9 Agosto 2011

 

Um juiz na Cidade da Guatemala condenou, no dia 2 de Agosto, quatro ex-soldados de uma unidade de elite do exército a mais de 6000 anos de prisão pelo seu papel no massacre de 1982, na povoação de Dos Erres, no norte do país.
 
“Esta pena envia a mensagem de que a Guatemala pode estar finalmente a aproximar-se de fazer justiça às centenas de milhares de vítimas das graves violações dos direitos humanos realizadas durante a guerra civil”, afirmou Sebastian Elgueta, Investigador da Amnistia Internacional na América Central. 
 
“O massacre de Dos Erres, em 1982, foi um incidente particularmente devastador, mas esta é apenas a ponta do iceberg e ainda estão por resolver inúmeros crimes contra a humanidade e outras violações graves na Guatemala, incluindo alguns casos que ainda não foram abertos.”
 
Uma unidade do exército de elite da Guatemala entrou em Dos Erres, a 5 de Dezembro de 1982, e torturou e matou cerca de 250 homens, mulheres e crianças durante três dias, antes de arrasar a aldeia. Grande parte das mulheres e raparigas foram violadas e inúmeros habitantes, incluindo crianças, foram atirados para o poço da vila. 
 
Os ex-soldados – Manuel Pop Sun, Reyes Collin Gualip, Daniel Martínez e Lieutenant Carlos Carías – foram condenados a 30 anos de prisão por cada homicídio e 30 anos adicionais por cometerem crimes contra a humanidade. A decisão é muito significativa tendo em conta que, segundo a lei da Guatemala, podem ser condenados no máximo a uma pena de prisão de 50 anos. 
 
Uma Comissão das Nações Unidas descobriu que durante o conflito armado da Guatemala, que durou 36 anos, cerca de 200.000 pessoas foram mortas ou desapareceram e as forças de segurança cometeram mais de 600 massacres, maioritariamente em comunidades rurais e indígenas. 
 
Em 1994 foi aberta uma investigação ao massacre de Dos Erres, mas dezenas de apelos apresentados pela defesa levaram à manutenção do caso nos tribunais durante anos.
 
Sobreviventes do massacre testemunharam em tribunal e disseram à Amnistia Internacional que um oficial, numa base militar local, ordenou uma operação para encobrir a violação de uma mulher por outro membro do exército. Os ex-soldados continuam a defender a sua inocência. 
 
“Apesar desta decisão ser um passo em frente na luta contra a impunidade na Guatemala, os soldados não cometeram estes crimes por livre iniciativa e as autoridades devem levar à justiça todos os culpados, incluindo as altas patentes que planearam e ordenaram estes crimes”, afirmou Sebastian Elgueta. 
 
Durante o último ano, outro ex-soldado que participou no massacre de Dos Erres foi preso nos Estados Unidos. Gilberto Jordán confessou às autoridades norte-americanas que participou no massacre e que atirou um bebé para o poço da cidade. Jordán deve ser deportado para a Guatemala depois de cumprir 10 anos de sentença por crimes relacionados com imigração. 
 
As autoridades da Guatemala prenderam o antigo general, Héctor Mario López Fuentes, em Junho. Fuentes é acusado de planear e ordenar genocídio e outros crimes contra a humanidade cometidos contra comunidades indígenas Maias em 1982-1983.
 
Está em curso outro julgamento num tribunal espanhol contra o antigo Presidente da Guatemala, Efraín Ríos Montt, por genocídio e outros abusos graves, cometidos como parte de uma política de “terra queimada” destinada a combater grupos armados da oposição. 

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