29 Agosto 2011

 

Um ano após o lançamento da estratégia do governo mexicano para proteger migrantes, a Amnistia Internacional considera que o plano não conseguiu combater os números alarmantes de raptos que têm vitimado os migrantes da América Central.
 
A estratégia, anunciada em Agosto de 2010, prometia uma revisão radical da abordagem do governo à epidemia de raptos e homicídios de migrantes em situação irregular no México. O plano incluía compromissos para assegurar a coordenação efectiva entre as autoridades federais, estatais e municipais para prevenir mais raptos, investigar e punir os responsáveis e garantir assistência aos migrantes vítimas de abusos. 
 
“Apesar do governo afirmar que está a resolver a questão, não existem provas de que a implementação da publicitada estratégia tenha tido impacto”, afirmou Rupert Knox, Investigador da Amnistia Internacional no México. 
 
“O governo mexicano deve disponibilizar um relatório detalhado sobre o impacto da estratégia e informação sobre o processo e condenação de todos os responsáveis por abusos contra migrantes.”
 
A Amnistia Internacional documentou dezenas de casos em que migrantes da América Central, que viajavam pelo México, foram raptados, torturados, violados, mortos ou simplesmente desapareceram. 
 
De acordo com dados publicados pela Comissão Nacional do México para os Direitos Humanos ,  foram raptados 11.000 migrantes em situação irregular durante um período de seis meses em 2010.
 
A 23 de Agosto de 2010, 72 migrantes da América Central e do Sul foram mortos por um gang no município de San Fernando, no estado de Tamaulipas, no norte do país. Este ano, 193 corpos foram encontrados em valas comuns no mesmo município e alguns destes corpos acredita-se que pertencem a migrantes. 
 
No aniversário do massacre de San Fernando, o Gabinete Federal da Procuradoria-Geral anunciou que 82 suspeitos, incluindo oficiais da policia municipal, foram detidos e acusados de ligação à série de crimes de que foi palco Tamaulipas.
 
“É positivo ver as autoridades tornarem pública alguma informação sobre os raptos e homicídios de 193 pessoas em Tamaulipas”, acrescentou Rupert Knox. 
 
“Contudo, estamos preocupados com a falta de informação clara sobre os avanços nas investigações dos abusos dos direitos humanos cometidas contra migrantes durante 2010 e 2011.
 
“O contínuo insucesso na responsabilização da maioria dos culpados ou na prestação de apoio adequado e protecção às vítimas e aos seus familiares é um grande problema.”
 
Em Julho de 2011, os delegados da Amnistia Internacional visitaram abrigos de migrantes e falaram com vítimas de rapto e defensores dos direitos dos migrantes, que frequentemente enfrentam ameaças devido ao seu trabalho. 
 
A 24 de Junho, dezenas de migrantes foram alegadamente raptados enquanto viajavam no tejadilho de um comboio de carga, no sul do México, com destino à fronteira no norte. 
 
De acordo com testemunhas, o condutor parou o comboio à saída da cidade de Aguas Medias, no Estado de Veracruz, e pelo menos 10 homens armados saíram de diversos veículos e forçaram os migrantes a descerem do comboio, gritando “saiam do comboio filhos da puta, despachem-se e entrem nas carrinhas.” 
 
Alguns migrantes conseguiram escapar e fugiram, mas um número desconhecido de pessoas, incluindo mulheres e crianças, foram levadas. As investigações das autoridades estatais e federais não divulgaram o paradeiro e destino das pessoas raptadas nem a identidade dos seus raptores.

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