10 Julho 2019

A Amnistia Internacional endereçou uma carta aberta aos funcionários da plataforma TripAdvisor para que estes exijam que a empresa pare de lucrar com crimes de guerra, ao listar atrações turísticas em colonatos israelitas situados nos Territórios Palestinianos Ocupados.

“Ao promover o turismo nesses colonatos ilegais, a plataforma TripAdvisor está a ajudar a impulsionar a sua economia e a contribuir para o imenso sofrimento dos palestinianos que foram retirados da terra que lhes pertencia”

Mark Dummett, Amnistia Internacional

“A política israelita de estabelecer cidadãos em terras palestinianas que foram roubadas é um crime de guerra. Ao promover o turismo nesses colonatos ilegais, a plataforma TripAdvisor está a ajudar a impulsionar a sua economia e a contribuir para o imenso sofrimento dos palestinianos que foram retirados da terra que lhes pertencia, viram as casas destruídas e os recursos naturais saqueados”, afirma o perito Mark Dummett, especialista em Empresas e Direitos Humanos da Amnistia Internacional.

A carta aberta recorda que os colonatos têm um impacto devastador nos direitos humanos dos palestinianos, numa clara violação do direito internacional. A situação remonta à ocupação da Cisjordânia e inclui a questão de Jerusalém Oriental.

“Para manter e expandir os colonatos ilegais, Israel impõe um sistema de discriminação institucionalizada e de violações dos direitos humanos contra os palestinianos, transformando a sua vida quotidiana numa luta. Pedimos a todos que trabalham para o TripAdvisor que defendam os direitos humanos e se juntem a nós para exigir que a empresa remova das suas listagens as atrações nos Territórios Palestinianos Ocupados ou nas áreas relacionadas com estes. Crimes de guerra não são uma atração turística”, conclui Mark Dummett.

O exemplo da aldeia de Khirbet Susiya

Há um ano, a ativista Sabrina Tucci viajou até aos territórios ocupados e teve a oportunidade de conhecer Khirbet Susiya. Por lá, a família Nawaja acolheu-a em casa – uma grande tenda em estilo beduíno – com chá e histórias de como os colonatos devastaram a vida de toda uma comunidade.

Localizada no sul da Cisjordânia, a aldeia acolhe cerca de 300 palestinianos. “Enquanto caminhava, fiquei logo impressionada com a pobreza dos seus habitantes. A maioria vive em abrigos de madeira precários e tendas empoeiradas. No lado oposto a esta paisagem árida, a pouco mais de um quilómetro de distância, fica o colonato israelita de Susya. Tranquilo e bem conservado, abriga mil pessoas e fez-me lembrar os subúrbios opulentos do Ocidente, que tantas vezes simbolizam a desigualdade”, relata.

O colonato foi fundado no ano de 1985, em terras que pertenciam a habitantes palestinianos. As autoridades israelitas despejaram todos aqueles que ali viviam, bem perto das antigas ruínas de Susiya, o que configura um crime de guerra e uma violação do direito internacional. Atualmente, esse núcleo arqueológico e uma zona de vinhas estão listados como atrações turísticas na plataforma TripAdvisor. O negócio criado à volta de ambos, que vai desde licores, mel e chocolate, até azeite, cremes e artesanato, tem origem nos colonos. Eis o travo amargo da injustiça.

“Enquanto caminhava, fiquei logo impressionada com a pobreza dos seus habitantes. A maioria vive em abrigos de madeira precários e tendas empoeiradas. No lado oposto a esta paisagem árida, a pouco mais de um quilómetro de distância, fica o colonato israelita de Susya. Tranquilo e bem conservado, abriga mil pessoas e fez-me lembrar os subúrbios opulentos do Ocidente”

Sabrina Tucci, Amnistia Internacional

As famílias deslocadas de Khirbet Susiya jamais receberam qualquer habitação alternativa ou compensação, quando foram obrigadas a sair. Ainda assim, há resistentes, como a família Nawaja. O preço dessa decisão é simples: menos área agrícola para cultivo e redução das cabeças de gado, que constituem a principal fonte de rendimento.

As autoridades israelitas recusam fornecer água, eletricidade e saneamento às famílias que se mantêm às portas do colonato. Mas o pesadelo não fica por aqui.

“Os palestinianos de Khirbet Susiya também vivem em constante sobressalto de que as suas casas ou outras propriedades possam ser demolidas, a qualquer momento, porque foram forçados a construir sem permissão, já que nunca obtêm autorização das autoridades israelitas”, conta Sabrina Tucci.

Estas famílias também são alvo de violência e perseguição dos colonos. Oia descreve como três filhas menores foram atacadas com pedras quando voltavam da escola: “Aqui, na aldeia, as mães têm medo de que crianças usem a estrada alcatroada, pois podem ser atacadas por colonos”. A mais velha complementa: “Não gosto de ir à escola por causa dos colonos. Estão armados e são mais perigosos do que o exército”.

Recorde o vídeo promocional que a TripAdvisor não quer que partilhem

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