21 Março 2014

O primeiro tweet foi enviado há exatamente oito anos e na Turquia este aniversário está a ser assinalado hoje da forma mais peculiar: o Governo turco bloqueou ontem à noite, a pouco mais de uma semana de eleições municipais no país, o acesso ao Twitter. A Amnistia Internacional insta as autoridades turcas a inverterem imediatamente esta decisão de impedir o acesso dos cidadãos àquela ferramenta das redes sociais.

“A decisão de fechar o acesso ao Twitter é um ataque sem precedentes à liberdade de internet e à liberdade de expressão na Turquia. Esta medida draconiana, aplicada ao abrigo da muito restritiva legislação turca de internet, mostra bem até onde o Governo está disposto a ir para silenciar as críticas anti-governamentais”, frisa o investigador da Amnistia Internacional perito em Turquia, Andrew Gardner.

A ordem de bloqueio do acesso ao Twitter entrou em prática ontem à noite, 20 de março, pouco antes da meia-noite, algumas horas após o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, ter ameaçado “suprimir o Twitter”, durante um discurso, perante milhares de apoiantes, num comício eleitoral para as municipais (agendadas para 30 de março).

Os utilizadores das redes sociais na Turquia criticaram prontamente esta decisão e mais de um milhão de tweets foram enviados nas horas que se seguiram à ordem de supressão de acesso, com os internautas a descobrirem rápida e eficientemente formas de contornarem o bloqueio e usarem mesmo assim o Twitter.

Este bloqueio constitui um ataque flagrante aos direitos dos cidadãos turcos de partilharem e receberem informação, tanto mais grave a pouco mais de uma semana das eleições, marcadas já pela divulgação – que ocorreu em força no Twitter – de uma série de gravações de conversas telefónicas que alegadamente consubstanciam práticas de corrupção no Governo e interferência nos media e nas empresas do país.

O Twitter tem uma base de utilizadores na Turquia de cerca de 10 milhões de pessoas. O uso deste site de micro-blogging aumentou rapidamente no país desde as manifestações do Verão passado no Parque Gezi, com as pessoas a usarem aquele media para partilharem as suas opiniões e receberem informações que não apareciam nos principais órgãos de comunicação social turcos com ligações às autoridades.

O Governo turco tem vindo a atacar as empresas de redes sociais e os seus utilizadores, e o próprio primeiro-ministro descreveu o Twitter como “um flagelo”. Estes ataques inserem-se numa estratégia de silenciamento e desacreditação daqueles que se expressam contra a repressão feita pelo Governo do movimento de contestação no país, incluindo médicos, advogados e jornalistas.

“Os media sociais são há muito uma pedra no sapato do Governo. Não só são largamente usadas pelos críticos [das autoridades] mas também os donos destes sites se mostram aparentemente imunes às ameaças e táticas de intimidação usadas contra os media nacionais”, nota Andrew Gardner.

“A decisão de bloquear o Twitter é um muito mau sinal da forma como o Governo turco está a usar a lei de internet, recentemente revista, para controlar os conteúdos online. E tal constitui um ataque validado pelos tribunais à liberdade de expressão”, remata este perito da Amnistia Internacional.

 

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