4 Maio 2016

A mundialmente famosa cantautora Angélique Kidjo e três inspiradores movimentos juvenis de ativistas em África foram distinguidos como covencedores este ano do prestigiante prémio Embaixador de Consciência da Amnistia Internacional, anuncia esta quarta-feira, 4 de maio, a organização de direitos humanos.

O galardão é partilhado em 2016 entre a artista nascida no Benim e expoente maior da música de origem africana, e os grupos de ativistas Y’en a marre do Senegal, Le Balai Citoyen do Burkina Faso e ainda Lutte pour le Changement (LUCHA) da República Democrática do Congo. Todos vão ser distinguidos na cerimónia de entrega destes prémios da Amnistia Internacional em Dakar, no Senegal, a 28 de maio.

“O prémio de Embaixador de Consciência é uma celebração daquelas figuras públicas ou grupos que demonstraram uma coragem excecional na defesa da justiça. Angélique Kidjo e os membros da Y’en a marre, do Le Balai Citoyen e da LUCHA todos deram provas notáveis de serem corajosos defensores dos direitos humanos e usaram os seus talentos para inspirar outros”, descreve o secretário-geral da Amnistia Internacional, Salil Shetty.

Vencedora de vários prémios Grammy, atribuídos pela indústria musical nos Estados Unidos, Angélique Kidjo fugiu do país natal na década de 1980 depois de ser pressionada a fazer concertos para o repressivo regime no poder no Benim.

Ao longo dos 30 anos de carreira em que lançou 12 álbuns, a cantautora tem sido sempre uma eminente defensora da liberdade de expressão e da educação das raparigas em África, assim como uma voz muito ativa no combate à mutilação genital feminina.

“Tentei sempre usar a minha voz – a cantar e a falar – para lutar contra a injustiça e a desigualdade. O trabalho da Amnistia Internacional através dos anos tem sido de tão grande coragem, tão extraordinário, que receber a distinção de Embaixadora de Consciência até me intimida! Este prémio vai renovar ainda mais as minhas energias para continuar a ser franca e bem audível sobre os temas cruciais de direitos humanos dos nossos tempos”, frisa Angélique Kidjo.

Y’en a marre (Fartos, numa tradução livre do francês) é um grupo de rappers e jornalistas do Senegal que juntaram forças em janeiro de 2011 para encorajar os jovens no país a registarem-se como eleitores e a exercerem o direito de liberdade de expressão.

Três dos membros fundadores do grupo foram detidos em fevereiro de 2012 por terem ajudado a organizar uma manifestação pacífica em protesto contra o Governo que estava na altura no poder.

Y’en a marre permaneceu ativo desde as eleições, organizando reuniões e instando o novo Governo a cumprir as promessas de reformas feitas, como a reforma agrária, questão essencial que afeta as populações rurais pobres do país.

“Não existem conclusões precipitadas, apenas responsabilidades abandonadas”, sustenta Fadel Barro, coordenador da Y’en a marre.

Le Balai Citoyen (Vassoura dos Cidadãos) é um movimento com raízes políticas no Burkina Faso extremamente ativo nos protestos pacíficos e cofundado por dois músicos, o artista de reggae Sams’K Le Jah e o rapper Smockey (Serge Bambara).

Este grupo tem dado voz a questões desde a confiscação de terras aos cortes de fornecimentos de energia, e tem mobilizado a população a reivindicar o livre exercício dos seus direitos e a lutar contra a impunidade. Sob o mote “depois da tua revolta, o teu voto”, Le Balai Citoyen geriu escolas de educação política com o objetivo de intensificar o registo de eleitores e as taxas de participação eleitoral dos jovens para as eleições de novembro passado no país.

O nome escolhido por este movimento faz referência à ideia de “limpeza” do que é visto como corrupção política no país e, ao mesmo tempo, aos hábitos de regular limpeza das ruas que é feita pelos cidadãos do Burkina Faso nos seus bairros. Os membros do grupo empunham vassouras durante os protestos que organizam para simbolizar aqueles dois conceitos.

“Le Balai Citoyen está honrado por receber este prémio. A todos que depositaram em nós a sua confiança e que reconheceram nos nossos atos o compromisso em lutar contra a injustiça: queremos reafirmar que a nossa convicção permanece tão forte e segura como os sonhos que lhes são subjacentes”, sublinha Smockey.

A LUCHA é um outro movimento juvenil de origem comunitária investido no protesto pacífico, tendo sido criado em Goma, cidade da região oriental da República Democrática do Congo, em 2012. O grupo é especialmente ativo em questões sociais, direitos humanos e a proteger as populações civis dos grupos armados. A LUCHA defende os valores de justiça social e de governação democrática através de ações não-violentas e apartidárias.

Membro do grupo, Fred Bauma foi detido com outros 26 ativistas em março de 2015 quando as forças de segurança do país irromperam na sala onde decorria uma conferência de imprensa, em Masina, nos arredores da capital, Kinshasa. Este evento foi organizado para lançar publicamente uma iniciativa juvenil – Filimbi – dedicada a educar os jovens a participarem no processo democrático na República Democrática do Congo.

Fred Bauma continua detido, tal como Yves Makwambala, que criou o website do movimento Filimbi. A Amnistia Internacional considera que ambos são prisioneiros de consciência, detidos apenas pelo exercício pacífico dos direitos de liberdade de expressão e de reunião.

Os protestos e ações organizadas pela LUCHA continuam a ser sistematicamente reprimidos pelas forças de segurança. Desde as detenções de Bauma e de Makwambala, por exemplo, 32 outras pessoas foram detidas apenas por exigirem que aqueles dois ativistas fossem libertos. Atualmente, pelo menos nove pessoas ligadas à LUCHA estão na prisão.

“Estamos muito felizes e profundamente honrados em receber este prestigiante prémio. Este é um reconhecimento do nosso compromisso, e um enorme encorajamento para que continuemos a nossa luta não-violenta pela justiça social e pela democracia no nosso país”, notou Juvin Kombi, membro da LUCHA. “Dedicamos este prémio a Fred Bauma e a todos os nossos conterrâneos que são perseguidos pelo seu envolvimento cívico e a todo o povo”, remata.

O prémio Embaixador de Consciência celebra indivíduos ou grupos que demonstram uma coragem excecional no combate à injustiça, que usam os seus talentos para inspirar outros e que promovem as causas de direitos humanos. Visa também lançar o debate, encorajar a ação pública e sensibilizar a opinião pública para histórias inspiradoras e assuntos de direitos humanos.

Entre os anteriores vencedores deste galardão estão Vaclav Havel (2003), Mary Robinson e Hilda Morales Trujillo (2004), U2 e Paul McGuinness (2005), Nelson Mandela (2006), Peter Gabriel (2008), Aung San Suu Kyi (distinguida em 2009, recebeu o prémio em 2012), Harry Belafonte e Malala Yousafzai (2013), Ai Wei Wei e Joan Baez (2015).

 

Artigos Relacionados