ”Tenho medo de regressar à Síria, mas não tenho escolha,” disse à Amnistia Internacional.
 
Alguns casos que no início são relativamente simples de tratar tornam-se situações graves devido às complicações causadas pela falta de tratamento.
 
“A doença está a arrastar famílias inteiras para a penúria. Há pouco mercado de trabalho para os refugiados sírios, a maioria dos quais chega ao Líbano com muito poucas ou nenhumas posses. As pessoas enfrentam o dilema de pagar os cuidados médicos ou a renda ou comprar comida,” lembra Audrey Gaughran.
 
“É tempo da comunidade internacional reconhecer as consequências do seu falhanço em providenciar ajuda adequada aos refugiados do conflito na Síria. Há necessidade urgente dos países aceitarem o apelo humanitário para a Síria e de oferecerem locais alternativos de realojamento para os refugiados mais vulneráveis, incluindo aqueles que estão mais necessitados de tratamentos médico,” afirma Audrey Gaughran.
 
A Amnistia Internacional reconhece que o fluxo de refugiados colocou uma grande pressão sobre os recursos do Líbano, incluindo nos serviços de saúde. Contudo, insta o governo a adotar uma estratégia de longo prazo que possa lidar com as necessidades da população dos refugiados sírios.
 
“O Líbano deve desenvolver uma estratégia nacional de forma a criar condições para todas as pessoas no Líbano, incluindo para os libaneses mais pobres e desprotegidos e para a população refugiada.
 
“O Líbano enfrenta escolhas difíceis ao lidar com as necessidades da sua própria população e com as obrigações face aos refugiados. Não pode ser deixado sozinho a enfrentar uma das mais graves crises de refugiados na história. Esta é uma responsabilidade internacional partilhada e os países com mais meios económicos devem ajudar.” 

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