6 Maio 2016

Foi uma das atividades escolhidas para a reta final da campanha Stop Tortura e a aposta não poderia ter sido melhor. O testemunho de Domingos Abrantes, preso político durante o regime salazarista, a inauguração da “bateria Sons da Tortura” e a participação de mais de 150 jovens e professores das seis escolas que integram o projeto Escolas Amigas dos Direitos Humanos fizeram da visita ao Forte de Peniche um momento inesquecível para todos. 

 
Domingos Abrantes que esteve detido quatro vezes na prisão política que funcionou no Forte de Peniche até 1974, contou a sua história para um auditório atento. O dia-a-dia na cadeia, as visitas dos familiares “interrompidas”, a correspondência censurada, os castigos e a cela de isolamento, as fugas do Forte de Peniche mas também o espírito de solidariedade e camaradagem que o ajudaram a sobreviver a situações indiscritíveis. Muitos de nós nos perguntamos porque é que continua a reviver estes momentos e o seu discurso elucida-nos: porque há o dever de falar para que não se esqueça o que aconteceu e o dever de lutar sempre por um mundo melhor. Sempre em nome da liberdade!
 
Já dentro do Forte de Peniche, mostrou aos participantes o “Segredo”, a cela de isolamento onde eram colocados os presos a cumprir castigo (um espaço ínfimo sem janelas, sem luz, sem cama), o “Parlatório” onde os presos recebiam as visitas sem qualquer hipótese de contacto físico, e a sala, dentro da prisão, onde casou com Conceição Matos. Estiveram quase cinco anos sem se poderem ver pois não eram legalmente casados e por isso Conceição não podia visitá-lo. 
 
Depois da visita às celas foi altura para outro momento importante do dia: a inauguração da “bateria Sons da Tortura” que ficará patente no Forte de Peniche até agosto de 2016. Esta “bateria” produz música mas representa também o som do sofrimento das vítimas, já que os instrumentos que foram utilizados para a sua construção são utilizados como instrumentos de tortura em muitos países. Descobre mais em www.sonsdatortura.pt.
 
Os testemunhos de alguns estudantes confirmam que o objetivo foi cumprido: “temos os nossos direitos humanos (…) quer tenhamos feito algo errado, ou cometido um crime, devemos ter um tribunal, um julgamento justo sem qualquer tipo de tortura” diz-nos Francisco Rodrigues da Escola Prof. Reynaldo dos Santos de Vila Franca de Xira. António Palma, da Escola Gama Barros no Cacém acrescenta “A tortura é chegar a um ponto muito baixo. A humanidade nunca devia chegar aí”. 
 
Houve ainda tempo para recordar os 17 ativistas condenados recentemente em Angola por lerem um livro “subversivo”. “devíamos unir-nos mais contra estas injustiças e penso que se nós nos unirmos todos (…) conseguimos deitar abaixo estas injustiças e todos estes crimes que são feitos contra os direitos humanos (…) Quero dizer para eles terem força e para aguentarem isto porque tudo se consegue se persistirmos” diz Mariana da escola de Vila Franca. “Espero que eles tenham força porque acima de tudo é preciso muita força de vontade para conseguirem superar isto (…) eles não fizeram absolutamente nada, simplesmente deram a sua opinião tal como nós estamos a dar a nossa aqui no nosso país… por isso lutem e não desistam” acrescenta Joana Pereira que juntamente com a sua colega Ana Silva, ambas da Escola de Levante da Maia, simbolizaram a restrição da liberdade de expressão colocando fita-cola nas suas bocas. 
 
No mesmo dia foi fundado o Núcleo da Amnistia Internacional em Peniche, numa cerimónia que decorreu também na Fortaleza. 
 
O programa tão rico só foi possível devido ao contributo de muitas pessoas e instituições: de Domingos Abrantes que generosamente partilhou a sua história, da Escola Secundária de Peniche que cedeu gentilmente o seu auditório e em particular do Prof. Fausto Costa que nos acolheu de forma tão calorosa, do Museu da Fortaleza de Peniche pela receção da bateria “Sons da Tortura” e do Presidente do Município, António José Correia, que entusiasticamente se juntou à iniciativa.
A todos o nosso agradecimento!
 
 

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