5 Fevereiro 2016

 

Dezenas de milhares de pessoas deslocadas pelos ataques conjuntos das forças russas e das do Governo sírio sobre o Norte da Síria têm de poder atravessar a fronteira e alcançar a segurança na Turquia, exorta a Amnistia Internacional face às notícias de que milhares de pessoas se encontram junto às passagens fronteiriças que permanecem fechadas.

Os testemunhos recebidos indicam que entre 40 mil e 70 mil pessoas estão a caminho da fronteira da Síria com a Turquia, em fuga dos pesados combates que decorrem nos arredores da cidade de Alepo. Mais de 20 000 pessoas estão já junto à passagem de fronteira de Bab al-Salam (na Síria) que liga à vila turca de Öncüp?nar, na Província de Kilis, e que se encontra atualmente encerrada.

“A Turquia tem permitido a entrada de elevados números de pessoas que fogem dos horrores da guerra e da catástrofe humana. E não pode fechar as suas portas a pessoas que estão em desesperada necessidade de segurança”, sublinha o vice-diretor da Amnistia Internacional para os Assuntos Globais, Sherif Elsayed-Ali.

Este perito recorda que “estas pessoas estão a fugir de ataques aéreos e de combates pesados; encontram-se traumatizadas e exaustas”. “A Turquia tem de os deixar entrar no seu território e a comunidade internacional deve fazer tudo para garantir que é dado o apoio adequado ao país”, prossegue.

A Amnistia Internacional tem documentando ataques generalizados e ilegais contra áreas civis e estruturas médicas por parte das forças militares do Governo sírio durante o conflito e também, e cada vez mais, por parte das forças russas, que se juntaram em aliança ao Governo sírio em setembro passado. Aqui se incluem provas colhidas pela Amnistia Internacional do uso ilegal de bombas não-guiadas em zonas densamente povoadas e de munições de fragmentação que produzem efeitos indiscriminados.

“As investidas devastadoras das forças conjuntas russas e sírias sobre Alepo estão a ter um impacto brutal na população civil, forçando muitos milhares de pessoas a fugirem dos ataques, e alimentando receios de que se lhes siga um cerco, conforme são cortadas as rotas de fornecimento para as áreas dominadas pelos combatentes da oposição. Só muito dificilmente é que a comunidade internacional pode vir dizer que está surpreendida por estarmos a assistir agora a este êxodo”, critica Sherif Elsayed-Ali.

O vice-diretor da Amnistia Internacional para os Assuntos Globais lembra ainda que “a conferência de doadores para a Síria de ontem [4 de fevereiro], em Londres, avançou com um compromisso de quase 10 mil milhões de dólares para ajudar as pessoas afetadas pela guerra na Síria, mas estes novos desenvolvimentos mostram uma vez mais como a urgência de assistência é crucial e urgente. A Turquia, a par do Líbano e da Jordânia, acolhem atualmente um vastíssimo e desproporcionado número de refugiados, e é essencial que a comunidade internacional cumpra as suas promessas e que também providencie uma parte justa de vagas de reinstalação para os refugiados”, insta ainda o perito da organização de direitos humanos.

A Amnistia Internacional tem vindo repetidamente a exortar os países vizinhos da Síria a manterem abertas um número suficiente de passagens fronteiriças, seguras, regulares e adequadamente localizadas para os refugiados que fogem do conflito. Mesmo assim, a Turquia, o Líbano e a Jordânia têm também repetidamente mantido as suas fronteiras fechadas, tal como o Iraque, tornando extremamente difícil para as pessoas atravessarem e forçando-as a tomar rotas perigosas e irregulares assim como a meterem-se nas mãos dos traficantes de pessoas.

Apesar do compromisso feito esta quinta-feira, a resposta global da comunidade internacional à crise na Síria tem sido também totalmente inadequada e as agências de ajuda humanitária tiveram de cortar no apoio que é prestado às pessoas necessitadas de assistência. O financiamento e as promessas de reinstalação – através da oferta de residência e de assistência aos refugiados que fugiram dos seus países de origem, assim como de outras formas e rotas legais e seguras – continuam a ser vergonhosamente escassas.

A crise dos refugiados sírios em números

A Amnistia Internacional exorta, em petição, os líderes políticos a mudarem as políticas de asilo nos seus países e, em particular, os governos europeus a garantirem que os refugiados encontram um destino seguro na Europa, através dos mecanismos de reinstalação e outros que permitam a admissão legal e segura nos seus territórios de quem foge de conflitos e perseguição. Assine!

 

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