8 Abril 2014

Discriminação, desalojamentos forçados violentos, ataques, uma vida sem casa e pobreza extrema: a vida dos cerca de 20 mil membros das comunidades ciganas residentes em França – a maioria imigrantes – é muito diferente da imagem idílica que as autoridades do país tentam passar.

A maior parte dos migrantes ciganos em França vivem em acampamentos informais, onde o acesso a água e saneamento é escasso ou não existe mesmo. Sofrem os efeitos de uma discriminação enraizada e são muito frequentemente alvo de ataques brutais por multidões e até mesmo agentes da polícia.

Alguns políticos franceses aumentam esta discriminação, avaliando que as comunidades ciganas têm “um estilo de vida peculiar” e que “não se querem integrar”. Em setembro de 2013, o então ministro do Interior francês (e, agora, primeiro-ministro), Manuel Valls, disse, numa entrevista à Radio France Internationale que “essas pessoas [referindo-se às comunidades ciganas] têm estilos de vida extremamente diferentes dos nossos e, por essa razão, devem regressar à Roménia ou à Bulgária”.

Um ano antes, a 27 de setembro de 2012, uma multidão em fúria alegadamente armada com pistolas e espingardas atacou um grupo de 50 pessoas da comunidade cigana de Les Créneaux, um bairro no extremo norte de Marselha. Ameaçaram deitar fogo a todos os pertences e deixaram bem claro que queriam que eles partissem.

“Disseram-nos que nos matavam se ficássemos. As mulheres e as crianças estavam aterrorizadas e choravam. Chamei a polícia e os agentes, quando chegaram uns minutos depois, disseram que tínhamos de partir imediatamente. Apanhámos algumas das nossas coisas e corremos dali para fora. Assim que virámos costas deitaram fogo a tudo o que tínhamos deixado para trás”, contou um dos residentes do acampamento aos investigadores da Amnistia Internacional.

A polícia francesa sustenta que a investigação a este incidente ainda decorre, mas para já não conseguiram identificar nenhum dos atacantes porque supostamente já tinham abandonado o local antes dos agentes lá chegarem.

Num outro incidente, em março de 2013, na zona de St. Louis, também em Marselha, uma mulher de etnia cigana teve de ser assistida no hospital na sequência de um ataque por um grupo que lançou gás lacrimogéneo contra o abrigo onde ela e outras nove pessoas viviam. As vítimas do ataque decidiram não fazer queixa à polícia com medo de retaliações dos que os tinham atacado.

Só muito raramente as comunidades ciganas apresentam queixas à polícia, uma vez que não têm confiança nas forças de segurança. A questão é que agentes de polícia já estiveram envolvidos em casos de violência contra as comunidades ciganas em França.

“As pessoas das comunidades ciganas têm mesmo muito medo da polícia. Costumo levar as crianças ao hospital quando precisam de tratamentos médicos e eles ficam verdadeiramente aterrados quando vêm um polícia”, relatou à Amnistia Internacional um homem da etnia cigana que costumava viver num acampamento informal e agora trabalha como assistente social junto destas comunidades.

Membros das comunidades ciganas que vivem sem-abrigo em Paris veem-se a braços com uma muito maior probabilidade de serem intimidados pela polícia, do que ser-lhes oferecida ajuda – as forças de segurança não os querem no centro da capital.

Gheorghe, um cigano que se abriga na Place de la République com a mulher e os três filhos, contou à Amnistia Internacional: “Todas as semanas vem um polícia à praça e deita fora os nossos pertences… os cobertores, os colchões e as roupas que temos”.

Todo o relatório da investigação da Amnistia Internacional à situação das comunidades ciganas por toda a Europa, aqui: http://bit.ly/1hbigjL

 

Artigos Relacionados