3 Junho 2011

 

 
Por Jezerca Tigani e Matteo de Bellis, activistas europeus da Amnistia Internacional
 
No Dia Internacional dos Roma, 8 de Abril, a nossa equipa visitou Roma e alguns campos onde as famílias ciganas vivem. Testemunhamos mais uma vez como o ‘Plano Nómada’, introduzido em 2009 pelo Presidente da Câmara de Roma, tornou a situação das famílias ciganas em Roma ainda mais difícil.
 
Nesse dia escrevemos no nosso blogue sobre um Centro de Acomodação na Rua Salaria 971, onde foram acolhidas algumas famílias desalojadas sob o ‘Plano Nómada’, sendo que algumas delas vivem neste Centro há mais de um ano. 
 
Devido à aplicação da regra de não visitantes, não foi permitido o acesso aos delegados da Amnistia Internacional. Contudo, a ONG que nos acompanhou, Associazione 21 de Luglio, conseguiu recolher informação sobre a vida no Centro e publicou, no dia 30 de Maio, um relatório que revela as condições deploráveis em que vivem estas famílias.
 
Este relatório, “La casa di carta”, descreve como vivem 360 pessoas nos quatro átrios da antiga fábrica. O centro está situado longe das áreas populacionais da cidade, dificultando o acesso a serviços básicos.  
 
Esta é a forma como o relatório descreve a situação dentro do centro:
 
“A estrutura não oferece condições confortáveis ou agradáveis; não é garantida a autonomia e a privacidade dos hóspedes; as suas características não parecem cumprir os regulamentos do  edifício, de saneamento e de prevenção de incêndio. A oportunidade de organizar actividades é quase inexistente; e o centro não parece garantir de qualquer forma:
 
– o respeito pela dignidade, liberdade pessoal, privacidade e individualidade;
 
– um ambiente de vida confortável, assim como ritmos de vida e padrões de recepção, bem como um espaço adequado às necessidades das crianças que crescem neste sítio;
 
– a manutenção de laços emocionais novos e antigos, devido à regra de não visitantes.”
 
O relatório descreve também a situação de uma criança, chamada “pequena R.”, que sofre de tetraplegia espástica e que segundo a sua condição médica requer transferência imediata para um ambiente adequado.
 
O estado de saúde da criança está em progressiva deterioração: aos problemas já encontrados somam-se complicações respiratórias e pulmonares. (…) A 12 de Abril de 2011, o Chefe do Gabinete de Medicina Preventiva do Serviço Nacional de Saúde de Roma escreveu reportando o estado de saúde e a situação familiar da criança, numa carta dirigida ao Director do Departamento de Serviços Sociais e Promoção da Saúde de Roma: “A situação de habitação actual é imprópria, desta forma é pedido que a família (ou a pequena R.) seja transferida com urgência para um ambiente adequado às necessidades específicas da família.” Devem ser acompanhados os resultados desta comunicação formal.
 
Enquanto a menina continua a viver nas mesmas condições e no mesmo local, juntamente com dezenas de famílias, questionamo-nos quanto tempo será necessário para que as autoridades de Roma compreendam que o ‘Plano Nómada’ é a resposta errada à situação – e que tem de ser descartado para dar lugar a soluções mais dignas.

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