11 Março 2022

  •  Ataque matou pessoas que se encontravam na fila para o pão.
  •  Os ataques aéreos letais podem constituir crimes de guerra.

O ataque aéreo russo, que alegadamente matou 47 civis na cidade ucraniana de Chernihiv, pode constituir um crime de guerra, assinalou hoje a Amnistia Internacional, na sequência de uma investigação sobre o incidente.

Por volta das 12h15 do dia 3 de março, a pequena praça pública formada pelas ruas Viacheslava Chornovolae Kruhova de Chernihiv foi atingida por inúmeras bombas que, além de ter provocado mortes, destruiu ainda edifícios vizinhos.

Com base em novas entrevistas, na verificação e análise de provas em vídeo, a Equipa de Resposta à Crises da Amnistia Internacional concluiu que o ataque russo recorreu a, pelo menos, oito bombas aéreas não guiadas – conhecidas como dumb bombs (bombas estúpidas).

“O ataque aéreo que atingiu as ruas de Chernihiv foi desumano, perturbador, impiedoso e indiscriminado contra as pessoas que se encontravam na sua rotina e trabalho diário em casa, nas ruas e lojas” clarificou Joanne Mariner, diretora do Gabinete de Resposta a Crises da Amnistia Internacional.

“Este ataque é um dos mais mortíferos sobre a população ucraniana”

Joanne Mariner

“Este ataque é um dos mais mortíferos sobre a população ucraniana. O Procurador do Tribunal Penal Internacional deve investigar este ataque aéreo como um crime de guerra. Os responsáveis por estes crimes têm de ser levados à justiça, e as vítimas e as suas famílias devem receber plena reparação”.

A Administração Regional de Chernihiv informou que 47 pessoas (38 homens e nove mulheres) foram mortos no ataque. As filmagens verificadas do ataque mostram oito munições a serem largadas em sequência e a cair em fila, como é típico de um bombardeamento.

A Amnistia Internacional não foi capaz de identificar um alvo militar legítimo no local do ataque, ou próximo do mesmo. Outras imagens de satélite, de 28 de fevereiro, revelam uma fila de pessoas no exterior de um edifício que foi destruído pelo ataque. Com base nestas imagens e declarações recolhidas de testemunhas, a Amnistia Internacional acredita que a maioria das vítimas estava a aguardar numa fila para pão e outros alimentos, quando foram mortalmente atingidas pelos mísseis.

 

“Tudo foi destruído”

Quando as bombas atingiram Chernihiv, Alina, uma estudante de 21 anos, estava em casa com a sua família na Rua vizinha Ivana Bohuna.

Alina partilhou com a Amnistia Internacional: “Ouvi um zumbido muito alto e senti o nosso edifício a tremer. Foi como se o nosso apartamento estivesse a inflar… Dois segundos depois, ouvi as janelas a serem destruídas e dispersas para o pátio. O edifício tremeu tanto que pensei que já não haveria paredes.”

“O edifício tremeu tanto que pensei que já não haveria paredes”

Alina, vítima do ataque

“Quando ouvi o som ao longe, chamei a minha avó para vir comigo para o corredor. Deitámo-nos no chão e, provavelmente, foi isso que nos salvou.”

Os pais de Alina estavam na rua quando a explosão aconteceu e sobreviveram ao ataque. Alina acrescentou: “Num edifício próximo estava uma fila para pão e era para lá que os meus pais queriam ir… Não me lembro qual, mas um deles disse: ‘A fila é muito extensa, vamos embora’. E partiram. As pessoas que estavam nessa fila já não estão vivas”.

Yulia Matvienko, uma mãe de 33 anos, estava em casa com os seus filhos, também na Rua Ivana Bohuna, quando o ataque aconteceu. Sofreu um ferimento na cabeça, e relatou à Amnistia Internacional: “Estava a caminhar no corredor e nem sequer tinha chegado à cozinha quando, de repente, fiquei surda – não percebi o que estava a acontecer.

“Tudo começou a desmoronar-se e a cair subitamente. Os meus filhos gritaram. Durante vários segundos, foi como se apenas existisse silêncio e o tempo tivesse parado. Assim que pude, tirei os meus filhos debaixo dos escombros. O sangue dos ferimentos escorria-me, enquanto eu arrastava os meus filhos.

“Assim que pude, tirei os meus filhos debaixo dos escombros. O sangue dos ferimentos escorria-me, enquanto eu arrastava os meus filhos”

Yulia Matvienko, vítima do ataque

“Ficou tudo destruído, e a porta do edifício foi arrombada. Não permaneceu uma única janela e algumas varandas foram totalmente arrancadas. Ainda assim, as minhas crianças não tiveram um único arranhão, só o sangue dos meus ferimentos que caiu sobre elas. É um milagre”.

Nas filmagens do ataque, é possível identificar as munições que caem e ouvir o som, que é provavelmente de um avião de baixa e rápida passagem, consistente com as táticas utilizadas para ofensivas deste tipo. A queda de bombas não direcionadas em áreas povoadas viola a proibição dos ataques indiscriminados. Estas bombas provocam destruição numa área muito ampla e não são calculadas, nem precisas.

 

Verificação do Laboratório de Provas de Crise

O Laboratório de Provas de Crise da Amnistia Internacional verificou filmagens pós-ataque que revelaram edifícios destruídos e corpos nas ruas. As filmagens do Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia também expuseram os estragos e o esforços posteriores de salvamento.

Outros vídeos verificados após o bombardeamento exibiram a destruição generalizada e pelo menos uma cratera da queda da bomba bem visível, de tamanho consistente com munições de impacto superficial de aproximadamente 500kg.

Mais conteúdos verificados, referentes a um outro local de ataque aéreo na Ucrânia mostram uma bomba não direcionada FAB-500 M62 a ser removida pelas forças de defesa civil. São as mesmas bombas vistas num vídeo oficial lançado pelos militares russos, a 6 de março, onde se observa o lançamento de aviões Su-34 Fullback carregados com oito bombas FAB-500, um indicador da carga típica de combate nas atuais operações russas.

“Todos os Estados devem cooperar com o Tribunal Penal Internacional (TPI) e a nova Comissão de Inquérito estabelecida pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, para ajudar a garantir a responsabilização pelas graves violações de direitos humanos e crimes como este ataque. As vítimas deste conflito merecem justiça”, concluiu Joanne Mariner.

Já anteriormente, a Amnistia Internacional apelou para que o Direito Internacional Humanitário e o Direito Internacional dos Direitos Humanos fosse respeitado por todas as partes, à medida que se intensifica o conflito na Ucrânia.

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