4 Junho 2014

Nestes últimos dias, ao aproximar-se o 25º aniversário do 4 de junho da Praça Tiananmen, a Amnistia Internacional documentou dezenas de casos de ativistas perseguidos e intimidados, com as autoridades chinesas a tentarem suprimir em todas as frentes possíveis quaisquer eventos que visem recordar o massacre e honrar as suas vítimas.

Pelo menos 66 pessoas foram detidas em relação ao aniversário de Tiananmen. Entre elas está Luo Xi, um dos líderes do movimento estudantil que desencadeou os protestos populares pró-democracia em Pequim há 25 anos, e que foi detido sob suspeita de atos criminosos. Já Bao Tong, atualmente com 81 anos e o qual foi conselheiro político do antigo líder do Partido Comunista Chinês Zhao Ziyang, um dos mais fortes opositores dentro do regime ao assalto que as tropas fizeram na Praça de Tiananmen, foi forçado a sair da capital.

“As autoridades chinesas intensificaram a repressão nestes últimos dias. Parecem determinadas e dispostas a fazer o que for preciso para impedir as pessoas de assinalarem o 25º aniversário do massacre de Tiananmen. Estão a ir muito mais longe do que em anos anteriores, incluindo nos 20 anos, sendo muito mais as pessoas que desta vez foram detidas”, precisa o investigador sobre China da Amnistia Internacional, William Nee.

Esta campanha de forte perseguição “tem de parar”, insta o perito. “[As autoridades chinesas] têm de libertar imediatamente todos quantos foram detidos apenas por falarem pacificamente do massacre de Tiananmen. Este cerco sufocante à liberdade de expressão não irá calar as pessoas na China nem no resto do mundo, não conseguirá impor silêncio sobre a memória das vítimas do 4 de junho de 1989”, assegura.

A Amnistia Internacional registou e documentou a detenção de 18 ativistas sob acusações de práticas criminosas, em que se incluem também os advogados de direitos humanos Chang Boyang e Pu Zhiqiang. Outras 20 pessoas encontram-se em detenção domiciliária, incluindo Ding Zilin, porta-voz da organização Mães de Tiananmen, a qual foi proibida de regressar a Pequim. Mais dez pessoas estão desaparecidas e crê-se que detidas. E dez outras ainda foram obrigadas pela polícia a partirem para várias cidades no país, acompanhadas de escoltas da Agência de Segurança Nacional chinesa.

Ao longo das últimas semanas, foi apurado ainda que outras 12 pessoas foram interrogadas pela polícia, em relação ao aniversário do massacre.

A Amnistia Internacional marca este 25º aniversário de Tiananmen reiterando, uma vez mais, que o Governo da China tem de reconhecer publicamente as violações de direitos humanos que foram cometidas no assalto das tropas contra os manifestantes na praça em 1989. É também crucial que as autoridades abram um inquérito independente e imparcial de forma a julgar os responsáveis por aqueles abusos e instituam compensação às vítimas do massacre e seus familiares. Para a organização de direitos humanos, o Governo chinês deve pôr fim à intimidação e perseguição daqueles que assinalam e falam sobre os protestos de 1989 em Tiananmen e ainda de todos quantos exercem os seus direitos de liberdade de expressão e de reunião.

Esta recente vaga de repressão, de resto, desmascara a mentira nas declarações do Presidente, Xi Jinping, de que está a promover reformas e uma maior abertura. “O 25º aniversário de Tiananmen é um teste crítico às declarações do Presidente Xi de que está a permitir uma maior abertura. Pelo contrário, o chefe de Estado chinês optou pela repressão em vez da reforma,” avalia o secretário-geral da Amnistia Internacional, Salil Shetty.

“Os dirigentes chineses devem parar de brincar com a história e, em vez disso, fazer justiça às vítimas. Estas famílias devastadas merecem que o seu Governo lhes preste contas de modo aberto e total,” defende Salil Shetty. “Não é demasiado tarde para Xi mudar de rumo, pelo que o instamos a promover uma investigação aberta e independente à violenta repressão de 1989”, reforça o secretário-geral da Amnistia Internacional.

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