O Governo sírio e os grupos armados devem revelar o paradeiro de dezenas de milhares de pessoas raptadas ou vítimas de desaparecimento forçado desde o início do conflito em 2011, insta a Amnistia Internacional no Dia Internacional dos Desaparecidos, que se assinala esta quarta-feira, 30 de agosto.
“Para além da brutalidade e do derramamento de sangue do conflito que decorre na Síria, a situação dos que desapareceram após terem sido detidos pelas autoridades ou pelos grupos armados é uma tragédia que tem sido fortemente ignorada a nível internacional”, lamenta o diretor de Investigação e Advocacy da Amnistia Internacional para a região do Médio Oriente e Norte de África, Philip Luther.
O responsável acrescenta que “dezenas de milhares de famílias tentam desesperadamente saber o que aconteceu aos seus familiares desaparecidos”. Segundo a Rede Síria para os Direitos Humanos (SNHR na sigla inglesa), 75 000 pessoas desapareceram às mãos do Governo sírio desde 2011.
A dor de quem procura os seus entes queridos
“Os dias custam muito a passar”, conta Fadwa Mahmoud ao tentar descrever a agonia de não saber o que aconteceu ao marido e ao filho desde 20 de setembro de 2012. “Vivo na esperança e é ela que me permite continuar e que me dá força para trabalhar para a sua libertação. Nunca perdi a esperança que de os ver regressar. Estou sempre a imaginar o momento em que souber da sua libertação”.
O marido e o filho de Fadwa (na fotografia) desapareceram depois de terem sido levados pelos serviços de informações da Força Aérea num posto de controlo em Damasco. O Governo sírio nega a detenção.
A grande maioria das pessoas desaparecidas na Síria nunca mais foi vista depois de irem para centros de detenção do Governo. Mais de 2 000 pessoas desapareceram após serem levadas por grupos armados da oposição e pelo grupo armado autoproclamado Estado Islâmico.
É o caso dos ativistas pacíficos sírios Razan Zeitouneh, Wael Hamada, Samira Khalil e Nazem Hammadi. Funcionários do Centro para a Documentação de Violações na Síria (VDC na sigla inglesa), uma organização não-governamental que monitoriza violações de direitos humanos, foram raptados por um grupo armado da oposição quando estavam no escritório, em Ghouta Oriental, a 9 de dezembro de 2013. Até hoje as famílias desconhecem o seu paradeiro.
É urgente pôr fim à impunidade
“Há uma total impunidade para com os responsáveis pelos desaparecimentos na Síria”, destaca Philip Luther. “Os desaparecidos devem ser referidos pela comunidade internacional sempre que oportuno, inclusive nas negociações de paz em Genebra e Astana [Cazaquistão], se não as consequências vão ser sentidas durante gerações e as perspetivas de cura e de reconciliação ficam à partida comprometidas”.
O responsável conclui: “A Rússia e os Estados Unidos, de forma particular, devem usar a sua influência para pressionarem, respetivamente, o Governo sírio e os grupos armados da oposição a permitirem o acesso de observadores independentes a locais de detenção, a revelarem os nomes e o paradeiro de todos os que foram privados da sua liberdade e a permitirem que todos os detidos comuniquem com as suas famílias”.