8 Junho 2012

O Conselho de Segurança da ONU deve cumprir o seu dever de proteger os civis no Sudão e deve tomar medidas imediatas para parar os ataques militares aéreos indiscriminados, diz a Amnistia Internacional num novo relatório que realça a necessidade de ser dado acesso imediato, às organizações humanitárias, às áreas afetadas pelo conflito nos estados do Cordofão do Sul e Nilo Azul, no Sudão.

Desde que a violência eclodiu naqueles dois estados, há um ano, mais de meio milhão de pessoas foram deslocadas devido aos persistentes ataques aéreos por parte das Forças Armadas Sudanesas, mas também à severa escassez de alimentos despoletada pela recusa das autoridades sudanesas de permitirem a entrada da ajuda humanitária independente nas áreas afetadas.

Dezenas de milhares de refugiados fugiram para o vizinho Sudão do Sul, onde enfrentam riscos acrescidos de abusos dos direitos humanos ou de falta de condições humanitárias.

“A situação é desesperada e o tempo está a esgotar-se para assegurar que os refugiados tenham proteção adequada e mantimentos durante os seis meses da estação das chuvas, isto quando os constrangimentos logísticos no Sudão do Sul frustram as tentativas de prestar assistência,” diz Khairunissa Dhala, investigadora do Sudão da Amnistia Internacional.

“Durante mais de um ano o Conselho de Segurança da ONU tem sido lento a reagir e tem assistido à catástrofe a desenrolar-se. É tempo de cumprir o seu mandato e atuar de forma a prevenir que a situação já de si catastrófica se deteriore ainda mais. Em particular, a Rússia e a China devem apoiar uma resposta mais musculada do Conselho de Segurança.”

A Amnistia Internacional visitou oito campos de refugiados no Sudão do Sul, em março e abril de 2012, onde os habitantes enfrentam riscos recrutamento à força por parte dos grupos armados e violência sexual, além de falta de água e alimentos.

O relatório “We can run away from bombs, but not from hunger”: Sudan’s refugees in South Sudan, agora divulgado, detalha como alguns refugiados no campo de refugiados de Yida, no estado de Unity têm que esperar quase 10 horas para receberem um recipiente com água ou três semanas para ter acesso a porções de alimentos.

A Amnistia Internacional verificou que uma grande percentagem dos refugiados são menores desacompanhados que fugiram à violência para poderem continuarem a estudar, contudo as estruturas escolares em alguns campos lutam para se manter e noutros campos nem existem.

No campo de refugiados do estado de Upper Nile, a organização recebeu relatos de recrutamento à força de rapazes e homens para o grupo armado de oposição, o Movimento de Libertação do Povo do Sudão – Norte.

As raparigas e mulheres no Campo de Yida, muitas das quais chegaram ali sozinhas, falam abertamente sobre o medo de serem violadas ou de sofrerem violência sexual.

Halima Ahmed refugiada no Campo de Yida contou à Amnistia Internacional:

“À noite temos sempre medo. Os homens e os rapazes assediam-nos frequentemente. Há vezes a policia consegue correr com eles. Uma vez, a meio da noite, um homem entrou no nosso quarto.”

Apesar dos riscos, a investigadora da Amnistia Internacional, constatou que quem vive nos campos não tem muitas alternativas.

“Enquanto as Forças Armadas Sudanesas continuam a cometer graves violações ao direito internacional humanitário e de direitos humanos nos estados do Cordofão do Sul e do Nilo Azul, no Sudão, as pessoas têm muito pouca escolha a não ser permanecer nos campos,” afirma Khairunissa Dhala.

“Com a estação das chuvas a chegar, o número de refugiados nos campos continua a aumentar, limitando os já escassos recursos. Só nas últimas seis semanas chegaram cerca de 50.000 refugiados e de acordo com relatos há mais a caminho para chegar.”

A Amnistia Internacional apela ainda às Nações Unidas para que acelerem os esforços para aumentar a ajuda humanitária tendo em conta a chegada da estação das chuvas, que fortaleçam os programas de educação e para que assegurem que sejam tomadas medidas para proteger as mulheres e raparigas nos campos de refugiados.

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