19 Janeiro 2022

Uma sondagem da YouGov revela que os líderes de pequenas empresas estão insatisfeitos com o rastreamento da publicidade resultante da monitorização dos utilizadores (tracking-based advertising) por parte da Google e Facebook.  

Os líderes de pequenas empresas em França e na Alemanha querem alternativas à tracking-based advertising do Facebook e da Google, tal como demonstra uma nova investigação solicitada pela Amnistia Internacional e pela Global Witness.

No período antecedente a uma votação-chave da UE, que decorre esta semana e pretende impor regras mais rigorosas sobre a tracking-based advertising, esta sondagem a líderes de pequenas e médias empresas nos dois países demonstrou que 75% acreditam que a tracking-based advertising compromete a privacidade das pessoas e outros direitos humanos.

Ainda assim, 69% dos proprietários de empresas que foram inquiridos constatou que, embora se sentisse desconfortável com a influência do Facebook e da Google, considerava que não tinha outra opção senão fazer publicidade com elas devido ao seu domínio da indústria.

Os resultados do inquérito, retirados de uma sondagem a mais de 600 pessoas conduzida pela YouGov, antecedem a votação em plenário desta semana pelo Parlamento Europeu sobre a Lei dos Serviços Digitais, com eurodeputados a ponderarem normas mais estritas para a tracking-based advertising.

“A monitorização constante e incisiva das nossas vidas para visar a população com anúncios direcionados é inaceitável, aniquila o nosso direito à privacidade e alimenta a discriminação”, refere Claudia Prettner, consultora legal e de políticas na Amnesty Tech.

“Estes resultados demonstram que os empresários estão extremamente desconfortáveis com a abordagem à tracking-based advertising que os seus clientes atualmente enfrentam. A votação plenária desta semana sobre a Lei dos Serviços Digitais representa uma oportunidade fundamental para os eurodeputados defenderem os direitos humanos e tomarem medidas para abordar as práticas publicitárias que dependem de vigilância intrusiva.”

“A monitorização constante e incisiva das nossas vidas para visar a população com anúncios direcionados é inaceitável, aniquila o nosso direito à privacidade e alimenta a discriminação”

Claudia Prettner

A necessidade de soluções alternativas

Antes da votação-chave dos próximos dias, o Facebook e outros líderes da indústria sublinharam a sua convicção de que a publicidade direcionada é necessária para a sobrevivência das pequenas e médias empresas europeias. 

No entanto, o inquérito revelou que 79% dos inquiridos sentia que as grandes plataformas online – como o Facebook e a Google – deveriam enfrentar uma maior regulamentação sobre a forma como utilizam os dados pessoais para visar os utilizadores enquanto fazem publicidade online.

O inquérito também indicou que os empresários acreditavam que os seus clientes não se sentiam confortáveis ao serem alvo de anúncios online que se fundamentavam na sua raça ou etnia (62%), na sua orientação sexual (66%), em informações sobre a sua saúde (67%), nas suas visões religiosas (65%), nas suas opiniões políticas (65%) ou em acontecimentos pessoais da sua vida (62%).

“Tem feito parte das práticas de lobby do Facebook e da Google utilizar a dependência das pequenas empresas relativamente aos seus serviços como uma forma de justificar as suas práticas invasivas de caraterização de perfis e de publicidade direcionada para os utilizadores”, sublinha Nienke Palstra, ativista sénior sobre Ameaças Digitais à Democracia na Global Witness.

“De facto, a nossa sondagem mostra que os pequenos líderes empresariais em França e na Alemanha estão profundamente reticentes quanto às suas práticas de tecnologia de anúncios – mas não veem uma alternativa. Dado o apoio esmagador das pequenas empresas à regulamentação das gigantes da tecnologia publicitária, existem todos os motivos para os eurodeputados irem mais longe na Lei dos Serviços Digitais e protegerem os indivíduos da publicidade de vigilância.”

As últimas conclusões sustentam uma anterior sondagem da Global Witness, realizada em fevereiro de 2021, que investigou as atitudes dos utilizadores das redes sociais em França e na Alemanha sobre a publicidade direcionada. Esses resultados revelaram, na sua esmagadora maioria, que as pessoas estavam profundamente desconfortáveis com as formas como eram visadas diariamente pelos anunciantes, desde serem categorizadas pelo seu rendimento ou pelas suas visões religiosas até aos eventos da sua vida como uma gravidez, luto ou doença.

 

Nota para editores: O inquérito foi realizado a 617 líderes de pequenas e médias empresas em França e na Alemanha. O trabalho de campo foi desenvolvido entre 4 e 7 de janeiro de 2022, e foi efetuado online.

 

Artigos Relacionados