8 Maio 2012

Juba, Sudão do Sul – 24 de abril de 2012

A esperança de que a decisão tomada há duas semanas pelo Sudão do Sul de retirar as forças dos campos petrolíferos de Heglig, no Sudão, iria reduzir a tensão entre os dois países, parece ter-se desvanecido.

O Sudão respondeu à tomada de Heglig por parte das forças do Sudão do Sul com um aumento significativo nas investidas e bombardeamentos por parte da aviação Antonov e MiG no norte do Sudão do Sul.

Imediatamente após as forças sul sudanesas terem recuado, os raides abrandaram. Mas na segunda-feira, as bombas começaram a “chover” de novo.

Tem sido difícil determinar nos últimos dez dias quais têm sido os alvos exatos dos ataques aéreos sudaneses.

Alguns – mas não todos – parecem ter sido vistos perto dos locais onde estão a polícia ou os militares do Sudão do Sul.

Aparentemente um dos alvos era a ponte estratégica que liga capital do estado Unity, Bentiu, às áreas para norte em direção à fronteira – incluindo os campos de refugiados em Yida, Pariang e Nyeel, que visitámos.

Foram atingidas muitas localidades e regiões diferentes.

Só no estado de Unity houve bombardeamentos em Bentiu, Mayom, Abiemnhom e Manga.

As instalações de uma missão de manutenção de paz da ONU, na cidade de Mayom, foram atingidas por duas bombas e sofreram danos, a 15 de abril. Não houve baixas no ataque; mas há relatos pouco claros e contraditórios sobre o número de baixas noutros ataques, incluindo o número de civis que foram mortos e feridos.

O que se tornou desesperadamente claro para nós é o facto de estes ataques estarem a ter um impacto desestabilizador e potencialmente debilitante em importantes operações humanitárias.

Eles estão também a colocar em risco a proteção dos direitos humanos num sentido muito mais amplo.

O medo dos ataques é palpável em todo o lado, especialmente para os refugiados do Kordofão do Sul, que fugiram dos bombardeamentos indiscriminados e da falta de comida para procurarem um refúgio seguro no Sudão do Sul.

Estávamos nos campos de Yida e Nyeel quando os Antonovs e os MiGs sobrevoaram a zona em várias ocasiões.

Toda a gente, desde as crianças refugiadas até ao pessoal da ajuda humanitária internacional, pararam e olharam para cima com uma preocupação óbvia, questionando se as bombas iriam cair.

Ninguém acredita que os pilotos militares sudaneses consigam atingir com precisão exclusivamente alvos militares, mesmo que seja essa a sua intenção. Toda a gente se sente em risco. E com razão. Em novembro de 2011, por exemplo, as bombas caíram diretamente no campo de Yida, uma delas atingindo uma escola acabando, felizmente, por não explodir.

E agora, no rescaldo dos novos relatos sobre os ataques aéreos em Bentiu e Abiemnhom na segunda-feira, tem havido rumores, compreensíveis, de que a ONU e algumas organizações humanitárias estarão a querer retirar as equipas e as operações de Bentiu.

Bentiu é um palco crucial e um ponto estratégico para o trabalho que tem de ser feito para garantir que os campos de refugiados no estado de Unity estejam preparados para lidar com a queda iminente de bombas e para que o trabalho urgente de melhoria das infraestruturas de escolas e de outros projetos prementes nos vários campos possa continuar.

Este tipo de insegurança significa, inevitavelmente, o abrandamento da ajuda humanitária fundamental ou que pare completamente. A construção não pode prosseguir se as equipas não consigam chegar ou sejam impedidas de entrar nos campos de refugiados.

Com tão pouco tempo antes do início das chuvas, não há tempo a perder.

A comunidade internacional falou vigorosamente sobre o controlo de Heglig por parte do Sudão do Sul. Essas mesmas vozes devem tornar bastante claro ao governo sudanês que os bombardeamentos indiscriminados no Sudão do Sul são ilegais.

Os bombardeamentos indiscriminados arriscam-se a causar baixas civis, a semear o medo e a impedir os esforços cruciais da ajuda humanitária – sendo que todos põem em risco a proteção dos direitos humanos.

Os bombardeamentos indiscriminados devem parar imediatamente.

Por Alex Neve, Secretário-geral da Amnistia Internacional Canadá e Khairunissa Dhala, Investigadora para o Sudão da Amnistia Internacional

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