No Dia Mundial do Ambiente, que se assinala hoje, tem a palavra Rigoberta Menchú Tum. A vencedora do Prémio Nobel da Paz em 1992 esteve em Portugal e partilhou a visão que tem do futuro com uma certeza: os ensinamentos do passado podem ser a chave de um mundo melhor. Sem esquecer o apego à terra, onde a natureza dá vida e os antepassados repousam, o conhecimento dos povos indígenas para combater o aquecimento global e a participação dos jovens.
“É importante ligar a luta contra o aquecimento global com a relação que temos com a mãe natureza. Os povos indígenas têm essa experiência”
Rigoberta Menchú Tum
“A preservação da mãe natureza e os conhecimentos ancestrais. Acredito muito nisso, nos ensinamentos maias e indígenas. Apesar de haver racismo e discriminação, são experiências e modelos de vida. É importante ligar a luta contra o aquecimento global com a relação que temos com a mãe natureza. Os povos indígenas têm essa experiência”, defende a ativista da Guatemala.
Para Rigoberta Menchú Tum, o futuro é dos jovens, que se têm mobilizado, cada vez mais, para as questões ambientais. A greve estudantil pelo clima é um desses exemplos de liderança que devem ser replicados noutras áreas.
“Os jovens podem pegar nas pontas e começar um projeto […] Mudar a família, mudar a comunidade e, depois, o país e o mundo. Há que começar pela família que, hoje em dia, tem muitos problemas e perigos”
Rigoberta Menchú Tum
“Não creio numa juventude que não participa. Na Guatemala, vejo mais jovens a participar nos processos eleitorais. Digo ‘lutem por mais transparência’ e felicito-os”, partilha.
Mas antes de mudarem o nosso mundo, é preciso que mudem o seu mundo, argumenta Rigoberta Menchú Tum. “Os jovens podem pegar nas pontas e começar um projeto […] Mudar a família, mudar a comunidade e, depois, o país e o mundo. Há que começar pela família que, hoje em dia, tem muitos problemas e perigos, como a violência doméstica”, exemplifica.
Da luta indígena ao Nobel
Rigoberta Menchú Tum nasceu no seio de uma família pobre, em 1959. A chama viva do Comité de Camponeses, que juntava trabalhadores agrícolas, vivia no pai. Aos 20 anos, decidiu juntar-se à causa e lutou contra a repressão do Estado que promoveu a destruição de centenas de aldeias maias e massacres de crianças, mulheres e opositores políticos. Mais de duas mil pessoas morreram, a maioria pertencente a povos de origem maia. Cerca de um milhão foram forçadas ao exílio.
A mãe, o irmão e o pai foram raptados ou assassinados. Esta história de sofrimento pessoal e de todo um povo acabou nas páginas de um livro e na promessa de luta pelos direitos humanos. Mesmo que, para isso, tenha enfrentado a prisão e o exílio, tendo sido apoiada pela Amnistia Internacional.
© Amnistia Internacional
Em 1992, Rigoberta Menchú Tum recebeu o Prémio Nobel da Paz pelo trabalho na defesa dos povos nativos da Guatemala. Hoje, prossegue a luta pelos direitos humanos através da fundação que leva o seu nome, apoiando crianças e jovens em idade escolar.
Nas conferências em que participa, um pouco por todo o mundo, não esquece o papel das mulheres na sociedade e reconhece que têm tido mais oportunidades de ascensão. Contudo, há problemas que resistem.
“Mais de 60 por cento da humanidade vive em condições de pobreza. E 60 por cento da humanidade são mais de quatro mil milhões de pessoas. Cada uma delas tem sentimentos, ilusões, sonhos e precisa de comer todos os dias”
Rigoberta Menchú Tum
“As mulheres [em posições elevadas da hierarquia] não criam uma agenda. Continuam com a que já existe”, lamenta, antes de acrescentar que, na América do Sul, a independência e o sucesso feminino “têm obstáculos”. “Um é o femicídio. Há muita perseguição, violência e crítica agressiva”.
E a pobreza? “A pobreza não é apenas estatística, é um crime contra a humanidade”. “Mais de 60 por cento da humanidade vive em condições de pobreza. E 60 por cento da humanidade são mais de quatro mil milhões de pessoas. Cada uma delas tem sentimentos, ilusões, sonhos e precisa de comer todos os dias”, sublinha Rigoberta Menchú Tum.