Assinalam-se hoje cinco anos desde a morte de Pedro Henrique, ativista brasileiro e defensor da justiça racial e dos direitos humanos. Na madrugada de 27 de dezembro de 2018, três homens encapuzados invadiram a casa de Pedro Henrique, tendo-o alvejado oito vezes na cabeça e no pescoço. O ativista vivia com a sua namorada que se encontrava a descansar com ele naquela noite e que, posteriormente, veio a reconhecer os três homens como pertencendo à polícia. Cinco anos depois, os agentes continuam a exercer a sua atividade profissional.
Desde a morte de Pedro Henrique que a sua mãe, Ana Maria Santos Cruz, procurou obter justiça pela morte do filho. Apesar de receber constantes ameaças, Ana Maria tem mantido a sua missão para garantir uma investigação e julgamento independentes e rigorosos, capazes de responsabilizar os envolvidos no assassinato do seu filho.
Ana Maria tem mantido a sua missão para garantir uma investigação e julgamento independentes e rigorosos, capazes de responsabilizar os envolvidos no assassinato do seu filho
Ana Maria Santos Cruz, mãe de Pedro Henrique. Créditos a Gabriel Yjalade/Amnesty International.
Em 2012, Pedro Henrique foi alvo de violência policial à frente de casa do seu pai. A partir do ano seguinte, passou a organizar as “Caminhadas da Paz” – marchas anuais contra os abusos policiais em Tucano (na Bahia) -, que aglomeravam jovens, adultos e idosos da sua comunidade, de forma pacífica, com o objetivo de apelar ao fim dos abusos policiais contra a população negra. Após a sua morte, Ana Maria e a irmã de Pedro Henrique assumiram a liderança destes eventos, em homenagem a Pedro Henrique e pela urgência, cada vez maior, em desafiar os abusos policiais.
O ativismo de Pedro Henrique foi visto com maus olhos pelas autoridades. Além das intimidações policiais que lhe eram dirigidas, a polícia começou a controlar os seus movimentos. Entre 2013 e 2018, o ativista apresentou ao Ministério Público do Estado da Bahia pelo menos cinco denúncias relativas a ameaças e agressões de que foi vítima. A sua última queixa foi contra dois polícias que, segundo Pedro Henrique, o abordaram de forma violenta, tendo-o pontapeado, esbofeteado, esmurrado e ameaçado. As suas queixas não foram devidamente investigadas, e o Ministério Público só abriu um inquérito dois anos e cinco meses depois de Pedro Henrique ter sido morto.
É por este histórico de abusos policiais sofridos pelo filho, pela impunidade na forma de atuação policial, pela desconsideração das denúncias feitas por Pedro Henrique durante a sua vida e pela ausência de uma investigação do assassinato do ativista que Ana Maria não deixa de criticar e denunciar a ação policial através das redes sociais e em entrevistas. A mãe de Pedro Henrique enfrenta já seis ações judiciais movidas por oficiais da polícia militar que pretendem usar os tribunais para restringir o seu direito à liberdade de expressão e para a silenciar.
A mãe de Pedro Henrique enfrenta já seis ações judiciais movidas por oficiais da polícia militar que pretendem usar os tribunais para restringir o seu direito à liberdade de expressão e para a silenciar
O caso de Ana Maria é um dos escolhidos este ano pela Maratona de Cartas da Amnistia Internacional, o maior momento anual de ativismo. No site da organização, é possível juntar a sua assinatura à petição que apela por justiça pela morte de Pedro Henrique e também enviar a esta mãe uma mensagem de solidariedade.
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