15 Abril 2019

É preciso mais ajuda para proteger os direitos das vítimas do ciclone Idai, considerado um dos piores desastres naturais que atingiu a África Austral. Apesar de a comunidade internacional ter mobilizado fundos e assistência humanitária, o impacto devastador da tragédia exige que o apoio não fique por aqui. Malawi, Moçambique e Zimbabué agradecem.

“O ciclone Idai deixou um rasto de sofrimento, causando um caos ainda maior nos dias seguintes à sua passagem. À medida que as agências humanitárias internacionais e os governos estrangeiros e também afetados estão numa luta contra o tempo para salvar pessoas, são necessários muito mais recursos financeiros e técnicos para assegurar o acesso destas aos serviços essenciais que precisam”, alerta o diretor Regional para a África Austral da Amnistia Internacional, Deprose Muchena.

A resposta humanitária nos três países afetados continua a aumentar, mas é essencial reunir mais fundos. Dos 390 milhões de dólares necessários, apenas 88 milhões já chegaram ao terreno.

“São necessários muito mais recursos financeiros e técnicos”

Deprose Muchena

“É óbvio que o Malawi, Moçambique e o Zimbábue não conseguem lidar sozinhos com as consequências devastadoras. Embora a comunidade internacional tenha enviado ajuda e assistência, isso não é suficiente para lidar com o impacto devastador do ciclone. É imperativo fornecer mais assistência para proteger os direitos humanos”, realça Deprose Muchena.

O ciclone Idai tocou terra na noite de 14 de março, provocando a morte a centenas de pessoas. O impacto total da tempestade é desconhecido, mas afetou infraestruturas vitais, como escolas, hospitais, estradas, redes de saneamento e comunicação. Milhares de hectares de plantações à beira da colheita ficaram destruídos, aumentando os receios de carências alimentares para as populações nos próximos meses.

“Embora a comunidade internacional tenha enviado ajuda e assistência, isso não é suficiente para lidar com o impacto devastador do ciclone”

Deprose Muchena

O perigo da cólera

Milhares de casos de cólera já foram relatados nos três países, resultando em várias mortes. Sem redes seguras de abastecimento, há quem não tenha outra alternativa senão beber água contaminada.

Um programa de vacinação já está em andamento, ao mesmo tempo que as equipas médicas tratam quem lhes chegam. A malária é outra realidade, com mais casos do que é habitual.

“Milhares de pessoas lutam para garantir as suas necessidades básicas, já que continuam a enfrentar falta de alimentos, riscos para a saúde e acesso limitado a água potável devido aos danos nas infraestruturas. É necessária mais assistência internacional para garantir que as pessoas não fiquem sem bens de primeira necessidade, como comida, água potável e medicamentos”, afirma Deprose Muchena.

“Esta situação mostra como os direitos das pessoas estão em risco e precisam de ser, urgentemente, protegidos. Não só agora, mas também nos próximos meses, durante os quais os efeitos do ciclone ainda vão ser sentidos”, conclui.

O ciclone Idai foi uma tempestade, extraordinariamente, agressiva e prolongada. No futuro, este tipo de fenómenos naturais deve aumentar devido aos efeitos das alterações climáticas.

“Esta situação mostra como os direitos das pessoas estão em risco e precisam de ser, urgentemente, protegidos”

Deprose Muchena

Quem vive em contextos de pobreza, marginalização ou discriminação encontra-se mais vulnerável ​​aos impactos por disporem de menos recursos e opções. Por isso, a Amnistia Internacional está a apelar aos países afetados e às autoridades dos estados com maior responsabilidade e capacidade para agir sobre as alterações climáticas para que construam uma maior capacidade de gestão futura de riscos de desastres, com um foco especial na resiliência das pessoas mais necessitadas.

Contexto

Até agora, o ciclone Idai afetou mais de cinco milhões de pessoas. Os três países afetados – Malawi, Moçambique e Zimbabué – são vulneráveis ​​a desastres naturais, como cheias e secas, que têm causado repetidas devastações ao longo dos anos.

As crianças estão entre os mais afetados pela tempestade, com a UNICEF a declarar que mais de 1,5 milhões estão em risco. A agência da ONU expressou “preocupação com a disseminação de doenças transmitidas pela água devido às condições atuais, incluindo águas estagnadas, fontes de água contaminadas, falta de higiene, corpos em decomposição, superlotação em abrigos temporários”.

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