8 Fevereiro 2021

Ameaças, assédio e acusações contra menores de idade fazem parte da tentativa cada vez mais desesperada das autoridades bielorrussas em reprimir a dissidência, alerta a Amnistia Internacional, quando passam seis meses do início dos protestos no país. Há crianças a enfrentar penas de prisão, enquanto outras vivem com o medo de ser institucionalizados ou ver os pais atrás das grades.

“O tratamento dado pelas autoridades às crianças tem sido completamente inaceitável. Algumas acabaram sob detenção arbitrária e enfrentam acusações criminais forjadas, como se fossem adultos”

Aisha Jung, campaigner da Amnistia Internacional Bielorrússia

“Na brutal repressão à dissidência, o tratamento dado pelas autoridades às crianças tem sido completamente inaceitável. Algumas acabaram sob detenção arbitrária e enfrentam acusações criminais forjadas, como se fossem adultos”, denuncia Aisha Jung, campaigner da Amnistia Internacional Bielorrússia.

“Crianças com apenas oito anos foram ameaçadas nas escolas porque os seus pais são politicamente ativos. Uma das formas mais traiçoeiras de assédio e intimidação é a ameaça de usar a legislação para retirar os menores das famílias e colocá-los aos cuidados do Estado, tornando-os efetivamente reféns do governo”, acrescenta.

Aleh, de 14 anos (nome fictício por motivos de segurança), foi detido pela polícia de intervenção, no dia 12 de agosto, em Minsk, juntamente com centenas de manifestantes pacíficos e transeuntes. “No autocarro, bateram-lhe, puxaram-lhe o cabelo e os dedos para forçá-lo a desbloquear o telemóvel”, relatou a mãe à Amnistia Internacional.

Os agentes encontraram um pequeno folheto com a bandeira vermelha e branca da oposição bielorrussa no seu bolso. Isso foi o suficiente para os serviços de proteção à criança colocarem a família numa lista de monitorização, alegando que Aleh vive numa “situação socialmente perigosa”. Agora, ele e a família vivem em constante medo de serem separados.

“Este tratamento desumano de crianças pelo Estado, com motivações políticas, e a campanha de intimidação de todos os dissidentes devem terminar imediatamente”

Aisha Jung, campaigner da Amnistia Internacional Bielorrússia

“Este caso resume a crueldade da repressão das autoridades bielorrussas aos direitos, indo a extremos para intimidar os críticos após as eleições que foram amplamente contestadas. Este tratamento desumano de crianças pelo Estado, com motivações políticas, e a campanha de intimidação de todos os dissidentes devem terminar imediatamente”, apela Aisha Jung.

Recentemente, a Amnistia Internacional lançou um relatório que revela como as autoridades bielorrussas transformaram o sistema judicial numa arma para punir as vítimas de tortura, em vez dos responsáveis por tais atos.Embora as autoridades bielorrussas tenham admitido ter recebido mais de 900 denúncias de abusos cometidos pela polícia, nenhuma investigação criminal foi iniciada contra agentes. Em contrapartida, foram abertas centenas contra manifestantes pacíficos, muitos dos quais vítimas de tortura e maus-tratos.

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