1 Dezembro 2014

Neste Dia Mundial de Luta contra a Sida, a Amnistia Internacional celebra uma heroína dos cuidados de saúde na África do Sul que vive com o Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH, HIV na sigla em inglês) e trabalha para pôr fim ao estigma e salvar vidas na sua comunidade. Aqui se conta a história de Nonhlanhla, testemunhada em blogue pela responsável de campanhas da Amnistia Internacional para a África do Sul Tracy Doig.

Aos 31 anos e com uma energia inesgotável, Nonhlanhla denuncia o estigma prevalecente que as pessoas com o VIH enfrentam na suas comunidades. “Não podemos tratar as pessoas com VIH de maneira diferente da que tratamos todas as outras pessoas”, defende. Encontramo-la numa reunião comunitária sobre saúde materna na pequena cidade de Melmoth, província de KwaZulu-Natal, na África do Sul. A paixão com que Nonhlanhla faz o seu apelo é acolhida com aplausos e gritos de aprovação.

O evento tem como anfitriões a Amnistia Internacional e a organização parceira Justice and Women (JAW). Mais de 100 pessoas, incluindo membros da comunidade de Melmoth, que contribuíram para a investigação da organização de direitos humanos sobre a carência de cuidados pré-natais no início de gestação das mulheres grávidas, juntaram-se para discutir estas questões e ouvir os resultados da pesquisa. Foram também convidados responsáveis governamentais para participarem na discussão das soluções para os problemas detetados no curso da investigação.

Um impacto terrível

Quase 30 por cento das mulheres grávidas na África do Sul vivem com o VIH – isto significa que qualquer demora em receber assistência médica durante a gravidez pode ter um impacto terrível. As mulheres seropositivas (portadoras do vírus responsável pela sida) são cinco vezes mais vulneráveis a morrer durante o parto ou pouco após o parto do que as mulheres não infetadas.

Na reunião em Melmoth, uma mulher expressa as suas preocupações sobre a qualidade dos serviços de aconselhamento sobre VIH/Sida na clínica onde é acompanhada. Nonhlanhla aquiesce: “Estava grávida do meu segundo filho quando descobri que era seropositiva. Fiz os testes na clínica local onde era seguida na minha gravidez e os funcionários foram extremamente rudes comigo. Foi muito desconcertante”, conta Nonhlanhla.

Educar os outros

Só quando Nonhlanhla descobriu a organização Shintsha Health Initiative (SHINE), formada por pessoas que vivem abertamente com o VIH, que apoiam outros igualmente contagiados com o vírus e que lutam contra o estigma da doença, é que esta mulher percebeu que não estava sozinha. Rapidamente começou a trabalhar com a SHINE como educadora de outros, chegando a muitos jovens na sua comunidade.

Fazer chegar informação, e especialmente a mulheres jovens, é algo que apaixona Nonhlanhla. “Eu tinha 17 anos quando tive o meu primeiro filho. Os jovens atualmente não sabem o suficiente sobre sexo e contraceção. E evitam mesmo pedir essa informação e aconselhamento porque os profissionais de cuidados de saúde podem ser muito críticos”, explica.

Realizar um sonho

Hoje em dia, Nonhlanhla está a realizar o seu sonho de chegar a ainda mais pessoas com informação e esperança: é apresentadora de um programa de entrevistas e debate chamado “HIV Talk” num canal de televisão local.

Mas a falta de informação não é o único obstáculo. Nonhlanhla conhece muito bem as dificuldades que as mulheres enfrentam para acederem a cuidados de saúde nas zonas mais remotas do país. “A clínica mais próxima de mim fica a uma hora de distância a pé e o hospital mais próximo está a uma hora de carro. Só há um autocarro por dia para a cidade e as ambulâncias não vêm a estas localidades porque as estradas são muito más”, explica.

As mulheres não têm outra solução se não a de pagar serviços de transporte privado para conseguirem ir a uma clínica ou a um hospital para terem o parto. E isto pode custar-lhes entre 30 e 100 dólares (cerca de 24 a 80 euros) – montante de que a maior parte das famílias não dispõe.

Para aquelas que não têm aquele dinheiro, o parto é feito sem assistência médica, aumentando ainda mais os riscos de morte da mãe e do filho durante ou logo após o nascimento.

Fazer brilhar uma luz

No final do encontro, Nonhlanhla assina a petição da Amnistia Internacional – integrada na campanha Maratona de Cartas 2014 – em prol do acesso das mulheres e raparigas do município de Mkhondo a cuidados de saúde maternal que podem diminuir significativamente a taxa de mortalidade maternal naquela região, onde se registam problemas muito similares aos de Melmoth. A comunidade de Mkhondo regista uma das mais elevadas taxas de VIH/Sida em mulheres grávidas (mais de 46 por cento), sendo atribuídos 25 por cento de mortes maternas às dificuldades que as grávidas enfrentam para obter cuidados de saúde.

“Estou muito entusiasmada com o facto de os grupos das comunidades locais estarem a trabalhar com organizações como a Amnistia Internacional. Temos de chamar a atenção para a questão do VIH/Sida e da saúde materna. Espero que o meu Governo oiça o que estamos a dizer e nos responda com ação”, expressa Nonhlanhla.

 

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