29 Junho 2016

 

A Amnistia Internacional lançou uma nova campanha e investigação urgente para combater o racismo e a xenofobia no Reino Unido, face aos relatos de que se verifica um aumento substancial de abusos e ataques racistas na esteira do referendo em que foi votada a saída do país da União Europeia.

Ao longo da última semana, desde o referendo, na quinta-feira passada, 23 de junho, aumentaram as queixas apresentadas à polícia de prática de crimes de ódio. As Nações Unidas pronunciaram-se já também sobre as preocupações inspiradas por aquele acréscimo.

Face a este contexto, a Amnistia Internacional vai desenvolver investigação ao aumento do racismo e da xenofobia por todo o Reino Unido. A investigação examinará relatórios de abusos e as suas causas, incluindo a retórica e o discurso público e político tanto quanto ao referendo sobre a permanência/saída da União Europeia como sobre as recentes eleições locais para a presidência da Câmara de Londres.

A organização de direitos humanos lançou um apelo urgente a todos os conselhos do poder local para que condenem o racismo em todas as suas formas e expressões, e para que assumam o compromisso de que todos os programas e órgãos locais são providos dos recursos e apoios de que precisam para o combate e a prevenção do racismo e da xenofobia. A Amnistia Internacional visa que todos os concelhos locais do Reino Unido assinem este compromisso.

“Algumas pessoas sentem-se agora autorizadas a expressar opiniões racistas de uma forma a que não assistíamos há décadas”, nota a diretora da Amnistia Internacional Reino Unido, Kate Allen. “A campanha do referendo esteve marcada por uma retórica divisiva e xenófoba assim como por um enorme fracasso por parte dos líderes políticos em condenarem essa retórica. E estamos agora a colher o que foi semeado pelo furacão retórico durante o referendo”, avalia a perita.

Kate Allen sublinha que a Amnistia Internacional está atenta “aos relatos de abusos verbais, de ataques a edifícios, de slogans racistas em t-shirts, de tomadas de posição em que é propagada a mensagem para que pessoas abandonem o país e de outros atos de intimidação e ódio, que são inspiradores de profunda preocupação”.

“Por todo o Reino Unido, as pessoas deram consigo mesmas e de repente num país onde se sentem inseguras quanto ao futuro, ao futuro das suas famílias e quanto à segurança dos seus empregos e das suas casas. E precisam de ser tranquilizadas urgentemente de que podem sentir-se aqui seguras, protegidas e bem-vindas”, insta ainda a diretora da Amnistia Internacional Reino Unido. “Não vamos ficar a olhar sem fazer nada e permitir que o ódio se torne normal no Reino Unido”, remata.

O ativista Mohammed Samaana, enfermeiro e membro do grupo local em Belfast da Amnistia Internacional, foi alvo de um ataque verbal racista na noite de sábado passado num bar daquela cidade da Irlanda do Norte, por um homem que o questionou se era da União Europeia antes de lhe dizer “põe-te mas é a andar do nosso país!”

“Nunca tinha visto aquele homem e de repente virou-se para mim e perguntou: ‘És da União Europeia? Vai para o teu país. Põe-te mas é a andar do nosso país!’ De início pensei que aquilo era a gozar, mas ele continuou com os insultos e começou a ameaçar-me com os punhos. Aí achei que o melhor era ir-me embora do bar em vez de dar azo a que o incidente se tornasse mais grave”, contou.

Mohammed Samaana, cidadão com dupla nacionalidade palestiniana e britânica, e que vive há 15 anos na Irlanda do Norte e trabalha num hospital de Belfast, explica que aquilo que mais o “entristece” é que “os três homens e três mulheres que estavam com o outro não disseram nada, aceitando o racismo com o silêncio”. “Acho que todas as pessoas têm de se fazer ouvir agora e confrontar o racismo sempre e onde quer que seja que o vejam”.

O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad al-Hussein, emitiu esta terça-feira, 28 de junho, um comunicado sobre os ataques xenófobos que estão a ocorrer no Reino Unido: “Estou profundamente preocupado com os relatos de ataques e de abusos que, ao longo dos últimos dias, visam comunidades de minorias e cidadãos estrangeiros no Reino Unido. O racismo e a xenofobia são total, completa e absolutamente inaceitáveis em todas as circunstâncias. Insto as autoridades do Reino Unido a agirem para pôr fim a estes ataques xenófobos e a garantirem que todos os suspeitos de condutas racistas e contra estrangeiros são julgados”.

A Amnistia Internacional encoraja ainda todos os cidadãos a mostrarem a sua solidariedade a quem está a ser alvo destes abusos, com o uso online da hashtag #AgainstHate.

 

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